Jean-Sébastien Estienne: do line-up ao topo do marketing no surf europeu:

Com raízes em Marselha e um percurso marcado pelo alto rendimento no surf e pela liderança no marketing desportivo, Jean-Sébastien Estienne é uma das figuras mais completas e respeitadas do surf europeu. Nascido a 14 de outubro de 1987, destacou-se como campeão júnior de França e da Europa, tendo representado a Billabong até 2009 enquanto surfista profissional.

A sua transição das competições para os bastidores do desporto foi natural e estratégica. Após experiências na Seventyone Percent, integrou a Rip Curl Europa em 2012, onde construiu uma carreira sólida e multifacetada, ocupando atualmente o cargo de Head of Marketing, Digital & eCommerce. O seu percurso académico e profissional cruza a prática de alto nível com a gestão moderna do desporto, o que faz dele uma voz relevante no debate sobre o presente e o futuro do surf competitivo.

No âmbito do fórum Surftotal sobre o futuro do surf em Portugal, Jean-Sébastien respondeu às nossas questões com a clareza e a visão de quem conhece profundamente tanto o mercado como o espírito do surf.

Quais são os critérios mais importantes quando se trata de apoiar um atleta ou um evento de surf?

O primeiro critério é o alinhamento com os valores da marca: autenticidade, paixão pelo surf, compromisso com a progressão e com a aventura. Procuramos atletas que tenham não só talento, mas também uma história real, uma personalidade que inspire a comunidade.

No caso dos eventos, avaliamos a qualidade das ondas, o impacto local – cultural, mediático, económico – e a oportunidade que representam para criar ligação com os surfistas, os fãs e as novas gerações. A credibilidade, o alcance e a capacidade de se manterem ao longo do tempo são também fatores-chave.

Jean-Sébastien Estienne em 2014 assumiu o cargo de director de marketing da Rip Curl Europa

Considera que o surf português tem visibilidade suficiente para justificar investimento em atletas nacionais?

Portugal goza hoje de um reconhecimento internacional inegável no mundo do surf, impulsionado por ondas emblemáticas como Supertubos ou Nazaré, por eventos de destaque como o Rip Curl Pro Portugal, que organizamos desde 2009, e por atletas de alto nível como Tiago Pires, Teresa Bonvalot ou Frederico Morais.

A Rip Curl acompanha esta dinâmica desde 1987, apoiando tanto eventos – como o Rip Curl Pro e o GromSearch – como surfistas portugueses em todas as etapas do seu percurso. Atualmente, continuamos orgulhosamente a apoiar talentos como Matias Canhoto, Mel Canhoto e Teresa Bonvalot, e temos a intenção de continuar a investir de forma duradoura no surf português, tanto através dos atletas como dos eventos.

O que poderia ser melhorado no ecossistema competitivo português para tornar o investimento mais atrativo?

É essencial reforçar as ligações entre os diferentes níveis de competição: do GromSearch ao circuito nacional, passando pelos QS europeus, Challenger Series e até ao World Tour. Esta continuidade é fundamental para permitir que os jovens talentos progridam e atinjam o mais alto nível.

Devemos também continuar a defender a presença de etapas da WSL na Europa – e em particular em Portugal – e reavaliar o circuito europeu, tornando-o mais atrativo não só para investidores e media, mas também para que surfistas internacionais voltem a competir nos QS europeus, elevando assim o nível geral e dinamizando a competição.

Por fim, envolver antigos atletas na formação e mentoria da nova geração seria um instrumento poderoso: a sua experiência é valiosa para orientar os mais jovens na sua carreira.