"O Peru é um mendigo sentado num banco de ouro"

Uma aventura de sentimentos mistos... 

 

As aventuras de Carla Tomé e Diogo Queimada no México - lê aqui a aventura na América Central. 

  

Depois do México resolvemos ir até ao Peru, pois um dos sonhos do Diogo era surfar aquelas esquerdas bem compridas que estamos fartos de ver em fotos e filmes. 

 

Quando chegámos não havia swell, resolvemos então ficar em Lima e conhecer a capital. Ficámos hospedados em Callao por ser perto do aeroporto, mas, supostamente, é um dos distritos mais perigosos da capital. 

 

Para ser sincera, achei muito mais bonito e interessante visitar o centro de Callao, por ser menos turístico e rico em arte de rua. Nunca me senti insegura nesta zona, mas há que ter atenção aos táxis porque existem casos de muitos assaltos. 

 

- Explorando o Peru.

 

Machu Picchu, a mais antiga e extinta civilização Inca, fica a 24h de autocarro ou a 1h de avião desde Lima. Claro que decidimos voar para Cusco, depois mais 3h de táxi e um comboio até Águas Calientes. É um sítio incrível e único, com boas caminhadas entre as montanhas e a selva. Vale mesmo a pena visitar toda esta zona.     

 

Depois de uns dias nos Andes, decidimos comprar um bilhete para Trujillo com a Latam Chile. Não tivemos o cuidado de ler as entrelinhas e o preço dos voos anunciado é para peruanos, logo os turistas vão pagar o dobro no momento do check in, isto para além de se pagar o transporte de pranchas. 

 

Ficámos muito desiludidos com a Latam Chile, pois não voámos para Lobitos, onde a água é um pouco mais quente por custar mais de 300 euros por pessoa; no entanto, acabámos por pagar o mesmo e fomos para águas de 16º C - com vista a surfar a onda mais comprida do mundo com 4 km, a famosa Chicama.

 

Ficamos muito bem alojados no Hotel Los Delphines de Chicama que tem uma vista espetacular das suas varandas para o pico. O swell ainda demorou uns três dias a chegar e só durou outros três. A onda é realmente um abuso de comprida, mas quebra em duas zonas distintas, logo é muito dificil apanhar uma só onda do início ao fim, para além de ser preciso uma excelente preparação física para surfar uma onda tão comprida. 

 

Notei que muitas vezes não podemos fazer manobras, puxar muito os cutbacks ou roundhouses, pois acabamos por perder a onda. A onda tem duas secções tubulares, uma de manobras, e outras de “barrar manteiga no pão” ou “sempre em frente”!  

 

O grande problema de Chicama é mesmo a corrente que mais parece um rio, mesmo de barco fiz duas voltas sem apanhar uma única onda, porque se temos o azar de perder o set as outras ondas não são tao boas e rapidamente ficamos na na secção das “maminhas”. 

 

- Local em Huanchacho. 

 

O que me chocou mais em Chicama foi ver muitos leões marinhos a putrificar à beira d’água. Como temos de caminhar vários quilómetros pela areia, encontramos vários exemplares em diversos estados de decomposição e já secos, escondidos entre os troncos de árvores que derivaram até à costa. 

 

É triste ver tantos animais daquele porte mortos e sem que alguém faça algo. Ver raias mortas ao pontapé não me aflige tanto, mas leões marinhos é outra coisa. Interessei-me pelo assunto e procurei respostas entre os locais. A sua morte pode dever-se aos pescadores que os ferem/matam porque estão nas redes de pesca, podem simplemente morrer de fome porque não há peixe suficiente ou por estarem doentes. 

 

Porém, cinco doentes ao mesmo tempo? Devem ter gripe! (risos)

 

Ficámos tristes, porque o país tem um grande problema com o lixo. Parece que ainda não foram criadas infraestruturas suficientes para lidar com a situação caótica de lixo/plástico por todos os lados. Fez-me lembrar Marrocos, onde o novo rei ja proibiu na sua maioria a utilização de sacos de plástico. 

 

Depois vi muito a utilização de esferovite em substituição do plástico. Qual dos males o pior? 

 

O Peru é supostamene o país mais rico do Mundo em matéria-prima, tem muito ouro, petróleo, cana de açúcar, etc. Contudo, devido a uma má governação, é um país de terceiro mundo. Daí o explorador e cientista italiano António Raimondi ter dito um dia: “O Peru é um mendigo sentado num banco de ouro”; alertando para o paradigma em que o país se encontrava. 

  

- Provando o vinho Inca e outras iguarias típicas.

 

Quando terminou o swell em Chicama fomos para uma praia mais perto do aeroporto que se chama Huanchaco (lê mais aqui). Foi aqui que supostamente nasceu o SUP (stand up paddle), pois os pescadores usam uns barquinhos de palha, o “Caballito de Totora”, onde vão de joelhos até ao outside lançar as redes e alguns deles depois voltavam para terra de pé. Obviamente, na mão levam um remo feito de cana de açúcar. 

 

Foi muito interessante ver e ouvir que ainda se tenta cultivar essa mesma cultura com os mais novos, que só querem fazer surf. 

 

A onda de Huanchaco é comprida e mole antes do pontão, muito boa para o longboard. Depois, mais a meio da praia, tem uma direita comprida, mas, infelizmente, cheia de “backwash" em todas as marés. Eu não tive coragem para ir surfar essa direita, porque depois de ver Chicama perfeito e gelada, não me deixei convencer. 

 

O Diogo ainda lá foi um dia, mas ele queria mesmo era surfar numa “Totora". Não o chegou a fazer porque teve medo de se magoar. 

 

- Peru é um país de visuais arrebatadores. 

 

A comida é bastante boa para quem gosta de peixe. Eu adorei o Ceviche e o milho gigante branco que eles têm, mas esperemos que não seja transgénico. O Sudado, o Caranguejo Reventado (navalheiras com ovo e algas), a Chamfa, o Sope (sopa de marisco); são todos pratos típicos espetaculares. 

 

O vinho dos Incas é feito de milho vermelho fermentado e depende do teu gosto pessoal. Também existem vários tipos de cerveja, a Pilsen, Callao, Cusquena de trigo, etc... e não tivemos coragem para provar a Inka Kola, porque parecia demasiado radioativa.

 

Acho que criámos demasiadas expetativas quanto ao lugar e esquecemos que a água do mar é gelada. Só no norte do país, em Mancora, se encontra água um pouco mais quente, mas, infelizmente, não podemos ir a todo o lado, as distâncias são demasiado grandes e os voos são muito caros. 

 

Ainda assim, obrigada por tudo Peru! 

 

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Texto e fotos por Carla Tomé (Surfmoments.com) & Diogo Queimada (SUP Alentejo)

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