Nascido no Porto, Abílio Pinto já leva quase 40 anos de ligação ao surf, com praticante, como shaper e não só. Hoje em dia divide-se entre a Madeira e a cidade do Porto, e este é o seu testemunho:


Vou falar um pouco sobre o surf da área metropolitana do Porto, local onde nasci.  

Comecei a deslizar sobre as ondas no verão de 1977, tinha eu 10 anos, o mais novo de 4 irmãos,  tendo como referência o Zé Pinto que era nosso mentor tanto a surfar como a fazer pranchas. Foi com ele que dei os primeiros passos a surfar e mais tarde como shaper.

Com a segunda prancha que ele fez, ainda em madeira com a parte interior em esferovite, lá me fiz eu a água com ela e deslizei pela primeira vez numa onda. Teve um impacto tão grande na minha vida que fez com que eu ficasse ligado ao surf e ao mar até aos dias de hoje. 38 anos a surfar, 30 anos de carreira como shaper, e também dando cursos profissionais de hand shape: modo mais tradicional de fazer pranchas manualmente; 25 anos de escola de surf iniciação; 20 anos de eventos mundiais e europeus com a ASP (agora WSL) e vários eventos nacionais.

De momento encontro-me a viver entre a Madeira e o Porto. Todos os anos na altura do verão estou na invicta a dar cursos de shape e a shapear pranchas, estou a fazer um quiver de pranchas para o António Rodrigues, grande atleta e big rider da nova geração do Porto. Estas pranchas fazem parte e serão o momento alto dos meus 30 anos de carreira como shaper, este quiver vai ser matéria na Surftotal assim que possível.


O António é filho de um grande amigo meu, Alexandro Rodrigues, que sempre me acompanhou e acompanha dentro de água, mesmo nos dias mais pesados nunca vacila, se der para entrar está lá comigo.  Grandes surfadas na ilha em Salgueiros e na Madeira no Jardim do Mar, só os dois muitas vezes. O António tem esse espírito que já nasceu com ele, mas mais do que isso tem o pai que viaja e acompanha-o para quase todo lado. É a segunda temporada que o António faz comigo na Madeira e o surf dele fala por si, viajem para longe ou para perto mas vão: temos as ilhas, a  Madeira, Açores, Canárias e toda a Europa com ondas magníficas para quem não tem tantas possibilidades económicas, e quem tem pode explorar o resto do planeta, sítios não faltam.


Já vão com as academias de surf e são acompanhados por treinadores - muitos de vocês -,  por isso viajem dentro da vossa capacidade para ver mais à frente. Vai fazer-vos crescer no desporto mas também como seres humanos. Todos os grandes atletas passam pela mesma escola: viajar e a surfar com os melhores, para um dia serem tão bons ou melhores do que eles. Isto é para todos, tanto os que aspiram a fazer carreira com o surf, como os que simplesmente querem ser free surfers.  Aos nosso jovens digo: se sentem que estão a surfar há tempo demais na mesma praia, vão para uma que tenha boas ondas e melhor nível dentro de água nem que seja uma praia relativamente perto, mas é o primeiro passo para se libertarem do conforto da vossa praia. Lá aprenderam as bases do surf, ir para zonas onde as ondas e os surfers são melhores só aprendem, mesmo nos dias que apanham poucas ondas devido ao nível de surf ser maior que o vosso, isso é crescer e aprender. E claro que vão continuar a crescer também na vossa praia não estou a por isso de parte.


E aos organizadores de eventos de surf nacionais e internacionais do grande Porto:  continuem a fazer o surf crescer trazendo cá os Pros, promovendo o desporto, a nossa cultura, e elevando o surf dos nosso atletas fazendo-os competir com os melhores, e motivá-los a surfar mais e a viajar mais, pois a partilha de momentos e criando laços de amizade com os atletas estrangeiros leva-os a sonhar ainda mais alto fazendo com que tenham vontade de os visitar nos seus países e nas suas ondas.

Eu referi-me nesta rubrica ao António não só por eu ser um dos seus Shapers e amigo mas eu falo para todos os talentos que eu vejo tanto dentro de água,  como nas redes sociais com vídeos e fotos de excelência. Fiquem bem, respeito dentro e fora de água.

Abílio Pinto 'Billy'