Adriano de Souza é um justo campeão mundial na opinião de Pedro Barbosa Adriano de Souza é um justo campeão mundial na opinião de Pedro Barbosa Foto: WSL terça-feira, 05 janeiro 2016 10:09

"TÍTULO DE ADRIANO É O CULMINAR DE UMA CARREIRA BRILHANTE"

Pedro Barbosa, juiz internacional, faz a análise exaustiva do Billabong Pipe Masters, a última etapa do Tour que consagrou 'Mineirinho'.




Pipe Masters in Memory of Andy Irons: a prova com mais significado do tour onde vários títulos estavam em disputa - Pipe Master, Campeão da “Triple Crown” e Campeão do Mundo. O Havai continua a ser a grande referência no mundo do surf, é aqui que os grandes campeões se distinguem dos restantes.

A prova começa com o Pipe Invitational com um elenco de luxo: Jamie O’Brien (o rei dos especialistas), Dane Reynolds, Jack Robinson e um que passou relativamente despercebido mas que, na minha opinião, sendo isto sempre muito subjectivo e imprevisível, aquele que mais potencial tem para ser vir a tornar a próxima grande estrela do Dream Tour. Ainda é bastante novo, chama-se Griffin Colapinto e já começa a ser convidado para os trials do Pipe.

Relativamente ao evento principal é sempre bom ver o simpático Taj Burrow de volta ao tour.


O grande destaque dos trials vai claramente para a vitória do Jack Robinson. O miúdo que há 1 ano fazia com que Ross Williams enviasse mensagens ao Kelly a dizer que era fenomenal. Com 17 anos, a forma como apareceu foi algo semelhante aos primeiros filmes do Andy e do Bruce Irons. Estes a surfarem ondas tubulares no Kauai e North Shore, o Jack no oeste australiano. Curioso que o seu estilo de surf seja hoje uma mistura dos dois irmãos. Por vezes muito parecido com o Andy mas com alguns pormenores do Bruce.


Antes da 1ª ronda se iniciar temos a primeira surpresa. Owen Wright, o candidato ao título mundial que mais impressionou nas sessões de free surf fica de fora do evento. Um pequeno derrame no cérebro depois de ter sido atingido por um set vassoura impediu-o de entrar na disputa. Quem beneficiou desta situação foi o 3º lugar do Pipe invitational, Mason Ho, que acabou por entrar no evento.


1º Round

Na primeira ronda apesar de estarem umas ondas, não estava Pipe clássico e os scores foram relativamente baixos com poucas oportunidades para os diferentes competidores. A destacar o 10 do CJ e o melhor score da ronda, a demonstrar que ainda continua a ser uma referência neste tipo de condições.

As surpresas foram os candidatos ao título que perderam na ronda inicial indo parar às repescagens: Toledo, Adriano e Julian. Medina e Mick foram os únicos a passar directamente para a 3ª ronda.


2º Round 

O 2º Round iniciava-se com o heat mais interessante do round: Filipe Toledo contra Bruce Irons. Apesar do mar estar mais pequeno ainda haviam uns tubos. O Toledo venceu bem com dois tubos na casa do bom e demonstra que reúne competências para continuar na corrida. O Julian e o Adriano passavam também os seus heats, mas Julian com a passagem dos seus adversários ao 3º round hipotecava automaticamente as suas hipóteses de se sagrar campeão mundial. O Adriano venceu à justa o jovem prodígio.



3º Round

O 3º round inicia-se com o mar grande, intenso, mas com poucas possibilidades e ligeiramente balançado. Cai mais um candidato ao título numa decisão polémica. Filipe Toledo a 2 minutos do fim e a precisar de uma onda de 2.27, dropa uma onda pequena, encaixa e sai. Celebração por parte da sua equipa. Nunca esteve realmente dentro do tubo, suspense no ar…… a nota sai - 2 pontos.


Na minha opinião foi correctamente avaliado: onda muito pequena e nunca esteve claramente dentro do tubo. Eu acho que o tubo do Mason foi claramente a melhor onda do heat e fez a diferença. De salientar o discurso humilde e de campeão do Filipe, mas de facto ainda tem bastante que evoluir nas ondas rainhas do tour (Pipe, Teahupoo, Jbay). O Toledo, como qualquer surfista de excepção, tem perfeita consciência do que tem de trabalhar para se tornar efectivamente no melhor surfista do mundo.


Dos restantes candidatos ao título, o Mick defrontou o Jamie O Brien que seria eventualmente o heat mais difícil da ronda, mas o Jamie surpreendeu pela negativa e fez o modesto score de 2.70. Aparentemente foi antes de entrar para este heat que o Mick teve a trágica notícia da perda do seu irmão. Mick mostra mais uma vez do que são feitos os grandes campeões e as verdadeiras referências do desporto. Medina vence com facilidade Jordy Smith, que apesar de vir de uma lesão, nunca é muito convincente quando se trata de esquerdas tubulares e o Adriano também venceu com facilidade o Glenn Hall num heat com baixas pontuações.

Deste round destaca-se o único score que fez jus aos scores habituais do pipe master: John John faz 19.26 - o melhor da ronda.


Neste ronda tivemos também aquele que, na minha opinião, foi o melhor 10 do evento - Sebastian Zietz. Infelizmente não foi suficiente para passar o heat e garantir a sua manutenção no tour. Este tubo foi claramente a referência no evento. Drop super crítico, arranca logo para uma secção super intensa, desaparece completamente e sai limpo. Impressionante. O facto de surfar com pranchas mais pequenas faz com que entre nos tubos mesmo no limite e fique mesmo deep nas secções mais intensas.


4º Round

No 4º round assistimos ao heat do campeonato entre Slater, Mick e John John, onde o candidato menos provável ganhou. O Mick com duas ondas excelentes, uma ligeiramente alta (9.30), especialmente se compararmos com o 9.83 do John John, onda muito maior e tubo mais intenso, menos deep mas mais intenso. Apesar de a onda do Mick ser claramente excelente (9.3), pareceu-me um pouco alto. Façam a vossa avaliação.



A 8 segundos do fim, a precisar de um 9.14, Slater arranca numa onda média para backdor e transforma uma onda aparentemente sem grande potencial numa nota excelente. Para os comentadores seria suficiente para virar. Na minha opinião os juízes estiveram bem. Apesar do drop impressionante, em queda directo para o tubo, este foi muito curto. Mas foi mais uma à Slater: transformar uma onda de 5 pontos num 8.30.

O Medina começava também o seu show e é de facto impressionante o à vontade que tem com Pipe, só ao alcance dos grandes iluminados.

O Adriano vencia também o seu heat com scores modestos e adiava a disputa do titulo para os quartos de final. A sua onda de 8 pontos poderia, no meu entender, ser ligeiramente mais alta. Excelente tubo para backdoor.


Quartos de final

Esta fase foi realizada em condições de prova fraquíssimas e com scores muito baixos. Os três candidatos ao título demonstravam mais uma vez e de forma consistente o porquê de terem sido os 3 melhores surfistas do mundo e adiavam a decisão para as meias-finais. Neste cenário apesar de estar a ter uma prestação irrepreensível, Medina perde as suas hipóteses de se sagrar campeão mundial.


Meias-finais

Foi nas meias-finais que o titulo se decidiu, em condições muito difíceis para a decisão do título mundial, algo que deve ser repensado pela World Surf League. É nesta fase que acontece uma das decisões mais difíceis de se tomar. Ondas de 1 metro com poucos tubos e mar desordenado. Em termos de julgamento os tubos continuam a ser a manobra a privilegiar mas o surf progressivo neste tipo de condições deve ser também considerado. O Mick, com prioridade a 3 minutos do fim, deixa o Medina apanhar uma onda sem qualquer potencial para fazer tubos e o Medina faz o inesperado: air reverse full rotation, a precisar de uma onda de 5, aproximadamente. Os juízes tiveram bem e deram um justo 6.5.

Mick ficava agora a necessitar que o Adriano perdesse o seu heat. O Adriano tinha a estrela do seu lado e com um score de 6.83 (com uma nota de 4.00 e um 2.83) sagra-se campeão do mundo. Na final o Adriano com 2 ondas boas foi um justo vencedor.

 

 

As ondas e as decisões dos calls:

A única questão que se coloca é o tempo de boas condições que o Invitational tirou ao evento principal e que deve ser repensado. Pipe teve longe de ser um evento de gala, a quantidade de heats que se fizeram para apurar 2 wild cards fez com que a prova e a decisão do título fossem realizadas em condições muito más


O Julgamento e os casos da prova:

Resultados justos e boas decisões em momentos críticos, na minha opinião. Algumas notas creio que poderiam ter sido mais precisas, se bem que Pipe no local é outra coisa e a minha avaliação é condicionada.


Finalizando e resumindo:

Medina muito pouco expressivo na celebração da vitória do seu compatriota, não estava à espera desta reacção e que não é habitual nos campeões do mundo; Medina foi claramente o Surfista com factor X dos últimos anos, não fosse o frenesim de ter sido campeão mundial e a história seria outra.


O Surfista com a melhor performance
ao longo do ano foi claramente o Mick Fanning, sempre que falamos em point breaks de direita as suas prestações são “state of the art”, não há igual


O surfista revelação
claramente Adriano de Souza, contra todos os prognósticos tornou-se um justo Campeão Mundial, é um facto que na prova em Pipe estava numa zona do quadro aparentemente mais fácil do que Mick Fanning mas não podemos esquecer todo o trabalho feito ao longo do ano. Do meu ponto de vista este título mundial é o culminar de uma carreira de surfista brilhante que por vezes não é devidamente mencionada, vejamos alguns factos:

Surfista mais jovem de sempre a vencer uma etapa do circuito profissional brasileiro 15 anos
Surfista mais jovem de sempre a vencer o Campeonato Mundial Juniores WSL aos 16 anos - 2004
Em 2005 vencedor absoluto do WQS batendo o recorde de pontos atingidos e o mais jovem de sempre 17 anos

É extremamente gratificante ver que talento, determinação e trabalho dão resultado e o título mundial de 2015 está muito bem entre ao MINEIRO!

 

O tour precisa de um novo fôlego com o Slater a ficar em nono lugar, sem Andy Irons e figuras deste nível falta chama ao Tour e duelos como existiram no passado. As fracas condições em que as provas foram realizadas em 2015 também não ajudou, ainda não me parece que seja 2016 em que isso vá acontecer com as novas entradas no tour. Espero efectivamente que o Julian, Jordy e companhia mudem o chip urgentemente, o circuito necessita de espectáculo e competitividade.

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