O Futuro do Surf em Portugal:“A competição faz parte, mas tem de ser equilibrada”, Pedro Marques Escola de Surf AT (Praia Grande) sábado, 24 maio 2025 09:36

O Futuro do Surf em Portugal:“A competição faz parte, mas tem de ser equilibrada”, Pedro Marques Escola de Surf AT (Praia Grande)

O papel das escolas, dos clubes e a cultura de respeito que deve guiar o surf.

 

 

No fórum Surftotal sobre o surf competitivo em Portugal, Pedro Marques – responsável pela Escola de Surf AT (Praia Grande) – aborda o papel das escolas, dos clubes e a cultura de respeito que deve guiar o surf.


Uma ligação natural com o clube local

“Sim, temos ligação com o clube local Clube Recreativo da Praia das Maçãs(CRPM). Faz todo o sentido promover o surf em todos os níveis e a competição tem um papel essencial.”

Pedro vê esta ligação como um complemento ao trabalho da escola, destacando que, através do clube, conseguem apoiar alguns jovens surfistas com as inscrições em campeonatos e até dar sustentabilidade a iniciativas sociais sem fins lucrativos, muitas vezes suportadas financeiramente pela própria escola.

“No sentido inverso, o clube ao promover o surf através da escola acaba por ser uma ótima forma de captar novos alunos para nós – um verdadeiro ‘win-win’.”

 

A escola tem alguma ligação com clubes federados? Porquê?


Sim, tem ligação ligação com o clube local (crpm). Achamos que faz sentido promover a prática do surf em todos os níveis de ensino e obviamente a competição tem um papel super importante no desenvolvimento dos miúdos enquanto atletas e também cidadãos, desta forma esta sinergia que se cria com o clube é um complemento ao trabalho que desenvolvemos e em que ambas as partes têm o seu papel. Também de referir que através do clube conseguimos apoiar alguns miúdos com os custos de de inscrições em competições, assim como tornamos sustentáveis algumas iniciativas de carácter social, as quais são obviamente sem fins lucrativos, mas que acabam por ter sempre despesas, e a escola enquanto entidade privada não tem qualquer apoio nem reconhecimento nestas questões. Obviamente em sentido contrário o clube ao promover o surf através da escola acaba sempre por ser uma ótima possibilidade de captação de alunos para nós, o que torna esta relação um "win win".

A competição como motor de superação, mas com equilíbrio

“A competição faz parte de qualquer desporto e tem o papel de estimular o desenvolvimento, a superação e o desafio. Costumo dizer aos meus atletas: ou se ganha, ou se aprende.”

Pedro sublinha que ganhar sabe bem e é sinal de empenho e talento. Mas, quando não se ganha, é fundamental não dramatizar, aprender e seguir em frente.

No entanto, alerta para um desafio que se sente cada vez mais: a convivência entre turmas de competição e free surfers, que por vezes esquece valores essenciais como o respeito, a ética e a educação.

“Esses valores são os pilares não só do surf, mas da sociedade.”

 

Que papel atribui à competição na formação dos jovens surfistas?


A competição faz parte de qualquer desporto e tem o papel fundamental de estimular o desenvolvimento, a capacidade de superação, de desafio. Costumo dizer aos meus atletas, em competição ou se ganha, ou se aprende. Ganhar sabe bem e é o reconhecimento do nosso empenho e talento, mas cada vez que não ganhamos, é uma lição que não devemos dramatizar, mas sim levantar a cabeça ver o que podemos melhorar e seguir para a próxima.
Obviamente no contexto do surf tem que haver algum equilíbrio e não esquecer o meio em que treinamos, manter o respeito pelo próximo, ética e educação, valores que se vão perdendo, principalmente pelas turminhas de competição a treinar no meio de free surfers, e que devem ser os pilares não só do surf como da sociedade.

 


Transmissão da cultura de surf às novas gerações

“No contexto actual, acho que fazemos um excelente trabalho.”

Pedro considera que o surf – na sua vertente lúdica, desportiva e de partilha – combate o sedentarismo e promove hábitos saudáveis, transmitindo a cultura de surf de forma consistente às novas gerações.

 
Acha que a cultura de surf está a ser corretamente transmitida às novas gerações?


Não generalizando, acho que, no contexto da sociedade actual e na especificidade das gerações mais novas, fazemos um excelente trabalho nesse sentido.
O combate ao sedentarismo e promoção de hábitos de vida saudáveis através da prática de surf, procurando um equilíbrio entre a vertente desportiva e a vertente lúdica e de partilha, acho que são motivos para poder afirmar que fazemos um excelente trabalho na transmissão de valores e cultura de surf.

 


O papel das escolas no circuito competitivo

Apesar de a imagem das escolas ser muitas vezes vista como entidades privadas focadas no lucro, Pedro acredita que estas têm um papel essencial na formação e promoção do surf, até na vertente competitiva.

“Acredito que os clubes devam ser os principais players no contexto competitivo, mas as escolas também têm um papel que nem sempre lhes é reconhecido.”

Uma ideia que partilha para o futuro? Promover eventos competitivos mais lúdicos, num ambiente descontraído, onde não haja vencedores nem vencidos, mas apenas surf, camaradagem e partilha.

 

Considera que as escolas poderiam ter um papel mais ativo no circuito competitivo?


No contexto actual a imagem das escolas é de entidades privadas apenas preocupadas com lucros e receitas, no entanto, no meu entender, são parte fundamental do desenvolvimento e promoção do surf em todas as vertentes. Acredito que os clubes devam ser os principais players no contexto competitivo até pelos estatutos que os regem, no entanto, as escolas têm um papel fundamental que nem sempre lhes é reconhecido no contexto de competição das camadas de formação.
Seria talvez interessante numa fase de formação as escolas promoverem eventos competitivos com forte vertente lúdica, em ambiente descontraído como forma de desdramatizar o fantasma que alguns miúdos vêm na competição, onde não houvesse vencidos e que que o surf e os seus valores fossem enaltecidos.


Com esta visão equilibrada e prática, Pedro junta-se às vozes que, no fórum Surftotal, desafiam o surf português a continuar a crescer – sem perder a alma, nem os seus valores mais essenciais.

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