O RELATO DE UM HABITANTE LOCAL SOBRE O CLIMA QUE SE VIVE NA COSTA VICENTINA DEVIDO AO CARAVANISMO SELVAGEM quarta-feira, 23 dezembro 2020 11:58

O RELATO DE UM HABITANTE LOCAL SOBRE O CLIMA QUE SE VIVE NA COSTA VICENTINA DEVIDO AO CARAVANISMO SELVAGEM

Que tem vindo a crescer nos últimos anos...

O caravanismo selvagem está a tomar de assalto o concelho de Vila do Bispo e toda a Costa Vicentina.

Os caravanistas e campistas têm invadido os parques de estacionamento das praias, estacionando junto às falésias, dormindo em roulotes, carros, carrinhas ou tendas e semeando lixo por onde passam.

No mês passado, um grupo de populares insurgiu-se contra vários caravanistas que se encontravam a acampar durante a noite em três praias na Vila do Bispo, num local onde é proibido pernoitar.

Esta ação é o reflexo da saturação destes habitantes locais que visam proteger a região do flagelo do campismo e caravanismo selvagem de que tem vindo a ser alvo.

A Surftotal foi falar com um habitante local que nos deu um relato da situação que se vive na Costa Vicentina, um local de uma enorme beleza natural e que esta realidade põe em causa.

 

 Hoje em dia, é frequente encontrar várias caravanas estacionadas em locais proibidos.

 

 

Segundo o surfista Miguel "Cebola", que é de Gaia mas vive no Concelho de Vila do Bispo desde 2004, sempre existiu caravanismo e acampamento selvagem, embora na sua generalidade pontual.

Estes campistas selvagens no ano referido, de uma maneira geral, adotavam boas práticas e a verdade era que além de serem no geral pessoas com boa onda, apenas ficavam alguns dias ou semanas no máximo, e quando iam embora não deixavam marcas negativas e até eram de uma forma geral pessoas aguerridas no que tocava à defesa da Natureza e Meio Ambiente local.

Com o passar dos anos, começaram a criar algumas comunidades em vários locais, com maior notabilidade na Praia do Barranco e alguns locais na Serra de Monchique (sim porque este problema não é só nas praias).

Da criação de comunidades até ao que se vive hoje em dia, foi um piscar de olhos.

 

 

 

"Hoje em dia, é frequente chegar a locais que até à poucos anos eram quase secretos,

e encontrar não algumas, mas várias caravanas estacionadas de forma aleatória, sem terem qualquer respeito pelas áreas

envolventes como vegetação e dunas."

 

 

 

Segundo a opinião do surfista, o que numa fase inicial era visto e relatado pelos caravanistas selvagens como uma forma alternativa de estar na Terra, e na sua ideologia própria proteger a mesma (citando os mesmos), rapidamente passou a ser uma forma de ser “cool”, isto associado ao crescente movimento do Surf e respectivos praticantes por toda a Europa.

Portugal passou a ser a fórmula perfeita, sol e ondas o ano inteiro, país “livre” em que se pode fazer tudo e nada acontece, comunidades locais em geral passivas e autoridades sem capacidade legal de atuar, ou neste caso autuar.

Hoje em dia, é frequente chegar a locais que até à poucos anos eram quase secretos, e encontrar não algumas, mas várias caravanas estacionadas de forma aleatória, sem terem qualquer respeito pelas áreas envolventes como vegetação e dunas, por exemplo.

Uma situação que já de si ia ficando cada vez pior e mais descontrolada, em que são frequentemente deixados resíduos de lixos como garrafas, roupas velhas e sacas plásticas mal fechadas a espalharem os lixo pelas áreas supostamente protegidas, em, que os contentores de lixo disponibilizados pelas autarquias estão abarrotar e deixam o lixo no chão ao lado,  associou-se a Pandemia pela qual todos estamos a passar. Estavam reunidas as condições para as coisas começarem a mudar.

 

 

 

O problema do caravanismo ilegal não é só nas praias.

 

 

 

Miguel "Cebola" pensa que a gota de água da população local foi durante o confinamento, pois quem tinha casa e identificação portuguesa tinha que ficar em casa, mas estes caravanistas selvagens continuaram a fazer as suas vidas com a maior descontração, surfavam, passeavam, iam para a Serra, enquanto os residentes locais, portugueses e não portugueses mas residentes, estavam confinados em casa por ordem nacional.

Com o desconfinamento a acontecer e a consequente chegada do Verão, as novas regras de funcionamento dos locais de trabalho, das praias etc, deixou muita expectativa numa comunidade local já ansiosa pelo que aí vinha.

Na opinião do surfista foi aqui que os problemas começaram, pois para trabalhar na praia havia bastantes limitações.

Era constante chegar às praias para trabalhar e não haver uma vaga de estacionamento para poderem descarregar as carrinhas em segurança e manter as distâncias de seguranças previstas pelas autoridades (no contexto Covid).

Entre a comunidade local começam a ser frequentes e diários os relatos de más experiências com estes caravanistas selvagens.

Falta de respeito dentro e fora de água, sujidade por todo o lado, um cheiro nauseabundo de urina e fezes um pouco por todo o lado onde se podia estacionar, levou a que as autoridades locais colocassem placas claras de proibição de estacionamento ou pernoita em vários locais.

Apesar de começarem a haver sinalizações verticais, os campistas selvagens faziam vista grossa e era como se nada estivesse lá.

 

 

 

O facto de os caravanistas terem continuado a surfar e passear durante o confinamento contribuiu para um maior descontentamento da população local.

 

 

Este foi o clima que se viveu todo o Verão, um clima tenso em que nada se podia fazer devido à escassez de meios das autoridades locais.

Chegado Outubro não havia praia que não tivesse no mínimo 30 carrinhas, chegando a serem mais de 100 carrinhas em certas praias.

Como forma de mostrar o seu descontentamento, a comunidade local começou-se a organizar de forma espontânea e ligava diariamente para as autoridades para irem às praias e obrigarem estes caravanistas selvagens a cumprirem as regras e aliviarem a pressão exagerada que estavam a fazer nas praias e serras.

Em alguns casos, aliás foi notícia de jornal nacional, houve uns ajuntamentos espontâneos em que a comunidade local foi ela própria interpelar de uma forma cívica os caravanistas selvagens, incentivando estes a usar os parques de campismo locais para pernoitarem.

Desde o início de Dezembro, tem-se notado uma mais efetiva e eficaz presença das autoridades, fazendo com que as carrinhas selvagens estejam concentradas em menor número, e pernoitem nos locais adequados, o que também se deve às novas regras/ leis que permitem às autoridades ter mais base legal.

 

 

 

"São frequentemente deixados resíduos de lixos como garrafas, roupas velhas e sacas plásticas mal fechadas a espalharem os lixo pelas áreas supostamente protegidas." 

 

 

 

É visível a desordem, caos e sujidade que se assiste na Costa Vicentina.

 

 

Miguel "Cebola" é ele próprio proprietário de uma caravana. Desde sempre que o surfista praticou caravanismo com os seus pais e irmãos e refere que todos são bem vindos desde que respeitem as comunidades locais e leis nacionais.

“Há de facto um espírito especial de entreajuda e respeito nos verdadeiros caravanistas e acredito que tal como eu muitos paguem pelos erros dos outros. Em muitos comentários/ reações a estes artigos, há muita gente que diz que as comunidades locais das zonas afetadas por este fenómeno recente, têm inveja e demais coisas sem nexo. Aproveito esta oportunidade para dizer que muitos de nós têm e usufruem de autocaravanas ou mesmo carrinhas adaptadas, mas ao contrário dos caravanistas selvagens, cumprimos as normas e as regras. No meu caso pessoal, desde sempre que pratico caravanismo, e nunca fui chamado à atenção nem por comunidades locais nem por autoridades locais, quer em Portugal quer por esse mundo fora. Todos são bem-vindos, agora não estraguem o que de melhor temos em Portugal que é uma cultura rica, zonas protegidas e únicas. Venham, desfrutem, mas em harmonia com as comunidades locais e leis nacionais, como nós fazemos quando saímos de cá e vamos visitar outras partes de Portugal ou do mundo.”

 

 

Perfil em destaque

Scroll To Top