Para celebrar o 10º aniversário da Reserva Mundial de Surf da Ericeira foi desenvolvido o projeto ‘Ericeira WSR+10’. Entre as várias ações, uma delas foi o estudo sobre o seu impacto na última década, em termos económicos, ambientais e sociais. Estudo esse cuja apresentação serviu para encerrar com a cereja no topo do bolo a cerimónia comemorativa face ao projeto, que aconteceu na passada quinta-feira, dia 24 de fevereiro.

Conclusões do estudo sobre o impacto da Reserva Mundial de Surf na Ericeira

O coordenador do estudo, Juanma Murua, quis perceber de que forma é que o facto de ter sido reconhecida como Reserva Mundial de Surf impactou a Ericeira nos últimos 10 anos, e as conclusões foram várias. Em entrevista disse que em traços gerais tem sido positivo. “A Ericeira tem atraído muita população e isso confere-lhe um carácter mais aberto e sofisticado. Estas características fazem com que tenha uma população jovem, mais saudável e desportiva e uma estrutura económica mais dinâmica e moderna”, disse.

No entanto, nem tudo é um mar de rosas, e este apontou a falta de uma figura legal para garantir a protecção da Reserva atendendo ao crescimento populacional e turístico e à sustentabilidade. “Em vários trabalhos sobre a Ericeira que consultámos ao longo do processo de elaboração deste estudo, esta fragilidade [da figura jurídica associada à Reserva] é mencionada mas a verdade é que nunca chegou a ser concretizada. Seria importante ter uma figura legal que facilitasse e garantisse a gestão da área de forma sustentável”.

"Mais tarde, será muito difícil de reverter"

Além disso, e como já tinha sido noticiado pela Agência Lusa, Juanma Murua acredita que embora o surf tenha contribuído para aumentar o número de alojamentos turísticos e escolas da modalidade, a pressão turística trouxe problemas ambientais já que os espaços verdes não aumentaram à proporção, para além de também não ter contribuído para o aumento do emprego ou do poder de compra dos residentes. “É necessário que se tomem medidas no imediato para evitar que questões como o impacto do transporte, a urbanização excessiva ou a estagnação da qualidade de vida local continuem a tendência negativa demonstrada e que, mais tarde, será muito difícil de reverter (…). São essas pressões que devem ser respondidas com um bom planeamento de uso dos solos”, salientou em entrevista.

Mas são várias as questões que se tornam paus de dois bicos: “Como Reserva queremos que mais pessoas venham surfar e quanto mais pessoas vierem, maior será o impacto em relação às emissões derivadas do transporte”.

De acordo com o coordenador do estudo, uma das principais forças é o reconhecimento da Reserva Mundial de Surf da Ericeira pelos residentes locais e turistas. “Eles orgulham-se da Reserva, valorizam-na positivamente e querem que a protecção melhore”.

Com base neste estudo, será apresentado um guia com recomendações para o futuro da Reserva.

Cerimónia comemorativa de encerramento do EWSR+10 contou com várias participações

Várias figuras passaram pelo palco da Casa de Cultura, onde foi realizada a cerimónia de encerramento do EWSR+10, projecto comemorativo do 10º aniversário da Reserva Mundial de Surf da Ericeira, para darem o seu contributo. Houve ainda espaço para um painel de reflexão após a apresentação do estudo. Pedro Bicudo (Presidente da SOS – Salvem o Surf e membro do Vision Council das Reservas Mundiais de Surf) apresentou “A visão das associações surfistas sobre a RMSE”: dos principais problemas identificados em 2019 e respectivas propostas para os resolver ou mitigar.

Por seu turno, o Presidente do Ericeira Surf Clube (ESC), Miguel Barata de Almeida, sugeriu a criação de um Observatório da RMSE, destacando o aumento de atletas do ESC e de participantes nos campeonatos organizados pelo clube. Trouxe ainda à luz a necessidade de cativar os mais jovens para se envolverem na salvaguarda da RMSE.

Painel de Reflexão da cerimónia comemorativa EWSR+10

A Reserva Mundial de Surf da Ericeira é a única existente no continente europeu, integrando uma rede global sob a tutela da Save the Waves Coalition, associação internacional que criou este programa com o objectivo de preservar e promover regiões costeiras com ondas de qualidade ímpar – na Ericeira trata-se duma faixa costeira de 13 quilómetros que inclui sete ondas de características únicas (Pedra Branca, Reef, Ribeira d’Ilhas, Cave, Crazy Left, Coxos e São Lourenço), as respectivas paisagens e ecossistemas.

As entidades Guardiãs da RMSE são a Câmara Municipal de Mafra, o Ericeira Surf Clube, a Associação dos Amigos da Baía dos Coxos e a SOS – Salvem o Surf. O Ericeira WSR+10 foi promovido pelo Ericeira Surf Clube e financiado pela Comissão Europeia, contando com o apoio do Município de Mafra.