ETIQUETA E EDUCAÇÃO DEVEM SER ACRESCENTADAS NO LIVRO DE REGRAS DO SURF terça-feira, 21 fevereiro 2017 10:00

ETIQUETA E EDUCAÇÃO DEVEM SER ACRESCENTADAS NO LIVRO DE REGRAS DO SURF

Quando o Surf caminha para o oposto daquilo que é a sua essência… 

 

Tenho 50 anos de idade e já pratico surf há 34. Muitas águas e muitos oceanos passaram pelas minhas pranchas. Já conto com inúmeras viagens de surf por esse mundo fora e, graças a Deus, o meu surf continua firme e forte, praticando assiduamente.

 

É com alguma perplexidade e desencanto que olho para a forma como o surf tem evoluído. Refiro-me a  uma evolução não no sentido filosófico ou político que nos remete para um aperfeiçoamento ou para um melhoramento gradual.

 

Pelo contrário. Considero que o surf hoje em dia caminha a passos largos para o oposto daquilo que é a sua essência. Vai longe o tempo em que um pequeno grupo de amigos em Ribeira d’Ilhas, nos Coxos ou na Costa de Caparica partilhavam ondas juntos com imenso prazer, num ambiente de pura diversão e sobretudo respeito mútuo.

 

Recordo-me de inúmeras surfadas com os meus amigos, o Frei Tuck, João Antunes, “Bubas", Miguel Fortes, Michel, “Giló, Zezinho e muitos outros com quem hoje em dia, felizmente, ainda me cruzo dentro de água e com quem desfrutei o prazer das ondas chegando ao final do dia com um sorriso de orelha a orelha sem qualquer pinga de stress, num espírito totalmente diferente dos dias de hoje.

 

É que surfar hoje em dia é um stress, e nem sempre é uma boa experiência. Não é culpa do mar, não é culpa do vento e também não é culpa do número de praticantes e da massificação natural do surf.

 

É, quanto a mim, um problema de civismo respeito e educação. Hoje em dia somos muitos e temos, portanto, que saber lidar inteligentemente com isso a fim de manter o verdadeiro espirito de diversão que caracteriza o princípio do surf. 

 

Sobre este tema li recentemente um artigo que dizia: ”Atitudes de respeito com o próximo partem de casa, são lições caseiras. Esse respeito que devemos ter com o próximo deve ser transmitido pelos pais e responsáveis, educando os seus filhos e alunos para a vida em comunidade…”

 

Cabe aos treinadores de surf, primeiro que tudo, em vez de instigar os alunos a apanhar um número recorde de ondas em 15 minutos, ficando cegos nesse objectivo, ensinar as regras de boa educação e cordialidade, sobretudo para com os mais velhos.

 

Não deixa de ser curioso que em algumas civilizações os mais velhos, os veteranos, são tratados com mais respeito e dignidade. Afinal foram eles que construíram aquelas sociedades e abriram as portas para os mais jovens. 

 

Lembro-me claramente que quando comecei a surfar em 1983 tínhamos uma espécie de admiração pelos surfistas mais velhos e os respeitávamos, precisamente, pela experiência que tinham. Aprendíamos observando os mais velhos e em contrapartida recebíamos também o seu respeito.  

 

Tenho verificado hoje em dia alguns surfistas dentro de água aos gritos, com atitudes agressivas que em nada dignificam o surf, a dar a volta e inclusivamente dropinar qualquer um, sem ao menos tentar saber quem é quem dentro d'água e sem qualquer conhecimento dos primórdios do desporto em Portugal. Nunca ouviram falar ou pesquisaram a respeito de lendas actualmente menos mediáticas do surf português, como o João Boavida, o Paulo Inocentes, o Luís Narciso, o Michel Amaro da Ericeira, os Vieiras, o Lima e muitos outros a quem se deve respeito e cordialidade.

 

Naturalmente, cada vez mais vais encontrar na água senhores grisalhos com mais de 40 ou 50 anos,  provavelmente não tão habilidosos como tu, mas que encontram no surf a sua diversão. O mais certo é já cá andarem ainda tu andavas na escola primária ou nem tinhas nascido. Por isso, lembra-te que os deves respeitar, que te deves dirigir a eles de forma educada seja em que circustância for.

 

Um abraço e boas ondas. 

 

Texto: João Vilela

 

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