Alex Botelho, de Lagos para o Mundo. Alex Botelho, de Lagos para o Mundo. Foto: Luke Gartside/Wavelengthmag quarta-feira, 09 agosto 2017 15:21

Alex, o grande

Fica a conhecer melhor o "charger" português que deu cartas em Puerto Escondido...

 

Natural de Lagos, Alex Botelho já nasceu grande. Foi buscar a genética ao seu avô. Em miúdo, não funcionava à base da força ou do castigo, pois, como todos os miúdos inteligentes, precisava compreender o porquê das coisas. 

 

João Cabrita, seu amigo de infância, explica a sua dualidade. Por um lado tem o foco, a disciplina e a determinação que o leva a atingir os seus objetivos, mas, por outro, sobressai o seu lado “nerd” de quem gosta de levar um dia de cada vez na brincadeira e na descontração. 

 

Ele reconhece que teve sempre rodeado de pessoas autênticas e que o ajudaram muito na sua carreira. Fala de Sérigo Wu com enorme consideração pelo papel crucial como treinador no inicio da sua carreira…  ou do seu shaper de longa data, Octávio Lourenço da Ferox, a fazer lembrar a relação de John John com Pyzel, uma relação fiel, de amizade e evolução mútua.

 

O seu foco revela-se desde cedo, surfista de grande talento técnico e de manobras progressivas que começa a deixar o espírito da competição quando resolve, aos 18 anos, trabalhar em restaurantes no verão em Lagos, com o objetivo de viajar para a Califórnia e surfar a mítica onda de Mavericks. 

 

É então que conhece João de Macedo, outra grande referência de peso na sua ainda curta carreira. Na altura não havia na Europa blocos de prancha para as medidas que ele queria, então Octávio teve de alterar, imagine-se, um bloco de Longboard para fazer a sua primeira “gun”.

 

Há um lado misterioso na maior parte dos grandes surfistas algarvios, talvez proveniente de algum isolamento. Recordo-me com saudade do “Xana", muito calmo também, de poucas palavras e grande humildade, com um estilo bonito de se ver. Recordo-me vivamente também do "Zé dos Cães", a surfar no Zavial de pés juntos. “Brek” (João Bracourt), talvez o maior “observador fotográfico de Surf” da costa algarvia, diz que o Alex é parecido com o Zé dos Cães sem as drogas. 

 

Não há duvida que o surfista algarvio é dotado de estilo. Os irmãos Mouzinho, Guichard, Mealha, Marlon, etc; comprovam isso mesmo. Há um relaxamento natural de quem vive na região e isso acaba por se refletir na sua forma de surfar.

 

Dotada de estilo também é a sua prancha “vadia”. Esta 11 pés tem uma longa história: já caiu várias vezes do carro, já se desprendeu do jet ski e foi reencontrada, era ela que lá estava também no dia de Natal na Nazaré, a descer montanhas de água azuis direcionadas pelos seus pés. 

 

Alex, ao contrário de muitos surfistas conhecidos, não leva a máquina comercial atrás de si. Ele decide sozinho e vai atrás dos seus objetivos. 

 

Quando soube do swell promissor havaiano em Jaws, comprou o bilhete oito horas antes da viagem para a ilha de Maui, levou consigo uma 10’6" e a mítica “vadia”. Entrou no mar sozinho. Aliás, nem sabia onde era a entrada. Nesse dia Jaws recebeu uma das maiores ondulações dos últimos tempos, demorou apenas 20 minutos para agarrar uma das maiores ondas da série, na remada, como ele gosta. Foi o primeiro português a fazê-lo.

 

Vê-lo na semana passada na primeira etapa do campeonato de ondas grandes da WSL, embrulhado na nossa bandeira no pódio, em Puerto Escondido, de forma inesperada (inicialmente não estava convocado!) mas não surpreendente, foi simplesmente extraordinário. Há muita paixão, muito querer, muito foco…

 

O jovem de Lagos é isto tudo, tem o dom de estar dentro e fora da máquina do mainstream como poucos ou até ninguém. Educado no trato, sensível, de ligação forte à natureza, admirado pelos surfistas mais experientes, uma referência para os mais novos, tem o estatuto de big wave rider, atlético, progressivo, surfista de rail, tube rider e com grande maturidade apesar da idade.

 

Posto isto, haverá algum surfista nacional tão abrangente como ele? Que consiga abarcar todos os aspetos do surf na sua essência e extensão?

 

Eu vejo alguns com esse potencial, como Nicolau von Rupp ou Miguel Blanco, que são dois bons exemplos. Porém, apesar de serem surfistas de ondas grandes, ainda não atingiram o estatuto de big wave rider, estão a fazer o seu caminho, ainda focados na competição, embora já deem sinais dessa abrangência de que o surf precisa e agradece.

 

    Texto: Bernardo “Giló” Seabra 

 

 

--

Revê aqui a última entrevista com Alex Botelho. 

 

 

Itens relacionados

Perfil em destaque

Scroll To Top