Michel Bourez numa onda que espelha bem as condições no primeiro dia de competição em Peniche. Michel Bourez numa onda que espelha bem as condições no primeiro dia de competição em Peniche. Foto: Poullenot/WSL sexta-feira, 10 novembro 2017 16:20

A culpa é da vídeo-análise

Por que raio não houve um 10 no CT de Peniche? 

 

Agora que já passaram algumas semanas sobre a realização do MEO Rip Curl Pro Portugal e o “buzz” já esfumou quase que por completo, achámos que estava na hora de pôr o dedo na ferida. Bem, a questão que temos para digerirem durante o fim de semana prende-se com o facto de nenhuma onda do CT português ter recebido uma nota 10. 

 

O quê? Verdade. Ao longo dos quatro dias de competição saíram vários setes, muitos oitos e até noves q.b. No entanto, aquele 10 que os fãs tanto queriam ver e sentir, como que a dar o aval final na qualidade da prova lusa, esse, bem, meus amigos, nunca chegou a ser atribuído nem viu a luz do dia. Nem durante os dois primeiros dias de competição - que, como se sabe, proporcionaram ondas de destaque num fim de semana que fica para a memória - se viu uma nota 10 ser rabiscada. 

 

Na praia, por várias ocasiões, como que a sentir a injustiça, o público assobiou, esbracejou e “exigiu” por várias vezes a nota máxima ao juízes de serviço. Num tom sarcástico, ao mais puro estilo treinador de bancada, escutou-se algures: “Os 9 são os novos 10!"

 

 

Entre a elite, aqui e ali também se viam alguns “fogos” e críticas mais subtis à World Surf League. No Heat 7 do Round 1, por exemplo, Jack Freestone encontrou uma longa secção no raso banco de areia dos Supertubos e, para espanto de tudo e todos, contra todas as probabilidades, conseguiu sair. O público vibrou e gostou! Garantidamente, 50% das pessoas presentes na praia (ou mais!) já não estavam à espera que ele fosse tão bem sucedido. 

 

Recebeu 9 pontos pelo esforço… talvez por a saída não ter sido a mais “clean”. No entanto, aquela secção, ui, minha nossa. O próprio australiano ficou surpreendido. Tão surpreendido que mais tarde publicou o vídeo e questionou os fãs e amigos no Instagram: “O que é preciso fazer para ter um 10?”

 

Como seria de esperar, as respostas sucederam-se em catadupa e, entre os cerca de 300 comentários que recebeu, alguns destacam-se e merecem até uma transcrição: 

Mitch Coleborn, ex-atleta do CT, deu ao amigo um conselho simples: “Tens que ser mais exuberante no “claim”!”;

Caio Ibelli, por sua vez, escreveu que “Depois disso não sei bem. Talvez os 10 já não existam mais, talvez seja uma invenção das nossas cabeças”;

O tricampeão mundial Mick Fanning, que sempre primou pela humildade, assegurou a sentença final: “Eu dei-te um 10 amigo!”

 

 

É certo que aquele primeiro dia de prova em Supertubos contou com muitas ondas a fechar, mas… pelo meio, apareciam umas pérolas que faziam toda a diferença. Da areia a análise era simples. Era imediata. O desafio era enorme e aqueles homens estavam a corresponder (ou pelo menos a tentar). 

 

Se uma nota 10 não foi lançada naquele sábado a culpa só pode ser da vídeo-análise. Só isso pode explicar a ausência de uma nota 10. Para que se saiba, a vídeo-análise é o suporte em vídeo a que os juízes têm acesso no caso de dúvida, de forma a ajuizarem melhor a nota que vão atribuir a determinada onda. Obviamente, ela nem sempre é usada, mas existe e é consultada para acrescentar mais verdade desportiva ao Surf - e ainda bem!

 

No entanto, em Peniche, ela acabou por ser inimiga do espetáculo, uma espécie de pau de dois bicos, retardando a saída de uma nota 10 heat após heat e que, no final, nunca se veio a materializar. É que, entenda-se, após uma minuciosa vídeo-análise, é fácil descobrir erros, dar por falhas, ver que afinal “aquele tubão” que parecia impossível não foi tão profundo, que o "nose" da prancha de surf de X ou Y não chegou a desaparecer por completo, etc. Foi como se o êxtase do momento fosse penalizado em algumas décimas. 

 

 

O evento português junta-se assim às etapas do Rio de Janeiro, Fiji, Trestles e Hossegor que esta temporada também não receberam qualquer nota 10. Já Margaret River, Bells Beach e o Taiti viram, cada uma, um 10. A Gold Coast, logo a abrir o ano, registou dois 10, enquanto Jeffreys Bay, a meio do ano, bateu todos os recordes com o registo de sete notas 10 - uma delas da autoria do português Frederico Morais. Wow!

 

Para evitar que isto volte a suceder, e para que se vejam alguns 10 serem lançados em Supertubos, sugerimos que para o ano a vídeo-análise fique esquecida na gaveta do responsável da WSL. Que vos parece? 

 

Entretanto, aproveitamos para vos deixar com as melhores 10 ondas do CT de Peniche em 2017: 

 

Gabriel Medina (Brasil) - 9.77

Sebastian Zietz (Havai) - 9.70

Kolohe Andino (EUA) - 9.63

Josh Kerr (Austrália) - 9.57

Julian Wilson (Austrália) - 9.43

Connor O’Leary (Austrália) - 9.40

Vasco Ribeiro (Portugal) - 9.37

Adriano de Souza (Brasil) - 9.27

Kolohe Andino (EUA) - 9.07

Mick Fanning (Austrália) - 9.00 

 

Itens relacionados

Perfil em destaque

Scroll To Top