“Em relação a ser mulher, era tudo difícil de conseguir e para realizarem um heat feminino era sempre um filme” quinta-feira, 25 março 2021 12:21

“Em relação a ser mulher, era tudo difícil de conseguir e para realizarem um heat feminino era sempre um filme”

Diz Patrícia Lopes sobre o início do surf feminino em Portugal...

 

Patricia Lopes é uma das pioneiras do surf nacional.

A surfista é detentora de 11 títulos de Campeã Nacional, um título de Campeã de Surf Master Feminino, foi Vice-Campeã Europeia e terminou no Top 16 mundial por duas ocasiões.

A surfista abriu caminho para as próxima gerações de surfistas femininas portuguesas e nesta entrevista exclusiva à Surftotal conta-nos como foi ser uma das primeiras profissionais do surf nacional numa altura em que os surf feminino ainda lutava por reconhecimento.

 

 

 

 

Olá Patrícia, foste uma das primeiras surfistas portuguesas a competir no circuito nacional nos anos 90. Como era ser mulher e surfista nessa altura?

 

Quando comecei a competir éramos 3, eu a Teresa Abraços e a Teresa Ayala. Era difícil arranjar pranchas, comprávamos aos bifes que por aqui apareciam ou aos portugueses que surfavam, sempre em segunda mão. Os fatos, também comprava-se em segunda mão ou ao Nuno Jonet que fabricava os fatos Aleeda. Eu mal entrei em alguns campeonatos o Jonet apoiou-me e deu-me um fato. Aprendíamos a ver os melhores portugueses e com os filmes de surf em Vhs. Nas minhas primeiras competições era só eu e a Teresa Abraços porque eram na linha e depois quando começaram a haver mais campeonatos e ficou mais importante a Té também entrava, assim como a Estela, da Figueira da Foz.

Não nos ligavam nenhuma e metiam-nos no mar sempre na pior altura da maré. Os prémios eram muito fracos e quando começou a haver prize moneys a diferença entre o cheque dos homens e o das mulheres era abismal...também os patrocinadores não davam dinheiro às mulheres só aos homens. Eu era patrocinada pelo Falcão, representante da O'neill e da quiksilver (meu segundo  patrocinador a seguir ao Jonet), mas dava-me algum material e muito pouco dinheiro. 

Em relação a ser mulher, era tudo difícil de conseguir: patrocínios, notoriedade e para realizarem um heat feminino era sempre um filme.

 

 

 

“Agora os patrocinadores já pagam bem às mulheres e têm muito mais oportunidades a todos os níveis do que nós tínhamos.”

 

 

 

Sentes que os surfistas masculinos, tanto no circuito nacional como no lineup fora das competições, te viam de forma diferente dos outros surfistas pelo facto de seres mulher?

Eu tinha a vantagem de ser muito motivada e protegida pelos rapazes, mas não me davam abébias no que respeita a apanhar as ondas. Tinha que disputar o pico e remar de igual para igual com eles.

Os surfistas que não competiam na altura, e por isso não me conheciam, achavam piada de andar uma mulher no mar a apanhar ondas e eles incentivavam imenso.

 

 

 

 

Quais consideras que eram os maiores desafios para as surfistas femininas no início do surf em Portugal?

Os grandes desafios eram vários: dificuldades em arranjar pranchas, então à nossa medida, nem pensar; patrocínios para pagar as deslocações para os campeonatos e para viajar; por fim, levarem-nos a sério na modalidade e respectivos campeonatos.

 

 

Quais são as maiores diferenças que vês no surf feminino quando começaste em comparação ao momento atual?

As grandes diferenças são os treinadores que vieram ajudar os surfistas a evoluírem muito mais e mais rapidamente. Agora os patrocinadores já pagam bem às mulheres e têm muito mais oportunidades a todos os níveis do que nós tínhamos.

 

 

 

 

 

 

Que conselho darias às novas gerações de surfistas femininas?

Hoje em dia, se queres ser uma boa atleta e teres bons resultados, tendo algum talento, é trabalhar/ treinar muito e comer de forma saudável. Nunca desistir pois vai-se perder muitas mais vezes do que se ganha!

 

 

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