Paulo do Bairro   Foto: facebook Paulo do Bairro Foto: facebook segunda-feira, 30 novembro 2020 13:39

A VISÃO DE PAULO DO BAIRRO SOBRE O AUMENTO DO CROWD EM PORTUGAL

Que assistimos nos dias de hoje...

 

Cada vez é maior o número de surfistas que vemos nos lineups do nosso país, mas esta nem sempre foi uma realidade em Portugal, que o diga o veterano Paulo “do Bairro” Rodrigues.

Paulo do Bairro é uma referência no surf nacional.

Ex-Campeão Nacional e Campeão Europeu Master pela seleção portuguesa, o surfista, que atualmente reside na Ericeira, é um dos nomes mais respeitados nos lineups nacionais e tem vindo a acompanhar esta evolução que comprova dentro e fora de água, não só por ser surfista mas também por estar no meio através da fabricação de pranchas de surf.

A Surftotal esteve à conversa com Paulo do Bairro que nos mostrou a sua visão sobre este aumento do crowd a que assistimos actualmente.

 

 

 

 

 

 

Desde que iniciaste o teu primeiro contacto com o surf que muita coisa mudou, nomeadamente o aumento do crowd um pouco por toda a costa e que assistimos dia a dia durante as nossas sessões de freesurf ou treinos. Para ti como é ver a magnitude deste aumento nos dias de hoje?

Eu vejo com alguma normalidade porque como nação já temos algum tempo de surf e é normal que o surf evolua desta maneira, que se torne um desporto mais popular. É óbvio que depois da crise, quando houve uma necessidade de explorar outros meios de trazer dinheiro para Portugal o turismo de surf foi um deles. Foi bastante publicitado e acho que esse foi o principal factor para o aumento do crowd. É óbvio que há outro factor no meio do aumento do crowd que é o crowd local, e isso é devido ao aumento e imagem que o surf tem tido. Hoje qualquer miúdo que faça surf imediatamente o que quer fazer é campeonatos, e isso demonstra que o surf tem tido uma propagação, nomeadamente nas redes sociais, muito grande. Tenho pena que essa propagação não seja a mais correcta, porque poderia ser mais relacionada com a imagem do surf em si como desporto e não com a imagem como desporto federado ou com a parte profissional do desporto, que é quando um surfista se torna atleta. De qualquer maneira vejo com normalidade e há coisas boas e coisas más.

 

 

"Este aumento trás uma coisa que nem sempre é positiva, que é o localismo com violência sem razões."

 

 

 

És um surfista que está sempre presente quando há grandes swells, principalmente nos Coxos. Há uns anos atrás quando entravam estes grandes swells na nossa costa eram poucos os surfistas que viamos dentro de água. Hoje em dia assistimos a uma realidade diferente. Sentes isso quando surfas estas condições?

 

Certamente. Hoje em dia nos dias maiores já há um crowd muito grande e sempre presente em todas estas condições. Isso também é o reflexo normal do desenvolvimento do surf. Hoje em dia os atletas são muito melhores, têm mais disponibilidade para trabalharem a sua técnica e é óbvio que estas gerações que estamos a ver agora a saírem estão melhores que as anteriores, e as anteriores eram ainda melhores que as anteriores. É uma realidade que é normal no desenvolvimento do desporto.

 

 

 

 

Sentes que este aumento do crowd também vem promover o localismo?

Sim, de certa maneira sim. Este aumento trás uma coisa que nem sempre é positiva, que é o localismo com violência sem razões. Nem sempre o localismo é o melhor. Eu acho que tem que haver localismo com respeito. Se calhar este aumento dos números vem trazer ao de cima essas coisas menos positivas porque Portugal é pequeno e os spots começam a ser pequenos para tanta gente. Há dois tipos de localismo, o local e o com estrangeiros. O principal é com estrangeiros porque obviamente fomos invadidos, no melhor sentido da palavra,  e às vezes torna-se difícil surfar os spots devido a esse grande número de surfistas estrangeiros.  Acho que se há uma resolução disto, e eu já estou a falar da resolução, será pela educação, essencialmente, não só dos estrangeiros mas também dos surfistas locais para que não haja atitudes de violência ou extremismos de atitudes quando não provocadas ou provocadas de uma maneira mais leve. Hoje em dia qualquer atitude de um surfista estrangeiro é razão para outro o mandar para fora de água e às vezes não há razão para esse extremismo, porque nessas situações o surfista que está em falta, que tem o problema na água com um local, não vai perceber porquê, porque normalmente essas situações não são amplamentes provocadas, se calhar são mais uma atitude da falta de paciência dos locais ou então por estarem fartos de verem os seus picos massificadamente cheios de estrangeiros.

 

Qual é o ambiente que se faz sentir no lineup com este aumento de crowd? Sentes que as novas gerações respeitam quem conhece as ondas há mais tempo ou não?

Sim, penso que de uma certa maneira sim. É óbvio que isto varia um bocado de região para região, penso eu. Por exemplo, se fores a um sítio como Carcavelos se calhar vês um localismo e um crowd com atitudes um bocadinho mais à flor da pele, porque são muito mais pessoas, atropelam-se mais, mas se fores para sítios talvez com um pouco mais de imagem, mais renome nacional, como por exemplo os coxos e a Ericeira em geral, há um crowd diferente, se calhar há um bocadinho mais de cuidado, um crowd mais respeitoso e as novas gerações têm esse cuidado de mostrar esse respeito. Se calhar, Carcavelos, Caparica por estarem perto da capital proporcionam um bocado essas atitudes, mas eu acho que há um respeito por parte dos mais novos.

 

 

 

Paulo do Bairro é o rosto por trás da Divine Boards

 

 

Em países como a Austrália o crowd aumentou este ano após o confinamento, porque a pandemia levou a que mais pessoas escolhessem o surf como modalidade desportiva em relação a outros desportos por ser um desporto individual e praticado ao ar livre. Sentes que aqui em Portugal, e na Ericeira em particular, a pandemia também levou a um aumento do crowd?

Certamente. E eu digo isto não só por ser surfista mas também por estar no surf através da fabricação de pranchas de surf e estar nesse meio. Embora tenha havido a pandemia, em pouco espaço de tempo houve um aumento de encomendas de pranchas de surf e acho que isso tem a ver com a pandemia, com o facto das pessoas terem mais tempo livre, alguns porque antes tinham uma vida mais carregada e tinham-se afastado um bocado e agora voltaram ao surf, outros porque resolveram experimentar exatamente pelas razões que mencionaste, mas sim, certamente houve um aumento.

 

 

Antigamente tínhamos muitos secret spots que sabíamos que com determinado swell proporcionavam boas condições para surfar altas ondas sem ninguém. Nos dias de hoje são poucos os secret spots. Ainda tens alguns que guardas só para ti ou já nem isso há?

Não, hoje em dia já não há nada que seja muito segredo. Se calhar o que há é uma interpretação das condições para saber onde está melhor. Certamente por já andar aqui há um bocadinho de tempo se calhar consigo interpretar as condições e sei que condições é que podem dar em determinado sítio e, se assim o entender, ir para um sítio que é menos óbvio nessas condições e fugir assim ao crowd. Mas hoje em dia é complicado eu fazer isso devido à minha situação familiar. Por vezes é complicado retirar muito tempo do meu dia para poder fazer uma escapada dessas, mas acho que a diferença está aí, na capacidade de interpretação das condições para poder fugir um bocadinho ao crowd.

 

 

 

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