O melhor tubo - numa ondulação de 3 metros / energia 4000 Kj / 18 seg. de periodo

 

Paulo representa um estereótipo com o qual muitos de nós nos identificamos.

 

 

Paulo Salazar de 44 anos de idade, nascido na África do Sul na localidade de Jeffreys Bay, pratica surf há 30 anos, vive em Espinho e é por lá que surfa na maior parte das vezes. No entanto Paulo costuma dar um salto aos Coxos quando o tempo o permite. Durante esta entrevista confessou-nos que também ama a Indonésia onde fez a melhor viagem de surf da sua vida (durante o ano de 2003), e tem Nias como a sua onda favorita a nível Internacional.

Estivemos à conversa com Paulo Salazar após uma sessão de surf muito especial na onda do Casino de Espinho onde o nosso entrevistado fez um dos ou mesmo o melhor tubo da sua vida. Nesta sessão também estiveram presentes Frederico Morais, João Guedes e Francisco Alves, entre outros.

Paulo representa um estereótipo no qual muitos de nós nos identificamos. Pai de família, com tempo limitado para a prática do surf, amante de ondas perfeitas que nos permitem diversão, subida saudável dos níveis de adrenalina e muita, muita paixão pelo Mar.

 

 

 

"As ondas rondavam os 2,5 a 3 metros nos sets

com algumas maiores, mas muita energia"

 

 

 

 

Um dia que ficou para a memória de Paulo Salazar e todos quantos vivenciaram a onda do Casino em Espinho. Click por Tó Mané

 

 

 

 

 

"O importante é ir à água, surfar o máximo de vezes possível,

tentar estar sempre em forma, em sintonia com a natureza,

e na paz de espírito que o surf nos dá a todos!"

 

 

 

Surftotal: Paulo conta-nos como está o surf no teu dia a dia? “Não agora mas antes do Covid19”

Paulo Salazar: O meu surf mudou bastante desde Maio de 2011, quando nasceu a minha filha Constança. Tive de conciliar a etapa maravilhosa de ser pai com a vida profissional e com o surf. Como é óbvio, quem levou “cortes” a sério foi o surf e o número de horas na água.
Em setembro de 2013 nasceu o Vicente e as horas na água ficaram ainda mais reduzidas. Apesar destes factos, tento surfar várias vezes por semana e sempre em horários pós-laborais, o que significa surfadas madrugadoras ou finais de tarde, de pouco tempo na água e nas condições e marés que estiverem. Raramente consigo apanhar as boas previsões, nos melhores dias e nas melhores horas, mas o importante é ir à água, surfar o máximo de vezes possível, tentar estar sempre em forma, em sintonia com a natureza, e na paz de espírito que o surf nos dá a todos!

 

 

O casino deu alguns "Jackpots" este dia e João Guedes foi um dos que lucrou mais. Click por Tó Mané

 

 

 

" Tive a honra de surfar com o Frederico Morais,

o João Guedes e o Francisco Alves, o que é sempre motivador..."

 

 

 

Surftotal: Sabemos que estiveste presente na sessão de ondas tubulares em Espinho, como foi partilhar o pico com o Frederico Morais?

Paulo Salazar: Neste swell, felizmente tive a oportunidade de estar em Espinho vários dias, tendo tido a honra de surfar com o Frederico Morais, mas também com o João Guedes e o Francisco Alves, o que é sempre motivador, inspirador e um show de surf dentro de água.
Conheci o Frederico Morais nas Maldivas em 2004 numa surf trip (ambos estávamos em Lohifushi). Desde logo demonstrou ser um miúdo simpático, educado, humilde, simples, sorridente e sempre bem disposto.
Hoje em dia, é um verdadeiro “senhor” e é por ser assim que todo o mundo o respeita como surfista e como ser humano.
Uma referência do surf nacional e mundial.

 

Surftotal: O que mais te impressionou no surf dele?

Paulo Salazar: Quando o vejo surfar à minha frente, o que mais me impressiona sempre, em mar pesado, é o power surf dele, a velocidade com que surfa, os carves poderosos e lindos que ele faz e que, na minha opinião, são o que mais o caracteriza!
Eu disse-lhe exatamente isto depois de ter visto mesmo à minha frente: o carve mais bonito, poderoso, cheio de velocidade e estilo que já vi ao vivo… absolutamente lindo e incrível…. Parabéns Kikas!!!

 

 

 

 

O surf de Frederico Morais é um misto de power, velocidade e carves poderosos e bonitos, segundo Paulo Salazar.  Click por Tó Mané

 

 

 

"O que mais me impressiona sempre, em mar pesado, é o power surf dele,

a velocidade com que surfa, os carves poderosos e lindos!" (sobre o surf de Frederico Morais)

 

 

 

 

Surftotal: Como foi que decidiste ir a Espinho surfar naquele dia?

Paulo Salazar: Já tinha surfado em Espinho nos últimos três dias e esse dia, o quarto para mim, era o que as previsões apontavam para ser o maior e mais pesado, com muita energia e um período mais longo (julgo que era de 3 mts, energia perto de 4000 Kj e 18 seg.).
Além destes fatores, era sábado, eu podia estar relaxado com as horas e escolher a melhor hora para entrar na água (convenci a minha noiva a dar-me liberdade total com as horas (risos) dado ser um swell especial com ventos favoráveis).

 

Surftotal: As ondas que tamanho tinham? A formação era clássica para o normal da onda de Espinho?

Paulo Salazar: As ondas rondavam os 2,5 a 3 metros nos sets com algumas maiores, mas muita energia… A formação estava boa, mas não estava clássico, talvez por causa da direção do swell e da energia.
Resumindo, o swell e as condições de vento foram muito boas por uma semana e meia, e o fundo de Espinho estava muito bom, mas não estava clássico como em alguns anos anteriores…

 

 

 

Paulo Salazar num dos Jackpots do dia e tema central desta entrevista - Click por Tó Mané

 

 

 

 

"Foi um dos melhores tubos da minha vida, sim,

talvez o maior e mais profundo"

 

 

 

 

Surftotal: E este tubo que vemos na imagem tirada pelo Tó Mané, queres-nos contar como foi? Foi o melhor tubo da tua vida?

Paulo Salazar: Este tubo (risos)…. Este tubo foi intenso, poderoso e carregado de adrenalina…. Curioso, como disse anteriormente tinha surfado nos três dias anteriores, vi tubos e falaram-me de bons tubos de muita gente, especialmente no dia anterior, mas curiosamente eu nem um chapeuzinho tinha mandado e já me estava a passar!
Ondas tubulares e eu, nada de tubos, boas ondas, mas só power surf, carves a tentar imitar o “Kikas” (risos)…
Nessa manhã, observando as ondas surfadas e não surfadas, eu, o Tó Mané, o João Guedes e o Pedro Dias estávamos na conversa e comentando que não estava tão bom quanto se esperava, e que estava a dar muita porrada! O Guedes a dizer isso…!!! rimo-nos e perguntei-lhe de imediato se aquilo era porrada, como definiria a Nazaré (risos)…
A dado momento, o Tó Mané disse:
“Vão lá para dentro! Vou preparar a máquina! Nestes dias, basta uma onda para vocês sacarem um tubo incrível ou valer a surfada, e eu registar o momento e eterniza-lo…”
E não é que fui eu o contemplado!?!
 Ao fim de uma hora e tal tinha apanhado umas três ou quatro ondas nada de especial, nem tubos nem manobras, estava encostado ao paredão, com a prioridade, e quando entrou o set, resolvi arrancar acho que na segunda onda. Não era das maiores, mas tinha aquele aspeto de ir formar um doble up bom….
Dropei e comecei a preparar o tubo logo na primeira secção, encaixei num tubo bom, profundo e quando, depois de uma bombada para sair do tubo, a onda entra perfeita no banco de areia e faz um double up, dobra para quase o dobro do tamanho e não me deixa sair do tubo, obriga-me a continuar todo lá dentro e a encaixar numa secção brutal, um “caixote” incrível…. lembro-me de ver a placa que ia cair nessa secção do inside e de praticamente dropar outra vez porque a prancha apontou para a base da onda,
Quando dou a primeira bombada na base estava muito profundo e o lip muito acima da minha cabeça quase outro Salazar em cima de mim, e para quem não me conhece, tenho 1.90 m… depois dessa, outra bombada com o nose a apontar para o lip, a prancha disparou e saí a mil do tubo…
Por milésimos de segundo, ainda pensei que ia dar para mais um mas, logo percebi que a onda ia fechar totalmente e apontei para a praia, tentando controlar a velocidade e “rezando” para que o lip do close out não me acertasse em cheio ou a explosão não me deixasse concluir o tubo….
Felizmente sai limpinho, limpinho, e fiz um claime discreto, fruto da felicidade e adrenalina que me corria nas veias, nem sei como me controlei (risos)…
Quando me dirigia para a praia para dar a volta, vejo o Nuno Figueiredo aka “Strutura”, um dos melhores tube riders do Norte, senão o melhor, que estava a dar a volta, a parar e fazer uma vénia! Nesse momento acordei do sonho, percebi que realmente tinha sido um tubaço, para ele me fazer uma vénia é porque tinha sido realmente muito bom! Foi um gesto bonito que me marcou, senti-me muito lisonjeado…
Quando sai da água ouvi muitos comentários de amigos e de pessoas muito especiais para mim a felicitar e congratular-me pelo tubo, dizendo que tinha sido incrível desde o início, mas a secção do inside simplesmente brutal!!!
Quando cheguei ao pé do Tó Mané, ainda de fato vestido, ele já me tinha ligado duas vezes para o telemóvel para dizer que tinha fotografado a sequência do tubo da minha vida e estava quase tão extasiado quanto eu… ainda brincou a dizer que quando viu a enorme placa do inside a cair e o deep que estava tinha parado de fotografar (risos)….
Foi um dos melhores tubos da minha vida, sim, talvez o maior e mais profundo, mas, sem dúvida nenhuma, o único que teve a sorte de ser registado pelo Tó Mané e outros, na minha onda predileta e com todos os meus amigos na água e na praia…
Surreal!
Como se diz na gíria, Todo Lá Dentro!!

 

Frederico Morais a jogar certo na "mesa" principal do Casino de Espinho. Click por Tó Mané



Surftotal: Que prancha levavas? Adaptaste-te bem com as condições com ela?

Paulo Salazar: Desde 2008, que sou Teamrider da Watta Surfboards, pranchas feitas 100% à mão pelo meu amigo de infância e “irmão” Luís Brito, das Caldas da Rainha.
Temos trabalho em várias pranchas, mas como estou 6 kg mais pesado (98kg) e, neste dia não tinha disponível nenhuma prancha da Watta com tamanho necessário e volume, optei por levar uma oldscholl.
A prancha que usei foi uma 7”0, pin, sistema tri fin, que foi feita pelo Mckee.
Esta prancha foi feita propositadamente para o talentoso surfista (campeão nacional open 1995 e campeão nacional masters 2014), Dj, tenista (campeão nacional masters 2018 e vice campeão nacional masters em 2017 e 2019, e campeão nacional de pares 2018 e 2019), meu grande amigo “irmão”, Frederico Brito aka “Fredy”, que curiosamente é “primo” do Luís Brito (risos)…
Ele vendeu-ma praí há uns 20 anos! Surfei pouquíssimas vezes com ela: sempre a achei uma prancha muito grande, com muito volume, não sendo particularmente fã de rabetas tipo pin.
Mas ainda bem que a levei, porque se não tivesse entrado com esta prancha, jamais teria saído do tubo… tantos anos com a prancha na garagem e só neste dia percebi as surfadas que deveria ter surfado com ela e não o fiz, porque tem um shape muito bom para ondas tubulares, é muito rápida e super segura, por causa da rabeta pin.
Fiquei fã deste shape e vou trabalhar com a Watta para fazer uma prancha muito parecida, só para usar em dias destes!

 

 

A prancha que usei foi uma 7”0, pin, sistema tri fin,

que foi feita pelo Mckee.

 

 

 

Paulo Salazar "todo lá dentro" - Click por Tó Mané

 

 

 

Surftotal: Que onda internacional que já tenhas surfado comparas com Espinho?

Paulo Salazar: As ondas mais parecidas com Espinho que tive a sorte de surfar foram Nias nas Mentawai, numa viagem que fiz em 2005, com o Henrique Moniz (na minha opinião, um dos melhores surfistas nacionais) e Cokes nas Maldivas, apesar de não serem point break.
A minha onda de sonho, a qual não tive oportunidade de surfar ainda, é a de J-Bay, África do Sul (minha terra natal).

 

Surftotal: Algo mais a dizer?

Paulo Salazar: Agradecer à SurfTotal a oportunidade de poder partilhar com o mundo do surf e amigos este meu tubo e algumas palavras, aos meus pais e irmão que sempre me apoiaram e aturaram desde o dia em que comecei a fazer bodyboard; à Verónica, minha noiva,  que me apoia incondicionalmente e que eu amo muito; aos meus maravilhosos filhos, que ficaram super felizes e histéricos quando viram as imagens do tubo; ao meu “irmão”, Luís Brito, CEO e shapper da Watta, que me apoia nas pranchas desde 2008; ao Mr. People que sempre reparou e repara as minhas pranchas com uma perfeição magistral; ao meu amigo de longa data, talentoso e reconhecido fotógrafo Tó Mané que eternizou este tubo nesta fantástica sequência.
A todos os meus bros do surf (em especial Pedro Dias, Tózinho, Rui Pedro, Nuno Dara, Manchinha, Vitinha, Roni, Rúben Silva, Corrupas, Nuno Granja, Litos, Pedro Brandão, Hugo André, Ricardo Vale, Brinca, Sérgio da Silva, Nelsinho, Abílio Pinto, Mãos Douradas, Rui Ribeiro, Rui Enes, Pikas, Zé Gabriel, Túlio, Leo Belime, Alex Espanhol, Luís Cervan, Diogo Daniel, Pedro Marinho, Hugo Oliveira, Duda e Mário Birra, Telmo Nogueira, Indu, Leal, Zé Pescas, Zé Hiace & Filhos (Bruno e Francisco), Pedro Alves, Miguel Ferreira, Huguinho, Mário Barroso, Bruno Branco, Hugo Abreu, Ricardo Salgueiral, Bernardo Paiva, Laranjeira, Ricardinho, Pedro Ley, Renato Silva, Zé Pinto, Duarte Oliveira, Filipe Aguiar, Mourinho, André Silva, Jorge Campota, Gonçalo Mariani, Tiago Lemos, Luís Peste, Bruno Smith, Rodrigo Caldeira, André Conde, Rodrigo Lacerda, Filipe Forte, João Lagos, JP Almeida, Pedro Macedo, André Tomás, Américo, Diogo Dias, Rui Alpine, António Gonçalves, Sotto, Joca, Ricardo Martins, Alessandro e António Rodrigues, João Diogo, Tiago Osório, Luís Botelho, Paulo Almeida, Carlos Moreira, Rui Lopes, Zé Costa Pereira, Martinho Cabral, Rui Sousa, André Wilshire, Manuel Centeno, Zé Pinto, António Magalhães, Sebastião Hugo, Luís Botelho, Zé Beto Miranda, Bruno Rodrigues, Frederico Barreto, Filipe Dams, Marcelo Martins, Rui Sá, Pedro Almendra, Henrique Marinho Leite, Diogo Pimenta, Duarte Barbosa, Patrick Jongenelen, Bernardo Correa, Ricardo Coelho, Ricardo e João Pereira, Miguel Ribeiro, Hélder Santos, Xico Carvalho, Sebas, Hugo e Pedro Lemos, Pedro Ancede, Jorge Bastos, Miguel Monterroso, Tiago Tavares, Miguel Bráulio, João Abecassis, Rui Oliveira, Iko, Pedro Lagoas, Kito, Nuno Dias, Macário, Pedro Flores, Paulo Sampayo, Nuno Nora, Cruzetas, Titi, Pedro Ribeiro, Manuel Rui, Eurico Gonçalves, Jarmenson Benicio, Manos Guedes (Pedro e Ricardo), Tiago Fragateiro, Joaquim Lamoso, Bartolo Azevedo, Miguel Sá, Herminio Neto, Hélder Araújo, João Oliveira, Raúl Carvalho, Bruno Loureiro, Tiago Ferraz, Ricardo Faustino, Márcio Silva, Xuta, Tiago Ramires, Irmãos Pina (Eduardo, Gonçalo e Ricardo), Luizinho, Pedro Ferreira, Ivo Carvalho, Luís Cruz, Rúben Vita, Simão Soares, António Espírito Santo, Ricardo Milheiro, Sérgio Moura, Wildsurf, Abílio Menezes, Patrick De Koninck, SZ, Fulcral, Ventura Pinto, Tio Abreu, Nuno Abreu e desculpas a quem me esqueci) com quem tanto curto, e que me acompanham em tantas surfadas. Têm sido anos memoráveis!

Uma palavra de conforto e reconhecimento para o povo português, e para o mundo nesta fase difícil do “COVID-19”, que certamente a humanidade irá ultrapassar com espírito de responsabilidade, bom senso e solidariedade, #fiquememcasa, #vaificartudobem, #vamostodosficarbem
Um agradecimento especial a todos os profissionais de saúde e sectores primários, que trabalham ininterruptamente para nos manter a salvo e condições dignas, e aos cientistas/investigadores que procuram a cura para este novo flagelo epidemiológico.
Saúde e boas ondas para todos, aloha!

 

A espuma faz perceber que Paulo Salazar de 1,95 metros de altura é apesar de tudo pequeno  - Click por Tó Mané

Itens relacionados

Perfil em destaque

Scroll To Top