Na etapa da Figueira da Foz onde terminou num 3.º lugar. Na etapa da Figueira da Foz onde terminou num 3.º lugar. Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas terça-feira, 08 agosto 2017 11:54

Eduardo Fernandes: “Todo o dinheiro que eu faço com o surf eu volto a investir no surf”

Gladiador da Liga MEO Surf falou em exclusivo à Surftotal…

 

Eduardo Fernandes, também conhecido no meio por “Edu”, é um surfista profissional luso-brasileiro. Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, Brasil, viveu grande parte da sua vida em Maceió onde começou a surfar com 11 anos de idade. Em 2006 mudou-se de armas e bagagens para Portugal e desde então vive em Carcavelos. É um dos gladiadores que compõe a Liga MEO Surf 2017. 

 

Surftotal: Em primeiro lugar, gostávamos que fizesses uma pequena apresentação pessoal, de como tem sido o teu percurso no surf e como acabaste a viver em Portugal?

Eduardo Fernandes: Sou o Eduardo Fernandes, tenho 29 anos e surfo desde os meus 11 anos. Comecei a surfar no Brasil, na Praia do Francês, um beach break que dá altas ondas o ano inteiro. Em 2008 mudei-me para Portugal depois de encontrar o meu amigo Nuande Pekel de férias onde eu morava. Ele deu-me muita força para vir para Portugal e ajudou-me muito em todos os sentidos. No início, por aqui, ele foi e é uma pessoa muito importante para mim. Hoje vivo em Carcavelos, lugar que adoro e onde dão altas ondas, faço alguns eventos WQS, a Liga MEO e represento com muito orgulho a bandeira portuguesa quando tenho a honra de fazer parte da Seleção Nacional, seja no Mundial ou EuroSurf. 

 

ST: Fala-nos um bocadinho da lesão do início deste ano, como tens vindo a recuperar e de que forma isso tem limitado a tua atuação nos campeonatos?

Edu: Bem, no dia 23 de fevereiro deste ano, em free surf, na Costa de Caparica, acabei por lesionar-me nos ligamentos do tornozelo esquerdo. Tentei dar um aéreo e caí de forma errada,  com o peso todo sobre o pé de trás. Na hora senti um grande estalo e no momento pensei que não fosse nada. Voltei para o outside para fazer mais uma onda, mas, infelizmente, já não consegui por-me de pé. Tive muitas dores ao fazer o take off, então decidi deitar-me e sair do mar. Fui direto ver o meu pé com Gonçalo Saldanha (N.R.: Fisioterapeuta que está presente em todas as etapas da Liga MEO Surf) e ele acabou por dizer-me que se tratava de uma lesão nos ligamentos. Seguiu-se mês e meio de fisioterapia todos os dias, fiquei dois meses fora d’água sem poder surfar. Foi apenas uma semana antes do WQS da Costa, em abril, que consegui fazer o take off. Desde então ainda tenho dores quando faço alguns movimentos no surf. No início só conseguia manobrar para a direita (de backside) e a dor era bem suportável. Até há um mês atrás não conseguia surfar ainda para a esquerda (de frontside), pois tinha muitas dores. Por sorte, todos os campeonatos que fiz desde que me lesionei deram boas ondas para a direita onde consigo suportar melhor a dor e também surfar melhor. Obrigado Saldanha pela atenção, tratamento e acompanhamento durante os campeonatos!

 

“Represento com muito orgulho a bandeira portuguesa

quando tenho a honra de fazer parte da Seleção Nacional”

 

- Concentração antes da ação. Foto: Beatriz Rivera

 

Como se ultrapassa, psicologicamente, uma recuperação tão longa e um regresso ao surf tanto tempo depois da lesão ter ocorrido? 

É bem difícil, mas temos que acreditar que vamos recuperar rápido e trabalhar para isso. Acho que me dediquei bastante na minha recuperação e mantive-me positivo e motivado para quando já estivesse apto a surfar novamente. Geralmente, as lesões fazem com que nos esforcemos mais, a mente positiva ajuda a superar-nos e também damos mais valor à nossa forma física depois de uma lesão. Nada melhor do que estar saudável para fazer o que mais gostamos.

 

Neste momento em 8.º lugar no ranking, que balanço podes fazer até este momento da tua participação na Liga MEO Surf? 

Acho que não está mal, não participei da 1.ª etapa na Ericeira, que por sinal é a etapa que mais gosto de fazer na Liga; fiz um 5.º lugar no Porto, fiz um 3.º lugar na Figueira da Foz, onde deram altas ondas; e um 9.º lugar na Praia Grande. Acho que ainda consegui mostrar bom surf em alguns momentos, por isso, estou contente com o decorrer do ano mas ainda quero melhorar.

 

Entre os atletas que compete na Liga, tu és um dos poucos que já sentiu o gostinho da vitória por várias vezes. No entanto, a última conquista foi em 2015. Vencer a derradeira etapa, em Cascais, está nos teus planos?

(risos) Hahaha com certeza! Aliás, sempre que vou para uma competição, vou para vencer! Acho que se não formos com esse pensamento, se não acreditarmos que conseguimos, então nunca iremos chegar a vencer um dia!

 

“As lesões fazem com que nos esforcemos mais.

A mente positiva ajuda a superar-nos”

 

 

- A bater bem vertical na etapa da Liga realizada no Cabedelo da Figueira. Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas

 

Como vês o nível da Liga e dos seus intervenientes? De acordo com a tua experiência, parece-te esta uma das Ligas nacionais mais fortes do globo?

Com certeza, a Liga está com um nível altíssimo, temos excelentes surfistas a competir, alguns são top mundial e outros já estiveram no World Tour pelo menos uma temporada. Já não há baterias fáceis, o que é ótimo, porque quanto maior for o nível mais nos superamos e evoluímos! Acho que é esse o objetivo.

 

A luta pelo título nacional tem estado bem acesa esta temporada. No final quem te parece que do grupo da frente tem mais condições para sair em primeiro?

Acho que qualquer um pode ser campeão! Todos são excelentes surfistas e trabalham muito para isso! Por isso, vai ser mais um ano bem disputado!

 

Vamos meter o dedo na ferida. Há cada vez mais surfistas sem “main sponsor”, no mundo e em Portugal. Tu és um deles. Fala-nos das tuas dificuldades em estar presente a cada etapa e também como reages e lutas contra isso?

Pois é, fica bem difícil alcançar os nossos objetivos quando não temos um patrocinador principal. Infelizmente, nesse caso, o dinheiro é muito importante, sem ele não conseguimos fazer o circuito na íntegra, que é realmente dispendioso. O que eu posso dizer é que todo o dinheiro que eu faço com o surf eu volto a investir no surf. Faço-o para tentar melhorar os meus resultados, com o pouco que tenho, e porque o Surf é realmente o que amo fazer e tenciono continuar a fazer enquanto estiver a dar-me alegria e felicidade como sempre me deu! Se um dia eu voltar a ter mais uma oportunidade de ter um “main sponsor”, com certeza vou aproveitar ao máximo e representar da melhor maneira possível!

 

“Já não há baterias fáceis [na Liga], o que é ótimo,

porque quanto maior for o nível mais nos superamos e evoluímos”

 

- Novamente na Figueira da Foz, a fazer uso do seu "backhand" para espancar as ondas do Cabedelo. Foto: Pedro Mestre/ANSurfistas

 

Última questão. Que planos até ao final do ano?

Os meus planos passam por fazer cinco eventos da Qualifying Series da WSL seguidos, aqui na Europa, que começam já no dia 15 de agosto, e a última etapa da Liga MEO Surf em Cascais! Aproveito também para deixar um agradecimento à Surftotal pelo espaço concedido e um agradecimento especial às pessoas que tem estado sempre ao meu lado. A Bia, minha mulher por me apoiar sempre, incentivar e acreditar em mim; ao Zé Braga por tudo desde que cheguei em Portugal, desde papel de “manager” a preparador físico; aos meus pais, ao meu irmão Diego Fernandes por tudo nos últimos anos e pelas pranchas incríveis que tem feito; ao Pekel mais uma vez e ainda aos meus apoios que são a Fonte Viva (Tiago Sampaio), Futures Fins (João Janita), Xcel Wetsuits (Pedro Feliciano), The Surf Project Surf Shop (Zé Braga), Algarve Surf Club (Zara Mata) e a Komunity Project (Nuno Amado) pelos últimos cinco anos de trabalho. Muito obrigado a todos vocês por tudo o que fazem por mim!

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