Segundo João Capucho, um novo julgamento deve ser equacionado para o World Tour. Segundo João Capucho, um novo julgamento deve ser equacionado para o World Tour. Foto: WSL quarta-feira, 25 maio 2016 10:34

5 MEDIDAS URGENTES NA W.S.L.

Ondógrafo por João Capucho.O critério de julgamento, o número de eventos e os wildcards da WSL em análise… 

 

5 Mudanças Urgentes na World Surf League

 

É inquestionável que, desde a entrada dos americanos da WSL na ASP no final de 2013, se deu um tremendo salto comercial, logístico e técnico na principal competição mundial da modalidade. No entanto, também é verdade que ainda não foram tomadas, a nivel regulamentar, algumas medidas de fundo e que este atraso pode estar a contribuir para um arranque de 2016, menos fulgurante e menos interessante das competições, principalmente na categoria masculina. Várias deveriam ser as alterações a nível regulamentar. Senão vejamos:

 

1. A Arbitragem

Nos últimos 20 anos apenas se introduziram duas mudanças fundamentais na arbitragem do surf: reduziu-se de 3 para 2 o número de ondas ilegíveis e, mais recentemente, introduziu-se o video árbitro. Duas medidas que inequivocamente melhoraram a verdade desportiva, mas que vieram a prejudicar o surf como espectáculo televisivo. Por um lado, a necessidade de seleccionar apenas duas ondas, contribuiu para vermos menos tempo de acção dos surfistas. Por outro lado, o excessivo – e mal regulamentado – recurso ao video árbitro fez demorar o tempo de saída de cada nota e dos resultados, situação mais caricata quando a decisão fica remetida para os últimos segundos de cada eliminatória. Imaginem o futebol, com uma decisão do árbitro a demorar 2 a 4 minutos.

 

2. O julgamento

O critério continua, como na década de 70, a basear-se numa subjectividade tremenda considerando aspectos como o empenho, o grau de dificuldade, a inovação, a combinação e variedade de manobras, a velocidade e a fluidez para atribuir notas de 0 a 10 pontos em que o primeiro quintil corresponde a uma onda pobre e o último a uma onda excelente. No terreno, com estas amarras desamarradas, discute-se a new school e o carving, o aerial e o re-entry e até o estilo, algo que nem sequer está oficialmente incluído no critério e que, quem sabe, poderá também explicar o titulo do Adriano Sousa e as soporíferas vitórias de Matt Wilkinson em 2016. Os surfistas parecem “perdidos” no rumo a seguir e sendo certo que as manobras fora da onda “valem pontos”, também é verdade que têm provocado mais lesões e que os próprios juízes foram caindo no erro de indexar a pontuação à altura da manobra, sem que isso venha escrito no critério. Deveria pois o surf pensar numa solução semelhante à patinagem artística em que cada atuação é alvo de 2 notas: uma artística, outra técnica, somando-se as duas, onda a onda, com 3 ondas. E talvez com isto teríamos mais JJ Florences e Julian Wilsons e menos Mineirinhos e Wilkinsons.

 

3. Quantidade e Distribuição das Provas

Imaginem a F1 ou o Moto GP com quase 30% das provas no mesmo país e que esse país tem um fuso horário de 6 a 11 horas com os maiores consumidores de espectáculos desportivos nos media. Num Tour com 11 provas, é totalmente absurdo realizarem-se três delas na Austrália e deixar escapar a Ásia, mitigar a Europa e esquecer África, América do Sul e Central, num desporto que se pretende global. Mais, com apenas 11 provas, com duração efectiva de 3 a 4 dias (em 11 calendarizados) por evento, maioritariamente interpolados pelas condições de mar, a WSL tem vários períodos mortos, por oposição, por exemplo, à F1 que, em 2016, vai ter 21 (!) Grandes Prémios bem repartidos por vários continentes, com excepção de África. Ou as 14 provas do Mundial de Ralis. O caminho deve apontar para a redução do número de dias de cada prova e para um aumento para 16 a 18 eventos por ano, mesmo que alguns tenham de ser disputados em ondas de menor qualidade ou em piscinas de ondas (e nisto a WSL está claramente a posicionar-se).

 

4. Apuramento do Campeão

Uma Liga, por definição, é uma competição organizada pelos seus participantes, em número limitado ou fechado, que competem várias vezes, todos contra todos. Veja-se o mais recente exemplo da Liga profissional de Futebol e imagine-se o que seria se os clubes pudessem descartar alguns jogos ou porque o campo não era o mais favorável ou por outro motivo qualquer. Imagine-se também que, nas 21 provas do mundial de F1, os pilotos nem precisariam de comparecer em provas para as quais inclusivamente alguns fãs compraram bilhete ou pagaram uma subscrição num pacote web ou tv para assitir em casa. Pois bem, no surf...isto ainda é possivel. Das 11 provas, os atletas poderão, “justificando”, faltar a 3 porque apenas contam as 8 melhores classificações para o apuramento do campeão. Pior. Se alegarem uma lesão, ser-lhes-ão conferidos os mesmos pontos que um atleta que, tendo participado, perdeu logo na 2ª ronda (25º). A lesão é uma contingência de qualquer modalidade e a presença é uma obrigação de qualquer profissional, com exceção do surf e com as consequências que vimos na etapa do Rio de Janeiro à qual faltaram, com argumentos desconhecidos ou pouco convincentes, alguns dos melhores surfistas. Obviamente que deveriam contar todas as provas e quem não vai, por lesão ou opção, deveria ter zero pontos.

 

5. As Subidas, as Descidas e os Wildcards

Dos 36 surfistas que arrancam no início de cada ano, 22 transitam da época anterior, 10 sobem das Qualifying Series e 4 vagas (mais de 10%!) são deixadas para convidados, prova a prova. No entanto, todos os surfistas que competem no Championship Tour podem também competir na Qualifying Series e, em muitas ocasiões, tapando vagas ou fechando oportunidades para quem tenha o sonho de arrancar uma campanha de qualificação. Pior, a qualificação é feita à escala global, sem qualquer alocação continental – como existe no Mundial da FIFA – situação que favorece os atletas dos países onde se organizam provas, como bem atesta o atual número de brasileiros na elite mundial e a ausência de europeus (Jeremy Flores é da Ilha Reunião). Para distorcer ainda mais tudo isto, em cada prova podem entrar 4 convidados – apenas 1 deles para o organizador - situação que fecha mais 3 vagas e introduz doses massivas de inverdade desportiva, a ponto de um mesmo atleta poder ser várias vezes convidado e, no limite, ganhar provas e liderar o ranking. Deveria pois terminar a dupla qualificação, aumentar de 10 para 13 o numero de vagas, cingir o wildcard ao campeão de cada país e distribuir-se as vagas pelos continentes fomentando a globalização e valorizando os titulos continentais.

 

Opinião: João Capucho 

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