Bali está a atravessar uma transformação profunda sob a liderança do governador Wayan Koster, que lançou uma estratégia ambiciosa para redefinir o turismo na ilha com foco na sustentabilidade, preservação cultural e diversificação económica. No entanto, a recente demolição de negócios em Bingin Beach trouxe críticas à forma como esta visão está a ser aplicada no terreno.

Regras rígidas e nova taxa turística

Desde 2024, todos os turistas estrangeiros têm de pagar uma taxa de entrada de 150.000 rupias (cerca de 9€), destinada à preservação ambiental e cultural. Entre as novas medidas estão:

• Proibição de comportamentos desrespeitosos em templos e locais públicos;

• Uso obrigatório de vestuário tradicional em locais sagrados;

• Banimento de plásticos descartáveis e perturbações públicas;

• Obrigatoriedade de comprovativos de meios financeiros e bilhetes de ida e volta;

• Risco de deportação para infratores.

Demolições em Bingin: choque e controvérsia

Entre as medidas mais polémicas está a demolição de quase 50 negócios considerados ilegais em Bingin Beach, que teve início a 21 de julho de 2025, com o apoio de mais de 500 agentes de segurança. A operação visava construções em terrenos públicos, alegadamente em violação das leis de ordenamento e ambientais.

Contudo, muitos dos estabelecimentos existiam desde os anos 1970, sob acordos informais e tolerados durante décadas pelas autoridades. Os donos dos negócios alegam que não lhes foi dado tempo suficiente para desocupar ou negociar alternativas, apesar de três cartas de aviso terem sido emitidas. A ação foi executada de forma abrupta, criando caos entre famílias e trabalhadores que dependem economicamente desses espaços.

A comunidade local protestou, pedindo diálogo, prazos razoáveis e apoio na transição ou realocação. As queixas foram, segundo os moradores, ignoradas pelas autoridades. Circulam rumores sobre interesses de investidores poderosos na área, com planos para desenvolver resorts ou clubes de luxo — embora o governo negue essas intenções.

 Visão de longo prazo para Bali

Aprovada pela Lei n.º 15/2023, a estratégia de desenvolvimento até 2125 baseia-se em princípios como Tri Hita Karana e Sat Kerthi, que promovem harmonia entre os seres humanos, a natureza e o mundo espiritual. Estão em preparação 15 novas regulamentações regionais, com o objetivo de:

• Proteger zonas costeiras e montanhas sagradas;

• Combater a especulação fundiária e os negócios ilegais;

• Criar empresas públicas regionais em áreas como alimentação, energia limpa e transportes;

• Promover setores como agricultura orgânica, pesca, manufatura e economia criativa.

Bali Maritime Tourism Hub e outras infraestruturas

O Bali Maritime Tourism Hub (BMTH), em construção no Porto de Benoa, é um dos maiores projetos em curso. Com previsão de operação parcial até ao final de 2025 e conclusão total em 2027, incluirá:

• Capacidade para três navios de cruzeiro e até 275 iates, incluindo superiates;

• Clubes náuticos, alojamentos, restauração e atividades marítimas;

• Sistemas de gestão ambiental e resíduos integrados.

Outros projetos incluem estradas para zonas menos desenvolvidas, restauro de templos sagrados, portos em Amed e Sangsit, e modernização das comunicações no norte da ilha.

Conclusão: A estratégia de Wayan Koster visa reposicionar Bali como um destino turístico de qualidade, baseado em valores culturais e respeito ambiental. No entanto, a forma como tem sido aplicada — especialmente no caso de Bingin — levanta dúvidas sobre o equilíbrio entre legalidade, justiça social e sensibilidade para com comunidades que sustentam há décadas o tecido turístico da ilha.

*Wayan Koster é o atual governador de Bali. Economista e político do PDI-P, foi deputado nacional por três mandatos antes de assumir o governo da ilha em 2018. É conhecido por políticas de proteção ambiental, defesa das tradições balinesas e implementação de regras rigorosas para o turismo e o ordenamento territorial.

Resultados das votações na eleição em 2018 de Koster. (Novas eleições serão em 2028):