Enrique Kike Lenzano, é treinador profissional, fundador da Academia Profissional  Surf e da More than Surfing, e atualmente o head coach da selecção Ucraniana de surf, descreve à Surftotal sobre a sua experiência nestes World Surfing Games em El Salvador

Henrique em 1º muitos parabéns pelo teu trajecto enquanto treinador de surf. Tem sido notável. Conta-nos como surgiu esta oportunidade de orientar a equipa de surf da Ucrânia nestes ISA?

Obrigado pelo reconhecimento. A oportunidade de ser o Head Coach do Team Ucrânia surge no seguimento de treinar a Maryna Klymenko de nacionalidade ucraniana que reside em Portugal. Começamos a treinar o ano passado com o objetivo de de classificar para a equipa nacional que iria participar destes ISA World Surfing Games, que é feito através do campeonato nacional ucraniano, desta vez feito em Peniche no mês passado, daqui vão os 3 primeiros classificados open feminino e masculino. Foi o primeiro campeonato que a Maryna participou e sagrou-se campeã Nacional e garantiu uma vaga para os World Surfing Games.

Sem treinador, e com o feedback sobre a prestação da Maryna o presidente da federação fez-me o convite para eu orientar a equipa durante o campeonato.

Team Ucrânia junto com Sally Fitzgibons - ISA

Foi a primeira vez que orientei uma equipa nacional sénior, já tinha orientado a equipa Júnior de Portugal no mundial do Equador 2014 e no europeu nos Açores.

Qual ou quais foram de imediato os maiores desafios que se te depararam?

O principal desafio foi organizar a viagem, orientar os meus treinos cá, foi tudo muito rápido e a última da hora.

Foi a primeira vez que orientei uma equipa nacional sénior, já tinha orientado a equipa Júnior de Portugal no mundial do Equador 2014 e no europeu nos Açores.

A equipa e compara por pessoas, na sua maioria entre os 32 e 36 anos de idade é um miúdo de 16. Ninguém é atleta e o espírito de equipa praticamente não existiria. Criar rotinas, espírito de equipa e união foi o maior desafio, mas no final do campeonato tudo saiu como planeado.

Quando se fala de Ucrânia o que nos vem de imediato à cabeça é a situação pela qual esta nação está a passar, e não propriamente pelo surf. Como é a realidade de surf Ucraniana? Há ondas na Ucrânia? quem são os surfistas Ucranianos?

É uma nação que começou relativamente a pouco tempo com o surf, os primeiros surfistas são o atual presidente da federação o Vasyl Kordysh, a primeira campeã nacional é a Anastácia Temirbek quem fez parte da equipa neste mundial.
O surf no Mar Negro é escasso, ondas de vento e costuma ser melhor nos meses mais frios do ano, estamos a falar em temperaturas entre os 2 e os 7 graus.

A praia onde surfam mais chama-se Arkadia

Na cerimónia de abertura quando foi a vez da Ucrânia subir a depositar a areia, foi o momento de maior calor por parte de todas as outras equipas, foi incrível como todos demonstraram seu apoio e simpática perante esta nação.

Como se tem vindo a desenvolver o surf naquela Nação?

Está em pleno crescimento. A federação tem apostado em critérios justos para aqueles que queiram fazer parte da seleção. Através do campeonato nacional e há mais novidades a caminho.
Muitos surfistas já viviam fora do país antes do início da guerra em países onde praticam surf de forma consistente tais como Indonésia, Portugal e Estados Unidos (Califórnia) a ideia passa por monitorizar a evolução destes.
Relativamente ao surf na Ucrânia propriamente, terá que se esperar pelo fim da guerra.

Momentos de muita emoção nos ISA

Qual foi a recepção à equipa Ucraniana por parte da Isa e das outras selecções? houve um carinho especial?

Na cerimonia de abertura quando foi a vez da Ucrânia subir a depositar a areia, foi o momento de maior calor por parte de todas as outras equipas, foi incrível como todos demonstraram seu apoio e simpática perante esta nação.
A ISA, institucionalmente agiu de forma exemplar, tendo atualmente qualquer equipe que represente a Ucrânia não participar em competições onde sejam aceites atletas ou equipas da Rússia, a ISA emitiu logo um parecer favorável e assim a Ucrânia pode estar presente nos World Surfing Games.
A empatia geral foi espetacular.

Do ponto de vista de resultado de equipa ficamos em 40 dentro de 63 nações, ou seja estamos no segundo terço o que significa uma melhoria relativamente ao ano passado.

Agora sobre a competição, como foi a prestação da Ucrânia? Há muito trabalho a fazer para atingir os objectivos?

Tratando-se de uma equipa de pessoas que surfam e não de atletas que treinam para ser profissionais, dirigi o foco para a melhoria dos scores dos atletas, queria que apresentassem um surf com mais qualidade, e conseguimos.
Do ponto de vista de resultado de equipa ficamos em 40 dentro de 63 nações, ou seja estamos no segundo terço o que significa uma melhoria relativamente ao ano passado.
Agora estamos a elaborar um plano de estruturação e seguimento dos surfistas com potencial para elevar a qualidade progressivamente.

Team Ucrânia - ISA

A estrutura do campeonato não foi a melhor, heats de repescagem de 15 minutos é algo que eu pessoalmente não estava à espera, tendo em conta a estrutra, número de juizes e horas de luz, pensei que isso não iria acontecer, além da distância entre o take off e o fim da onda no El Sunzal são pelo menos 7 minutos de remada..

Sobre a competição em geral, como viste o nível de organização e o nível competitivo das selecções presentes? Houve algo ou algumas situações que te surpreenderam de alguma forma?

O nível está cada vez mais alto, este campeonato surpreende cada edição com novos surfistas que apresentam um nível elevado de surf.
A estrutura do campeonato não foi a melhor, heats de repescagem de 15 minutos é algo que eu pessoalmente não estava à espera, tendo em conta a estrutra, número de juizes e horas de luz, pensei que isso não iria acontecer, além da distância entre o take off e o fim da onda no El Sunzal são pelo menos 7 minutos de remada, para nós foi péssimo. Num free surf en Punta Rocas o próprio Jhon Jhon comentava sobre este tema.
O julgamento deixou algumas dúvidas também, mas isso é algo que acontece em todos os campeonatos, infelizmente.
Achei uma total falta de desportivismo e ética os surfistas do CT terem abandonado a prova alegando doença ou lesões, e no mesmo dia ver todos a surfar em Punta Rocas. Houve situações de qualificação olímpica em que alguns competidores foram favorecidos pela ausência repentina dos surfistas do CT dos seus heats. Isto devia ser proibido, ou o regulamento devia ser alterado, ou as seleções serem multadas.

Achei uma total falta de desportivismo e ética os surfistas do CT terem abandonado a prova alegando doença ou lesões, e no mesmo dia ver todos a surfar em Punta Rocas. 

Peru foi o grande vencedor seguido de França, Como viste a prestação destas duas equipas? Foram no fundo aqueles que se adaptaram melhor às condições?

Peru Justo vencedor, de facto no mar pesado de La Bocana eles pareciam não sentir dificuldades.
França conseguiu através das atletas femininas ficar no segundo lugar.

A equipa Francesa tem vindo a investir nos ISA de uma forma quase inigualável.

Há nações que levam os ISA mais a sério do que outras, Peru, França, Japão, Austrália e Alemanha são os que mais investem e os resultados são um reflexo desse investimento...

Hoje em dia os Isa já estão a ser encarados de outra forma por parte das maiores selecções do mundo devido à qualificação para os Olimpicos? concordas com esta afirmação? se sim porquê? Podes falar-nos por exemplo do staff que uma selecção como o Peru, ou França ou Austrália já possuem de apoio aos seus atletas inloco?

Há nações que levam os ISA mais a sério do que outras, Peru, França, Japão, Austrália e Alemanha são os que mais investem e os resultados são um reflexo desse investimento. Contam com equipas de 14 a 18 pessoas (6 atletas e o resto staff) São nações cujas federações conseguem financiamento para executar planos de 1, 2 e até 3 ciclos olímpicos, estão muito à frente do resto, inclusive dos EUA e o Brasil.
É claro que os ISA World Surfing Games tornaram se num campeonato indispensável para qualquer nação que queira ver surfistas nos jogos olímpicos, e com isso a adaptação de cada nação para o conseguir. Como tudo, leva seu tempo, vamos agora apenas para os segundos jogos olímpicos onde o surf faz parte, creio que daqui a 6 ou 8 jogos (24 a 32 anos) as coisas serão ainda mais interessantes.

...Contam com equipas de 14 a 18 pessoas (6 atletas e o resto staff) São nações cujas federações conseguem financiamento para executar planos de 1, 2 e até 3 ciclos olímpicos, estão muito à frente do resto, inclusive dos EUA e o Brasil.