Como as alterações climáticas estão a mudar a cara do surf A ilha de Siargao, nas Filipinas, foi destruída pelo Tufão Rai segunda-feira, 29 agosto 2022 13:17

Como as alterações climáticas estão a mudar a cara do surf

Subida do nível do mar e condições extremas colocam o desporto em causa. 

 

 

As alterações climáticas são um tema cada vez mais recorrente e urgente, e a preservação dos oceanos está sempre, ou devia estar, no centro desses de debates. Enquanto pessoas cujo estilo de vida gira à volta do mar, os surfistas estão muitas vezes na linha da frente destas lutas - são os primeiros a chegar à praia para se manifestarem contra construções que possam por em causa o ambiente, são líderes de acções de limpeza de praia e consciencialização, e sentem na pele os efeitos do descaso com a natureza, muitas vezes mais cedo que os seus pares que levam a vida longe do mar. 

Ainda assim, a atenção e os esforços dos surfistas devem estar ainda mais voltados para esta problemática, não só pelas consequências que afectam a todos, ainda que os surfistas sejam mais sensíveis a elas, mas porque o próprio surf está em risco devido à destruição do planeta. Num artigo do Fansided, Melli Mortlock dá conta de algumas das mudanças que o surf enfrenta por causa das alterações climáticas. Nem todas as mudanças aparentam ser necessariamente negativas, mas todas são um sintoma deste problema e todas requerem adaptação por parte dos surfistas. 

 

 

Mais ondas XXL

 

As pesquisas científicas relativamente a esta questão continuam em curso, mas já se prevê que as tempestades tropicais serão mais frequentes e mais intensas, o que fará com que os surf spots de ondas grandes recebam swells maiores e mais duradouros. Os surfistas já começaram a sentir estes efeitos, por exemplo, no ano passado, quando Mavericks recebeu uma ondulação significativamente maior do que  habitual, e a temporada de ondas grandes durou mais tempo do que o costume. 

O outro lado da moeda é que, com mais tempestades tropicais, muitas regiões de surf ficam em risco. Em Dezembro de 2021, por exemplo, um tufão destruiu a ilha de Siargao, nas Filipinas. A possibilidade de desastres como este em locais como a Indonésia ou o México é grande, e se, por um lado, a comunidade surfista tem muito a perder com isto, as maiores vítimas são as populações locais, que além de terem as suas terras destruídas, perdem o rendimento gerado pelo turismo de surf, muitas vezes essencial nestas regiões. 

 

 

 

 

Outros fenómenos e condições extremas podem representar uma ameaça ao surf, como as temperaturas elevadas que colocam em risco quem passa boa parte do tempo exposto ao sol, as enchentes ou a erosão costeira. 

 

 

O surf é vítima e culpado, mas também pode ser solução

 

Apesar da enorme consciência climática que atravessa a comunidade surfista, não há como negar: a indústria do surf contribui para a poluição dos oceanos. O equipamento de surf é na sua grande maioria feito a partir de materiais tóxicos, e apesar de muitas marcas já procurarem soluções sustentáveis, estas muitas vezes são caras, impraticáveis, pouco eficazes, condicionam a performance, ou estão ainda em fase inicial de desenvolvimento e precisam de maturação. 

O recente boom da indústria do surf acrescenta aos seus malefícios: maior consumo de materiais, mais produção de moda ligada ao surf, mais viagens de avião para destinos de surf, mais piscinas de ondas, etc. E os esforços por parte da indústria para se tornar mais sustentável não estão a acompanhar com a rapidez necessária. 

Mas há como olhar para este copo e vê-lo meio cheio. A actual popularidade do surf faz com que a comunidade surfista tenha uma voz, capaz de fazer barulho suficiente e chegar aos ouvidos de quem interessa. Pode usar o seu alcance para difundir a mensagem desta urgente missão entre a população geral, e pode pressionar, com a carteira, de forma a exigir soluções mais rápidas e mais eficazes por parte da indústria. 

 

 

 

 

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