Andrey Karr (à esquerda) é um dos multifacetados surfistas que podemos encontrar na Nazaré. Andrey Karr (à esquerda) é um dos multifacetados surfistas que podemos encontrar na Nazaré. Foto: Marat Daminov quarta-feira, 03 janeiro 2018 16:00

Russo Andrey Karr é o mais improvável surfista da Nazaré 

Uma entrevista exclusiva que vai muito para além do Surfing… 

 

Encontrar surfistas russos a descer as portentosas ondas da Praia do Norte não é algo muito comum. Percebe-se porquê, na Praia do Norte as ondas são matreiras, difíceis e exigentes, muito exigentes. No entanto, por diversas vezes, já tínhamos dado por elesAndrey Karr, por exemplo, que tem no Surf e no Oceano uma das suas grandes paixões, poderia ser mais um entre o crowd, mas a verdade é que o seu talento e as suas façanhas dificilmente passam despercebidas. Fica a conhecê-lo um pouco melhor.   

 

Fala-nos um pouco de ti. Que idade tens, de onde vens e onde vives?

Tenho 30 anos, nasci e fui criado em Moscovo, Rússia. Vivo no Planeta Terra, mas o meu passaporte diz que resido na Rússia. 

 

 Click por Leandro Sieves

Como ouviste falar de Portugal? O que te trouxe até nós? 

Eu já tinha estado em Portugal antes, em 2009, para surfar, mas não aguentei a água fria e o vento e nunca mais voltei. Até que visitei a Nazaré no final de 2015 e acabou por ser a melhor coisa que me aconteceu desde há algum tempo. 

 

“A Nazaré acabou por ser a melhor coisa

que me aconteceu desde há algum tempo"

 

- Na Praia do Norte. Foto: Aline Van Haren

 

Já agora, como entra o Surfing na tua vida?

No regime pós-soviético o Surf começou a marcar presença de algumas formas, sendo que a mais comum talvez seja o filme Point Break. Portanto, enquanto miúdo, eu também não fiquei indiferente, sonhando com tempestades de 50 anos. Mais tarde, quando fiz 21 anos, viajei para Bali e, claro, uma vez por lá apaixonei-me imediatamente pelas ondas.

 

Por vezes, não deve ser fácil surfar na Rússia. Em que zona vives e qual a regularidade com que surfas?

Eu nunca surfei na Rússia. Talvez eu não seja suficientemente forte e duro para perseguir swells de vento do Báltico, mas, para mim, o Surf sempre foi uma viagem para um sítio muito muito longe. Nos primeiros anos foi a Indonésia, depois seguiu-se o Havai e por estes dias é Portugal durante cinco meses do ano. 

 

- Em Bali a cruzar os tubos de Padang Padang. Foto: Andrey Artuhov

 

Além do Surf, também gostas de outras atividades extremas. Fala-nos disso… 

Eu nasci de capacete. (risos) Vindo de uma família de escaladores estive rodeado de desportos extremos praticamente toda a minha vida. Na maior parte do tempo fiz BASE Jumping e Wingsuit (fato planador), mas experimentei também todos os tipos de pranchas - voei com tudo o que voa; aventurei-me com bicicletas e testei praticamente tudo que parece ser divertido. 

 

"O maior desafio é mantermo-nos vivos, pois, a partir do momento

em que nos fechamos, é precisamente o momento em que paramos de viver"

 

 

 

Recentemente, na Nazaré, atravessaste duas grandes rochas, no mar, com uma grande ondulação, através de uma simples corda de slackline. Como é que te lembraste de fazer isso?

Sim, a “linha” do farol é o meu pequeno sonho desde o primeiro pôr-do-sol que vi na Nazaré. Eu aprendi slackline especificamente para isso e no último inverno, em fevereiro, juntei-me à equipa da Western Riders. Foi apenas o resultado de uma experiência e pensamento multidisciplinar que resultou numa das “linhas” mais porreiras já alguma vez feitas - as fotografias correram o Mundo. Não é um desafio difícil se soubermos o que estamos a fazer, e eu sei. Duro, claro, pois leva-nos a sair um pouco da habitual zona de comforto. 

 

- Foto: Leo Domingos

 

Qual consideras ser o maior desafio na vida de uma pessoa?

O maior desafio é mantermo-nos vivos, pois, a partir do momento em que nos fechamos a uma nova ideia ou experiência, é precisamente o momento em que paramos de viver e começamos a envelhecer. Portanto, nunca crescer, nunca parar de aprender, nunca nos fecharmos. 

 

E o teu maior desafio?

Bem, o meu desafio é encontrar o meu sítio na vida e no Mundo. Por agora mantenho-me a viajar, tal como tenho feito na maior parte da minha vida, mas procuro ideias maiores que façam sentido durante algum tempo. 

 

“Penso que é possível bater o recorde, mas precisamos

de mais experiência, sorte e muita paciência"

 

- Em dezembro, na Praia do Norte. Foto: Vitor Estrelinha

 

Este ano já tens uma entrada na maior onda do Ano. Vais continuar a tentar a Onda do Ano? Pensas que podes bater o recorde da maior onda?

No último ano, eu e o meu parceiro entrámos em todos os swells e tivemos algumas aparições nos Prémios XXL da WSL. Portanto, penso que sim, que é possível bater o recorde, mas, claro, precisamos de mais experiência, um pouco de sorte e muita paciência. (risos)

 

 

 

A tua onda preferida em Portugal para surfar de prancha pequena? E no Mundo?

Não surfei muitos spots em Portugal, mas, de longe, todas as minhas favoritas estão na Nazaré. A Praia do Norte em si é um sítio incrível com ondas maravilhosas independentemente do tamanho, e há outras joias por perto. Porém, no Mundo, a minha preferida é muito provavelmente Bingin (Bali) - um sítio onde observo os pores-do-sol e apanho tubos bem cristalinos e “glass”. 

 

Uma última mensagem para os nossos leitores?

Independentemente de onde estão, independentemente de quem são, vocês podem realmente ser tudo o que quiserem. Portanto, se querem muito uma coisa, está na altura de começarem a tentar. 

 

 

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  • Créditos fotos: Leandro Sieves

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