Norte Surf Fest regressa a Matosinhos: entrevista com Afonso Teixeira, organizador do evento segunda-feira, 01 setembro 2025 09:25

Norte Surf Fest regressa a Matosinhos: entrevista com Afonso Teixeira, organizador do evento

O cartaz conta com a presença de nomes icónicos como Bethany Hamilton e Tom Carroll, a homenagem ao surfista Abílio “Billy” Pinto, música ao vivo, competições, surf adaptado, limpezas de praia e até uma nova tentativa de quebrar o recorde mundial

 

De 26 a 28 de setembro, Matosinhos e Porto recebem a segunda edição do Norte Surf Fest, um encontro que celebra a cultura e a história do surf, aliando sustentabilidade, bem-estar e inovação. O cartaz conta com a presença de nomes icónicos como Bethany Hamilton e Tom Carroll, a homenagem ao surfista Abílio “Billy” Pinto, música ao vivo, competições, surf adaptado, limpezas de praia e até uma nova tentativa de quebrar o recorde mundial do Guinness para o maior número de surfistas a deslizar a mesma onda em simultâneo.

Falámos com Afonso Teixeira, organizador do evento, que nos revelou a origem do festival, os principais desafios e o que não se pode perder este ano.

 

Surftotal - Como surgiu a ideia do Norte Surf Fest e o que vos motivou a criá-lo?

AT: O objetivo foi sempre criar um momento que reunisse a comunidade de surf local da região norte, inicialmente através da ideia de quebrar o recorde do Guinness para o maior número de surfistas a deslizar a mesma onda, mas que foi evoluindo até se tornar num evento único na região, de promoção da cultura e do lifestyle do surf. Sentimos que havia um certo vazio na região, de eventos focados nestas áreas do surf, a sua história e cultura, as pessoas e as histórias da comunidade, não só a nível local como internacional, tudo aquilo que diferencia o surf dos outros desportos, enquanto uma atividade recreativa que tem um lifestyle muito próprio associado.

 

Surftotal - O ano passado celebraram “o surf e o mar ao longo de três dias”. Que balanço fazem da edição de 2024?

AT: A edição inaugural, no ano passado, foi um sucesso. Penso que conseguimos atingir os objetivos a que nos propusemos, como criar a marca e torná-la reconhecida, para que se pudesse tornar num festival com frequência anual e não apenas num evento isolado. Criámos um evento com dimensão internacional, com a presença de grandes ícones do surf mundial, nomes como Sam George, Nick Carroll ou Júlio Adler, para pensar e refletir sobre o estado do surf. Além disso, quisemos celebrar a comunidade local, destacar e homenagear algumas das principais figuras responsáveis pelo desenvolvimento do surf na região. Conseguimos um alcance muito interessante e, acima de tudo, uma taxa elevadíssima de satisfação e aprovação por parte de quem esteve presente no evento.

 

Reforçamos que é um festival para toda a comunidade, não só surfistas.

Vamos introduzir os temas do bem-estar e da superação através do surf,

com destaque para a presença de Bethany Hamilton e do bicampeão mundial Tom Carroll.

 

Surftotal - Em 2024, tinham como objetivo bater o recorde mundial do maior número de pessoas a surfar a mesma onda em simultâneo. Conseguiram atingir essa meta? E haverá tentativa de novo recorde este ano? 

AT: Esse objetivo não conseguimos atingir. Tivemos cerca de 250 surfistas na água, o que teria sido mais do que suficiente para se quebrar o recorde, caso as condições do mar tivessem sido melhores. Tivemos excelentes ondas durante os dois primeiros dias do evento, mas infelizmente estas faltaram no dia da tentativa de quebrar o recorde, e não tivemos condições para o fazer. Este ano tentaremos novamente, mais preparados logisticamente graças à aprendizagem do ano passado, e com expectativa de termos mais ondas para conseguirmos trazer este recorde para Matosinhos.

 
Surftotal - Quais são as grandes novidades para a edição de 2025? Há algo que queiram destacar desde já?

AT: Nesta 2ª edição, queremos, acima de tudo, reforçar a imagem de um evento que não é direcionado apenas para surfistas, mas para toda a comunidade e para todas as idades. Teremos novamente várias atividades a acontecer em simultâneo ao longo dos 3 dias, naquele que será um festival de surfistas para toda a comunidade apaixonada pela praia e pelas atividades de ar livre. Vamos, ainda, introduzir os temas do bem-estar e da superação mental através do surf e do mar, como elemento terapêutico e de resiliência, com destaque para a presença de nomes incontornáveis como a Bethany Hamilton ou o Tom Carroll.

 

Surftotal - Que tipo de atividades estão programadas este ano além do surf? (música, sustentabilidade, workshops, etc.)

AT: A aposta que estamos a fazer em atrair mais público não surfista para o evento irá traduzir-se, precisamente, na diversidade das atividades. Teremos um espaço novo, no Jardim do Sr. do Padrão, que irá contar com uma programação própria, gratuita e aberta ao público, desde sessões de yoga e flow together, a workshops sobre sustentabilidade, fabrico de pranchas em madeira, fotografia, entre outros. Além disso, vamos este ano ter a novidade da música ao vivo, com a presença de bandas com uma ligação intrínseca à cena do surf local, com destaque para os Souls of Fire, os Not All Tails, os Population 5 e os Sadhana. Vamos, ainda, trazer outras formas de deslize nas ondas, como as canoas havaianas - Outrigger Canoes, que estão na origem do surf - através de uma parceria com o Ocean Club da Ericeira que organiza o OC4 Surfing Challenge, a primeira competição mundial da modalidade.

 

Surftotal - O Norte Surf Fest teve uma forte componente de inclusão e sustentabilidade. Como pretendem reforçar esses valores este ano?

AT: Nós tentamos que a sustentabilidade faça parte de todas as fases do evento e que seja, acima de tudo, seja uma forma de pensar e executar as tarefas por parte de toda a equipa. Por essa razão, estamos alinhados com a certificação de sustentabilidade STOKE Certified desde o primeiro dia de planeamento do evento, o que nos garantiu a certificação da 1ª edição. Este ano, estamos novamente a trabalhar com eles para aumentarmos o nosso nível de enquadramento com os indicadores e critérios desta certificação. Pretendemos fazê-lo não apenas através das questões ambientais (no ano passado, por exemplo, calculámos a pegada de CO2 resultante do evento e compensámo-la com a plantação de 55 árvores na Serra do Alvão), mas acima de tudo através da componente social: este ano vamos ter uma sessão de surf adaptado conduzida pelos nossos parceiros da Surfit Terapêutica, vamos reforçar o envolvimento e a promoção da comunidade local através de atividades como a exposição e concurso de fotografia com o tema "Ondas do Norte", o regresso das "Conversas à Nortada", as limpezas de praia, entre muitas outras atividades.

 
Surftotal -Que impacto sentem que o evento tem tido na comunidade local – seja a nível económico, cultural ou desportivo?

AT: Acima de tudo, acho que teve a aceitação e o reconhecimento da comunidade local de surfistas mais core, que era algo muito importante para nós. Tivemos a participação de muitos dos surfistas de referência local, os "local heroes" dos nossos picos, entusiasmados com a partilha de experiências e conhecimentos por parte dos grandes nomes internacionais que estiveram presentes. Sinto que os surfistas precisavam de algo assim, que trouxesse ao Norte do país algumas das figuras que todos crescemos a admirar, para poderem partilhar um pouco da cultura de surf que se vive noutros locais, penso que isso alarga os horizontes e nos faz crescer como comunidade de surf. Ou seja, acredito que o contributo mais importante tem sido o cultural, embora naturalmente o contributo económico associado a eventos deste tipo seja importante para a região, com a chegada e a estadia de turistas, os consumos do público do evento em torno de toda a marginal da Praia de Matosinhos e Internacional, tudo isto acrescenta valor para o destino e para os comerciantes e negócios locais.  

 

Surftotal - Há algum número ou expectativa para este ano em termos de participantes, público ou atletas?

AT: Na edição do ano passado, estimamos que tenham tido contacto presencial com o evento 80 a 100 mil pessoas, ao longo de todo o evento, em todas as venues espalhadas pela marginal e pela praia. Estimamos um número semelhante este ano, que estará naturalmente muito dependente das condições climatéricas que tivermos. O local onde o evento acontece é ponto de passagem para milhares de pessoas durante o fim-de-semana, o que garante um elevado nível de exposição para o evento e os parceiros associados. Em relação à participação ativa nas diversas atividades do evento, tivemos cerca de 1900 participantes, número que pretendemos fazer crescer este ano com a introdução das várias atividades que vão acontecer no Jardim do Sr. do Padrão, com destaque para os concertos ao final do dia e o encerramento do evento, na Praia de Matosinhos no domingo.    

 
Surftotal - Como está a ser o apoio das entidades locais, patrocinadores e parceiros? É fácil mobilizar apoio para um evento com esta dimensão?

AT: Nunca é uma tarefa fácil angariar os recursos para um evento desta natureza, que depende exclusivamente dos patrocínios. Contudo, felizmente temos tido os parceiros ideais, que partilham da nossa visão para o evento e estão entusiasmados em fazer crescer este movimento de estabelecer o Norte como um centro de referência para se apresentar e discutir a cultura do surf mundial, mas também a sustentabilidade, a inovação e a tecnologia. Estamos muito gratos por recebermos todo este apoio e pretendemos continuar a inovar e a marcar a diferença para garantir o retorno dos nossos parceiros e para que outros se possam identificar e reconhecer a mais valia de estarem associados a esta festa do surf.

 

Surftotal - Qual tem sido o maior desafio de organizar um festival de surf no norte de Portugal?

AT: O menor reconhecimento do destino no meio do surf, comparativamente aos destinos mais a sul, que representa um desafio para qualquer promotor de eventos de surf na região. Vivemos ainda muito na sombra de destinos afirmados como a Ericeira, Peniche, Nazaré, Cascais, Caparica, entre outros. Ficamos um bocado fora do "radar" de surfistas internacionais que viajam para Portugal à procura de ondas e, como tal, há uma menor atenção e exposição mediática, o que se reflete também em menos apoios. Foi com o intuito de alterar essa realidade que decidimos posicionar o Norte Surf Fest numa área que não tem sido muito explorada e, assim, podermos afirmar o Norte de Portugal como um destino complementar aos restantes destinos nacionais. É por isso que temos um envolvimento tão forte de parceiros locais, de entidades com uma forte presença na comunidade, que se identificam com este objetivo de criar um posicionamento próprio para a região enquanto destino de surf, um posicionamento centrado na partilha e no conhecimento, na cultura de surf e do lifestyle de praia.  

 

Surftotal - Para quem nunca foi ao Norte Surf Fest, o que é que não pode mesmo perder?

AT: Numa programação tão variada, isso depende um bocado das preferências de cada um. Sem dúvida que as Surf Talks são uma oportunidade única de ouvir algumas das principais figuras mundiais em diversos temas em torno do surf: para quem gosta de pensar o surf nas suas várias formas, esta é uma atividade fundamental, além de permitir aos Treinadores obterem os créditos para revalidarem as suas cédulas. Para além disso, toda a programação da zona social do evento, no Jardim do Sr. do Padrão, será uma oportunidade para toda a família passar um bom momento, com comida e bebida, música ao vivo e muitas atividades ao longo do dia. A Surf Expo será de passagem obrigatória, uma exposição ao longo da marginal de Matosinhos com fotografias submetidas pelo público sob o tema "Ondas do Norte" - toda a gente terá a oportunidade de votar na sua fotografia favorita e os fotógrafos vencedores receberão prémios da Insta360. Por fim, no último dia de festival, a participação no paddle-out em memória do Billy e na tentativa de quebrar o recorde do Guinness para o maior número de surfistas na mesma onda, seguidos do encerramento do evento com DJ Set na Praia de Matosinhos, serão momentos obrigatórios para todos os surfistas.   

 

Surftotal - Para terminar: qual é o teu maior desejo pessoal para esta edição do Norte Surf Fest 2025?

AT: Pessoalmente, o meu desejo é que as pessoas se divirtam e passem um bom bocado. Que possamos ajudar a criar as condições para que toda a comunidade de surf local tenha a oportunidade de se juntar e de conviver, de partilhar histórias e memórias, de momentos passados dentro e fora de água. E que toda a comunidade local não surfista possa ficar a conhecer melhor a nossa cultura e identidade, aquilo que nos caracteriza enquanto surfistas e toda a herança que esta atividade carrega ao longo de séculos de história e tradição. Desejo que os nossos convidados de referência internacional conheçam o melhor que a nossa região tem para oferecer e que nos ajudem a construir esta imagem de referência no panorama do surf mundial. 

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