Perito em medições explica à SurfTotal porque a onda de Koxa é a maior e diferente de tudo o que é habitual na Nazaré.
Paulo Vinícius explica quem é, como surgiu esta nova medição, quais os critérios técnicos utilizados...
A recente sequência de imagens da onda surfada por Rodrigo Koxa, na Nazaré, continua a gerar enorme impacto no mundo do surf de ondas grandes. Perante a dimensão e as características raras da vaga, a SurfTotal falou com Paulo Vinícius, surfista, designer e cineasta brasileiro, responsável pela medição independente da onda, que aponta para um valor superior a 29 metros.

Nesta conversa, Paulo Vinícius explica quem é, como surgiu esta nova medição, quais os critérios técnicos utilizados e porque considera esta onda particularmente especial e diferente de tudo o que é habitual na Nazaré.
Quem é Paulo Vinícius e qual a sua ligação às medições de ondas gigantes?
Paulo Vinícius:
“Sou designer, cineasta e surfista. Desde 2017 que acompanho de perto as ondas do Rodrigo Koxa e, desde a primeira grande onda dele, comecei a interessar-me pela medição de ondas gigantes.”
“No primeiro recorde do Koxa, recebi a imagem, fiz a medição e ficou claro que ele tinha batido o recorde mundial. Na altura, esse reconhecimento só aconteceu depois de muita divulgação das imagens e da medição, com apoio da Associação de Surf do Guarujá, imprensa e várias pessoas da comunidade do surf.”
“Mais tarde, esse recorde acabou por ser ultrapassado pelo Sebastian Steudtner, em 2022, mas se colocarmos as imagens lado a lado, é evidente que a onda do Koxa tem uma escala diferente.”

O que aconteceu desta vez? Porque decidiu medir novamente esta onda?
“Na sexta-feira, dia 19 de dezembro de 2025, o Koxa enviou-me uma nova imagem da onda que surfou na Nazaré. Assim que bati o olho, pensei imediatamente: isto tem potencial para ser mais uma quebra de recorde.”
“Medi a onda, refiz a medição seguindo todos os critérios técnicos e enviei-lhe a mensagem: ‘Parabéns, Koxa, quebraste novamente o recorde mundial’. Ele já sentia que a onda era especial e ficou naturalmente muito feliz.”

O que torna esta onda diferente das outras ondas da Nazaré?
“Esta onda tem uma conotação diferente. Quem olhar para a imagem de dentro de água, com a onda de lado, percebe logo.”
“Na Nazaré estamos habituados a ondas oceânicas, enormes massas de água que se formam mais no outside. Esta não. Esta onda quebrou mais perto da areia, mais em cima da bancada, próxima das pedras.”
“Isso faz com que o lip seja projetado muito mais longe, criando uma onda mais buraco, mais cavernosa, com um tubo muito largo e profundo. É algo raro ali.”
“Por ser tão rápida, rasa e próxima das pedras, é também muito mais perigosa. Um erro ali pode significar cair no meio das rochas, com risco real de consequências graves. Por isso é uma onda pouco surfada e extremamente comprometida.”

Afinal, como funciona o método de medição que utiliza?
“O método é simples, mas exige rigor.”
A unidade de medida é o próprio surfista
“Começo por medir a canela do surfista. No caso do Koxa, a canela mede 0,53 metros. Essa passa a ser a unidade base.”Definição clara do topo e da base da onda
“O topo é sempre o ponto exato de onde o surfista parte. A base é onde o lip toca na água, definindo claramente o fundo da onda.”Contagem de unidades
“Duplica-se a medida da canela sucessivamente entre o topo e a base. Nesta onda, cheguei a 55 unidades.”Cálculo final
“Multiplicando 55 unidades por 0,53 metros, chegamos a 29,15 metros.”
“Importa referir que trabalho sempre com uma margem de erro de cerca de 5% para mais ou para menos, o que é normal em medições deste tipo.”

Porque considera importante explicar este processo ao público?
“Porque só olhar para a massa de água pode ser enganador. O que importa é onde o surfista efetivamente surfou a onda, até onde desceu, e qual foi a base real.”
“No caso do Sebastian Steudtner, por exemplo, a onda é gigantesca, mas o surfista não desceu até à base total da onda. Cruzou mais por trás. Isso não invalida o feito, mas muda o critério técnico da medição.”
“Na onda do Koxa, ele desce até à base, passa a base e entra numa zona de slab. Isso valoriza a energia total da onda.”
“Acho que nós, enquanto surfistas e pessoas ligadas a este meio, temos a responsabilidade de explicar corretamente ao público como estas medições são feitas.”
E agora, o que se segue?
“Esta nova imagem, captada pelo Matias Hammar, permitiu uma nova medição ainda mais precisa. As imagens vão aparecendo com o tempo e isso é normal.”
“Acho muito interessante, se fizer sentido, aprofundar este tema, explicar melhor os critérios e até entrevistar quem mede ondas, para trazer mais clareza e transparência.”
“Estou muito feliz com esta medição e com o momento do Koxa.”

Paulo Vinícius é surfista, designer e cineasta.
Nota editorial SurfTotal
Nota importante:
O recorde oficial atualmente reconhecido para a maior onda surfada pertence a Sebastian Steudtner, com 26,21 metros, registado na Nazaré a 29 de outubro de 2020.
Qualquer novo recorde depende sempre de validação por entidades oficiais como o Guinness World Records.
A SurfTotal continuará a acompanhar este tema com rigor jornalístico, dando espaço à explicação técnica, às imagens e ao debate informado dentro da comunidade do surf de ondas grandes.
- Créditos fotos: @mcsnowhammer @rennanchaves_

Paulo Vinícius é surfista, designer e cineasta.


