"Não sou medidor de ondas.... sou apenas quem as surfa" - Rodrigo Koxa

Uma entrevista com o potêncial recordista mundial da maior onda surfada de todos os tempos

 

O brasileiro Rodrigo Koxa superou-se a si próprio no início de Novembro 2017. Num swell histórico do dia 08 de Novembro que invadiu a Praia do Norte da Nazaré, considerada já a “Meca” das ondas gigantes, o experiente surfista de 38 anos dropou (com a ajuda de um jet ski - "tow in") uma autêntica montanha de água com tamanho estimado 85-90 pés (25 a 27 metros).

 

Surftotal: Rodrigo tudo bem? Em primeiro lugar gostaríamos de dizer que estamos bastante impressionados com as tuas performances na Nazaré! Quando foi a tua primeira vez nas ondas da Nazaré?
 
Rodrigo Koxa: Eu também gostaria de agradecer à Surftotal pela oportunidade da entrevista! Sempre acompanhei o site e as redes sociais de vocês e para mim é uma honra poder participar agora.

Em resposta à vossa pergunta, minha primeira vez na Nazaré foi em Outubro de 2013, durante o big swell daquele ano e desde lá, não perdi nenhuma temporada até hoje. Este ano completei a minha quinta temporada na Nazaré.
 
 
Voltando um pouco atrás e para percebermos quem é Rodrigo Koxa, a sua ascensão  no surf e tow in de ondas grandes teve uma origem, como ela surgiu?
 
Desde os meus 15 anos de idade eu me dedico ao surf de ondas grandes. Foi numa viagem para Puerto Escondido (México), em 1995, que presenciei um swell de 15 pés pela primeira vez na minha vida, e aquela cena que me deixou encantado. No dia seguinte ao swell de 15 pés, eu acabei surfando algumas boas esquerdas com o tamanho de uns de 10 pés, que me fizeram voltar para o Brasil com o objetivo de me tornar surfista profissional de ondas grandes.Como no Brasil não é fácil encontrar condições para me especializar nesta modalidade, passei a viajar muito para ter essa imersão no cenário das ondas grandes...Todos os anos eu voltei para Puerto Escondido naquela época, onde passava de 2 a 3 meses no local. Morei também no Hawaii, mas é no Tahiti que tenho uma história forte. A Polinésia Francesa me concedeu uma família Tahitiana. Sou muito grato e tenho carinho enorme pela família que me adotou.
E foi em Teahupoo que comecei mesmo no Tow-in, junto de um parceiro brasileiro Vitor Faria. Lá nós compramos nosso primeiro jet para surfar Teahupoo, muito bem apoiados pelos nossos ídolos, de renome, o Garrett Mcnamara e Kealii Mamala em 2004.

O mundo do surf tem dessas coisas, aumenta nossas famílias pelo mundo. Esse intercâmbio de amor e aprendizagem é o maior presente desse nosso desporto.
 
 
*Rodrigo Koxa quando foi nomeado em 2011 para a onda maior do ano surfada no Chile


O fenómeno da Nazaré acabou por entrar no teu caminho enquanto big wave rider quando e porquê?

Em 2010, surfei uma onda bem significativa no Chile, que acabou por ser finalista pela “Maior Onda” no XXL 2011. Neste evento, quem estava a concorrer comigo e venceu o XXL foi o francês Benjamin Sanches, com uma onda surfada em Bellharra, no início 2011.  
No mesmo ano de 2011, mas durante a temporada que se encerraria em 2012, o ícone Garrett Mcnamara chocou a todos nós com onda de Nazaré, que venceu com a “Maior Onda” o XXL 2012, além de ter entrado para o livro dos recordes “Guinness Book”.
Naquele ano eu também fui finalista do XXL novamente, mas com com o (Pior caldo do ano em Teahupoo) e pude acompanhar a vitória do Garret ao vivo na Califórnia.
Me instigou tanto assistir o potencial daquela onda que, naquele momento eu precisava conhecer Nazaré…(risos)…

Como o português António Silva também participou da final do Oscar junto ao Garret Macnamara eu resolvi enviar uma solicitação de amizade por meio do facebook para o António, e me tornar amigo dele e do seu parceiro, Ramon.  Desta forma nos tornamos amigos, e eu já esperava me juntar a eles numa próxima oportunidade de swell.
Monitorizei os mapas até chegar outubro de 2013, quando alinhamos esse encontro entre eu e o António, para finalmente conhecer pessoalmente Nazaré, Ramon, e foi quando conheci também meu parceiro atual, no tow in, o português Sérgio Cosme.

Desde meu primeiro contato com Portugal recebi um acolhimento sensacional dos amigos portugueses e com isso, meu amor por Portugal e principalmente pela Nazaré só se faz crescer anualmente.

 


 

                 "O mundo do surf tem dessas coisas, aumenta nossas famílias pelo mundo.

                                                                                 .............

          Esse intercâmbio de amor e aprendizagem é o maior presente deste nosso desporto."

 

 

*Rodrigo Koxa durante a onda em que quase perdeu a vida da Nazaré


 
O que se fala e se comenta nos bastidores, no circulo dos bigwave riders sobre a Nazaré?…E o seu trauma com o local?
 
Cada um pode falar das experiências que teve, eu pelas minhas, aprendi a respeitar o fenómeno do Canhão. Acredito que quando vi os primeiros vídeos da equipe do Garrett, com Andrew Cotton, Hugo Vau e Kealii Mamala, eu pensava que eles descobriram\desbravaram uma onda gigante nova com um potencial incrível, mas não achava que fosse realmente necessária toda aquela logística de 3 jet skis fazendo apoio de resgate, de todos os membros da equipe equipados com rádios conectados a um spoter em cima do farol dando as coordenadas, etc... Pensava que aquela seria uma forma de atrair grandes patrocinadores, mostrando um projeto parecido a fórmula 1, mas no surf, com galpões e grandes equipes.
No ano seguinte, entretanto, durante o big swell de 11 de dezembro de 2014, toda aquela estrutura fez sentido para mim. Ali eu senti minha vida por um triz, e pela primeira vez na minha vida, pensei que poderia não voltar para casa. Isso ocorreu logo após eu pegar uma bomba gigante para esquerda, mas, ao sair da mesma, eu não fui resgatado e acabei levando a série toda na minha cabeça.
Eu havia surfado no primeiro pico, local este mapeado por nós surfistas como a onda que quebra em frente ao farol. Daí por diante foram muitas rezas e fé que me fortaleceram até eu ser atingido por uma maravilhosa série de oeste para me jogar para a praia do norte e salvar a minha vida, saindo da frente daquelas pedras tenebrosas.
Este foi um swell era de NNW (Norte-Noroeste)...  

Quando voltei para o Brasil eu estava totalmente abalado psicologicamente, vivenciando um trauma que eu jamais imaginaria viver e fui diagnosticado com Transtorno de Stress Pós Traumático. Sonhava constantemente que eu estava nas pedras com enormes... No meu blog eu relato bastante dessa história... rodrigokoxa.com
 
 
Podemos identificá-la como sendo o quê? Ou melhor qual a frase que define hoje em dia a Nazaré?
 
Nazaré hoje é a bola da vez, é a onda gigante que eu desenhava no caderno da escola... Posso dizer que Nazaré mudou o cenário do BIG SURF... a onda para se superar!  ... Por isso meu mantra em Nazare é GoBIGGER.

 

"Quando voltei para o Brasil eu estava totalmente abalado psicologicamente,

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vivenciando um trauma que eu jamais imaginaria viver

                     ............

fui diagnosticado com Transtorno de Stress Pós Traumático."

 

 

Rodrigo durante a onda que Paulo Vinicius diz ter mais de 100 pés
 
Antes de irmos à onda mais badalada do momento e que pode significar um novo recorde mundial, de maior onda surfada, que equipamento usas para surfar a Nazaré? Que pranchas? As suas características e quem é o teu par na condução da mota de água?
 
Para remar tenho gunzeiras(Guns) Akiwas e Silver Surf 11´3, 10,6,  9´4.
Mas para tow-in uso uma prancha 5´11 com 10 kilos e meio, da SPO, desenvolvida por Hugo Cartaxana.
Minha equipe hoje é completa com vários jet-skis como manda o figurino...
Meu piloto principal é meu amigo irmão português Sérgio Cosme.
No jet ski de resgate de apoio, no dia 08 de Novembro, estava o também meu amigo português, António Silva.
E no apoio do apoio, estavam ainda, meu amigo Californiano David Langer e a Portuguesa Joana Andrade. Minha equipe é composta praticamente por meus irmãos Portugueses.
 
Também tens feito surf à remada? Qual a que te provoca mais adrenalina? Tow in ou surf à remada?
 
Sim, sempre fiz tow-in e remada... No dia a dia, o mais comum é a remada, mas quando chegam esses swells enormes e históricos na Nazaré, o tow-in é a única forma para vivenciarmos a força da natureza.
Com meu histórico vivido em 2014, eu precisei de 2 anos para elaborar o ocorrido e melhorar o meu quadro com ajuda de psicólogos, e acabei focando muito dos meus treinos no tow-in que era onde eu buscava me superar de vez, uma vez que deixei minha vida presa a aquele episódio.
 
Amo o oceano por completo, seja remando de guns, pegando tubos, surfando as marolas... minha vida é dentro da água.
 

*Rodrigo Koxa na Nazaré a apanhar umas bombas à remada

 

"Amo o oceano por completo, seja remando de guns, pegando tubos, surfando as marolas

                                     .............     

                         minha vida é dentro da água."


 
Vamos agora à onda que surfaste e que já foi calculada em como tendo mais de 100 pés. Como foi essa onda? Esse dia havia muitas ondas dessa dimensão? Quando entraste nela percebeste o seu tamanho?
 
Eu vinha desejando há muito tempo uma onda realmente significativa em Nazaré, tanto que embarquei em outubro de 2017 para Portugal, logo após encerrar um trabalho de coach, onde trabalhei meu objetivo de surfar a maior onda da minha vida.
Importante para mim foi a noite anterior do dia gigante. Eu estava deitado na cama a ganhar energia e visualizar a minha sessão do dia seguinte e uma mensagem não saía da minha cabeça, como se eu estivesse falando comigo mesmo: “DESCE RETO!”. Eu repetia “desce reto” inúmeras vezes, como um mantra, mas eu não sabia o que significava.
Eu chegava a responder, sim vou descer.. mas não conseguia processar o que seria aquilo...
No dia gigante, eu estava já na corda com o Serginho conduzindo o jet, quando ele viu a série que vinha do fundo... Ele acelerou o jet ao máximo em direção ao outside e percebeu que a terceira onda parecia ser maior...
Ao nos depararmos com a montanha de água aumentando cada vez mais na nossa frente, o Serginho gritou: “KOXA é BOMBA!!!! Queres ir¿”.... E eu só respondi: “Go!”
Quando soltei a corda, já estávamos em alta velocidade, e pensei que quando a prancha descesse mesmo, eu ainda ganharia mais velocidade e ficaria muito mais rápida a descida, por isso, comecei usando o protocolo de segurança. Usei a borda da prancha para descer a onda ir mais de lado que ajuda muito para absorver os bumps, mas a onda se mostrava muito triangulo, e então, em segundos pensei: “Se eu continuar usando a borda, vou fugir para o rabo da onda, e logo veio na minha cabeça, eu deveria é DESCER RETO...”.
Foi o momento mais assustador da onda, pois eu quase cai na hora que mudei essa trajetória e passei a descer reto totalmente com o fundo da prancha em contato com a água. De repente a sombra da onda estava toda cima de mim, e eu pude ouvir o barulho, sentir a pressão da prancha, e a velocidade crescer...  Naquele momento, Eu já queria sair logo dali...(risos)


Completar aquele drop foi a melhor sensação que já senti em toda minha vida dentro do mar. Só gratidão.   


*Rodrigo Koxa na maior onda da sua vida e provavelmente o próximo recorde do Guiness. Click por Hélio Antonio

 

 "Como eu como já venho dizendo, não sou medidor de ondas,

                          .............

                    sou apenas quem as surfa."

 


Logo após a surfada e quando viste as filmagens apercebeste te que poderias ter batido o recorde mundial da maior onda surfada?
 
Chegamos ao local da Jet Sessions que hoje o Sérgio Cosme administra com excelência, e os fotógrafos e cineastas começaram a aparecer. Eu estava molhado ainda, mas ficava em choque com as imagens que nos iam mostrando. Antes de ver as imagens eu já sabia que era a maior onda da minha vida e com as imagens então, percebi que havia feito algo muito especial.

Naqueles momentos eu só agradeci a Deus e toda a nossa equipe!!!
 
A semana passada um surfista de nome Paulo Vinicius usou um método para medir a onda que tu surfaste e diz ter mais de 100 pés. Queres comentar?
 
Sim, ele me mostrou a medição que fez... Acho muito legal a especulação da galera, vejo como uma forma de torcida e agradeço esta vibração. Mas, como eu como já venho dizendo, não sou medidor de ondas, sou apenas quem as surfa. Nas matérias que participo, sempre falo que a medição oficial só é feita pela WSL quando premia o vencedor da maior onda do ano, na noite do oscar pelo XXL BIG WAVE AWARDS, e que se assim for a minha onda a vencedora, teremos uma medição com tal credibilidade para ser recorde ou não. Estamos na torcida para que sim, mas eles são os responsáveis por estes dados.  
 
Houve reações da wsl? Para alem da tua onda estar nomeada para o prémio de maior do ano?
 
Que eu saiba não. Tudo ainda é somente especulação...
A janela de espera ainda está aberta para novas ondas gigantes poderem ser surfadas até o dia que se encerra o prazo de inscrições, em 20 de março de 2018. Até lá, muita coisa pode acontecer.


 Rodrigo Koxa nas luzes da ribalta.

 

  "O Serginho gritou: “KOXA é BOMBA!!!! Queres ir¿”.

 

                  .........

 

               E eu só respondi: “Go!”

 

 

Mudando um pouco de tema e porque estamos quase a finalizar, qual ou quais os teus maiores desafios na vida?
 
Busco todos os dias tentar ser uma pessoa melhor, isso é motivacional e muito desafiador para mim, pois o nosso maior inimigo é nossa mente, e hoje respeito muito o meu autoconhecimento, que pode me fazer ir além, ou também me fazer recuar em instantes. Cada um tem seu tempo, busco não me comparar aos outros e valorizo tudo que a vida me oferece assim, na velocidade presente.
Espero continuar sempre fazendo o que amo. Se o amor mudar, eu mudo também.
 
Uma curiosidade, o teu sobrenome, “Koxa”,  vem de onde?
 
Kkkk(risos)…. Não é sobrenome! É um apelido de criança.
Meu nome completo é Rodrigo Augusto do Espírito Santo, e quando eu competia, era esquisito, porque no Brasil existe também o estado do Espirito Santo, onde quem nasce lá é conhecido como capixaba.
Então, durante as competições e matérias sobre os campeonatos eu ouvia direto, “o capixaba Rodrigo Augusto...”, e isso me incomodavam porque eu sou paulista, de Guarujá. Então, como algumas pessoas me chamavam de Koxinha na praia, porque eu surfava e jogava futevolei direto, e ficava cheio de areia, como uma “coxinha”, que é uma comida brasileira feita com massa empanada e frita em óleo quente, eu decido usar este apelido como meu nome, mas me dei de presente esse up grade para Koxa, (risos)... E ficou!
 
 
Alguma mensagem a deixar?
 
Mensagem que finalizo minhas palestras atuais.
 
“Se você acredita em alguma coisa, vai em frente e não desperdice muito tempo pensando. Sair da Zona de conforto pode ser surpreendente e é quando tudo passa a fazer sentido.” Rodrigo Koxa

Rodrigo durante as suas palestras

 

* agradecimentos a leandro Sieves

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