Kelly Slater deu que falar na etapa californiana do Tour Kelly Slater deu que falar na etapa californiana do Tour Foto: WSL quarta-feira, 23 setembro 2015 13:22

"Juízes fizeram um excelente trabalho na onda do Slater em Trestles"

Pedro Barbosa, juíz internacional, analisa ao detalhe o Hurley Pro Trestles, oitava etapa do Championship Tour da WSL.

 



Intro

Trestles, San Clemente, claramente a onda mais high performance do circuito, terra dos ícones do surf progressivo dos finais dos anos 80, principio dos 90: Cristian Fletcher, Matt Archbold e Dino Andino. Foi Cristian Fletcher quem introduziu e colocou no dicionário de manobras algumas das mais inovadoras que vimos nos dias de hoje ("mute air”, "indy air", “air-to-reverse", "slob air" e "stalefish”) e que o filho do Dino executa na perfeição.


A consistência de Trestles nesta altura do ano é impressionante e mais uma vez tivemos excelentes condições no inicio da prova, ondas de metrão sem vento, um pico com direitas e esquerdas disponíveis para o melhor surf que se pratica no mundo.

1ª Onda do Evento 1ª surpresa. Temos um novo Kelly Slater, velocidade diferente, super fluido, rasgadas bem no rail a soltar um pouco o tail sem quebras ou desequilíbrios. A nota sai - 8 pontos. Notei uma diferença grande para as provas anteriores. O facto de andar com uma prancha com mais volume faz claramente a diferença. A questão que se coloca é: como é que o melhor surfista de todos os tempos, um dos mais inteligentes e que tanto ambiciona a renovação do titulo mundial, passa grande parte dos eventos a fazer testes com as pranchas que utiliza? Curioso o facto de ser a segunda vez que surfava na prancha e não sabia quem era o shaper


1ª Ronda com algumas surpresas:

- FREDDY PATACCHIA abandona o World Surf League com o melhor score da ronda, com uma nota de 10 pontos e a vencer o campeão mundial. Uma das grandes referências dos goofies do circuito, no heat em que decide abandonar o Tour mostra algumas das características que o fizeram ser presença assídua durante 11 anos: garra e atitude. Não consigo deixar de me recordar - num ano em que se precisava de qualificar em Haleiwa -, até o Sunny Garcia defrontou sem dó nem piedade.

- Campeão do Mundo, Gabriel Medina, perde o heat com o segundo score mais alto da ronda (17.50) e vai parar à 2ª ronda (repescagens), apesar de apresentar um surf sólido, estava com menos velocidade aparentemente devido à prancha com que surfava. A sua onda de 9 pontos, apesar de ter tido manobras que podiam ter sido mais expressivas e mesmo com pequenas falhas, foi fantástica especialmente pela ligação e surf top to bottom.


- Apenas 2 notas acima dos 9 pontos - Medina e Freddy. Parece pouco para a prova em causa. O facto de haver poucas ondas com potencial fez com que não existissem muitas notas excelentes nesta ronda.

- Filipe Toledo perde também nesta fase o que não era expectável e a vibe à volta do seu surf progressivo começa a esmorecer especialmente quando verificamos a diferença para os melhores em termos de “rail surfing”.

- O Tom Curren do Japão - Hiroto Ohhara - com uns bottoms impressionantes e um surf de rail muito bom mostra que a vitória no US open não foi coincidência ficando em segundo à frente do melhor surfista do mundo a fazer ondas incompletas, até cair que é quase sempre o surf que faz é fora de série!


A prova segue para o 2º round por sinal bem mais interessante que o 1º:

- Felipe Toledo passa à justa naquele que seria, na minha opinião, um heat com o resultado incorrecto. Veremos mais à frente mas creio que a sua onda de 8 pontos deveria ser mais alta.

- Foi bom ver um dos melhores surfistas do tour voltar a fazer o melhor score da ronda e proporcionar-nos o melhor de surf de rail do mundo: Joel Parkinson.

A prova continua com os suspeitos do costume a avançarem. Julian tem uma eliminação prematura e o seu surf continua a não surpreender da mesma forma que em anos anteriores e com aquilo que faz no free surf. O seu excelente ano, o melhor de sempre, apresenta-se com um surf algo conservador, o que é de certa forma um contra-senso para o potencial que o Julian tem.


Na 5ª ronda acontece o caso do evento e a “Slatermania” explode com toda a indignação do mundo, numa onda onde os juízes fizeram um excelente trabalho
, “no doubt….4 points it is”. Bem, isto daria direito a uma tese, uma vez que existem diversos argumentos, alguns que fazem mais sentido que outros. Analisemos a onda em questão:

Air reverse de backside incompleto volta a meter-se de pé, cutback na base enterra o rail, um 360 no meio da onda com grande desequilíbrio, manobra dos anos 80, seguido de uma rasgada fraca e uma boa manobra. O julgamento de surf já tem um factor de subjectividade elevado mas se colocamos na equação manobras incompletas ninguém se entende. Acho a explicação do chefe de juízes adequada: “estamos na presença do top 34 do mundo, os melhores surfistas do mundo, têm de completar as manobras”, simples! Eu acrescentaria na escala de pontuação: uma onda média vai de 4 a 5.9 e na minha opinião esta onda deveria situar-se na zona fraca da escala - entre 2 e 3.9. Neste caso fraco alto 3.8/3.9, seria mais do que suficiente para o surf praticado e utilizando como comparação o surf praticado nesse dia.



Melhor performance:

Não tenho muitas palavras para descrever o surf praticado pelo Mick Fanning, claramente o surfista do evento. Foi mais cedo para o evento para trabalhar no reportório de manobras com o Mike Parsons, mas não fugiu da sua receita de sucesso, Rail surfing, speed power and flow. Ninguém tem a combinação bottom, carve e rasgada a soltar o tail com a qualidade do Mick. De entre as várias ondas excelentes do Mick escolhi esta onde transforma uma onda sem grande potencial num 9 pontos. Amplitude dos bottoms e das rasgadas, velocidade gerada quando sai das manobras e a ligação entre as mesmas utilizando toda a extensão da onda fazem dele, na minha opinião, o melhor surfista do mundo actualmente.



A juntar a tudo isto, tem um Fair Play enorme, não se preocupa em excesso com hassling, ganhar a prioridade a qualquer custo, bom colega, enorme nas derrotas e nas vitórias. Um verdadeiro desportista. Brilhante também o seu discurso de vitória, fazendo uma excelente homenagem ao seu adversário e grande exemplo - Adriano de Sousa.


O surfista com factor X:

Tenho de eleger o Filipe Toledo, apesar de se notar uma diferença na histeria que existiu em anos anteriores com o surf progressivo. Neste momento o que se pretende ver são combinações de surf progressivo com power /rail. Em termos de power e rail ainda está um furo atrás dos melhores mas nesta prova teve momentos de brilhantismo que na minha opinião poderiam ter sido mais valorizados. Gosto especialmente deste 8.57 na 4ª ronda, combinação de power carve para air reverse com mais 2 rasgadas a soltar o tail - na minha opinião esta onda deveria ficar claramente acima do 9.



O surfista em ascensão:

Mr. Medina sobe mais 3 posições e apresentava-se juntamente com Filipe como os 2 únicos surfistas com atributos para vencer o Campeão. Bom surf de backside, se bem que mais lento com referi anteriormente, eventualmente por estar a fazer a transição para pranchas com um pouco mais de volume. A parte criativa continua lá mas não tão consistente como em anos anteriores. Aqui podemos ver uma onda excelente com ligeiras falhas, ligeiramente preso, em algumas das manobras de topo.

 

As ondas e as decisões dos calls:

Nada a realçar mais uma vez. Trestles confirmou ser um dos melhores eventos do mundo com alguma inconsistência nas ondas mas os calls foram bem feitos.


O Julgamento e os casos da prova:

Apesar do julgamento ser de facto fora de série, o uso de tecnologia de topo faz com que a margem de erro seja reduzida. Nesta prova existiram algumas situações que poderiam ter comprometido o resultado final.

  1. 1. Ronda 2: Fiipe Toledo contra Ian Crane. A onda de 8 pontos do Filipe parece-me melhor que o seu 8.50. A nota de 8 pontos pareceu-me baixa: 1º manobra a soltar o tail todo logo seguido de um air reverse muito bom nas 2 primeiras secções críticas da onda e complementando com mais 2 rasgadas bem no rail. A onda de 8.5 foram 2 rasgadas e um air reverse na junção, na minha opinião e do Pottz, pior que a anterior.


 

  1. 2. Ronda 3: Heat do Italo contra Wilko. Foi um heat próximo apesar das ondas do Italo serem maiores e com mais manobras. O surf do Wilko foi mais top do bottom, vertical e radical com boas combinações de rasgadas com top turns a soltar bem o tail. I have my doubts here.

Prova difícil, é natural que estes heats próximos aconteçam e quem está no terreno tem sempre uma percepção diferente. De uma forma geral bom trabalho.


Alguns factos do evento:

  • Camisola Amarela muda para Mick Fanning 
  • Adriano de Sousa: Mais uma excelente prestação e as suas aspirações de ser campeão mundial mantêm-se 
  • Bugs leva 2 pranchas no Heritage series na eventualidade de acontecer algum imprevisto

 

 

 

 

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