Ramón Navarro alerta: onda de classe mundial no Chile está a ser destruída por obras costeiras
Navarro partilhou nas redes sociais imagens das máquinas a despejar toneladas de rochas na linha de ondas, e diz “vamos, com certeza, perder a onda tal como a conhecemos hoje”...
O surfista de ondas grandes Ramón Navarro lançou um sério alerta sobre o futuro de uma das joias do surf chileno. Em Caleta Pellines, uma esquerda perfeita situada a cerca de 130 km a sul de Pichilemu, já começaram as obras para a construção de dois molhes que irão alterar de forma irreversível a configuração da onda.
Navarro partilhou nas redes sociais imagens das máquinas a despejar toneladas de rochas na linha de ondas, denunciando que “vamos, com certeza, perder a onda tal como a conhecemos hoje”. O surfista prevê que os molhes mudem o pico de entrada, empurrem a areia para fora e transformem completamente a qualidade das ondas.
Um projeto polémico
O projeto, avaliado em cerca de 4,5 milhões de dólares, prevê a construção de um molhe de 75 metros no extremo sul da baía – precisamente na zona de take-off – e outro de 25 metros no extremo norte. Além disso, serão removidos 1.600 m² de rochas para abrir espaço a lançamentos de barcos de pesca.
Segundo os documentos oficiais, o objetivo é criar melhores condições de trabalho e aumentar os dias úteis de pesca. No entanto, o próprio relatório governamental admite que os novos molhes vão alterar correntes e padrões de ondulação, podendo gerar acumulação de sedimentos em certas áreas e erosão noutras, com provável impacto negativo na qualidade da onda.
Surfistas e pescadores: todos perdem
Navarro sublinha que a comunidade surfista não é contra os pescadores, mas que este tipo de obras já se revelou contraproducente noutros locais. “Já temos exemplos em que construíram o mesmo tipo de molhe e tudo acabou coberto de areia, dificultando ainda mais o acesso para os pescadores”, disse.
A obra tem um prazo de 300 dias a partir de 23 de maio de 2025, com conclusão prevista para março de 2026. A comunidade surfista, segundo Navarro, foi completamente excluída do processo de decisão e apenas soube da intervenção meses depois do seu arranque.
Uma lei que chega tarde demais
O Chile tem em andamento um projeto de lei para a proteção de ondas, mas o processo legislativo avança demasiado devagar para salvar Pellines. “Queremos chamar a atenção do governo, dos políticos e do presidente para a importância de proteger um surf break. Em países como a Austrália, os EUA e a Europa, protege-se este património natural. Aqui temos ondas de classe mundial e querem destruí-las”, alertou o surfista.
Para Navarro, Pellines poderá ser uma onda sacrificada, um exemplo do que não deve voltar a acontecer. “Isto não é a forma certa de criar melhores acessos para os pescadores quando está em causa um local de surf.”