Manuel Rui ex seleccionador de Surf desfruta das ondas do grande Porto com grande frequência. Click por Pikas na onda do BPA em Gaia Manuel Rui ex seleccionador de Surf desfruta das ondas do grande Porto com grande frequência. Click por Pikas na onda do BPA em Gaia quinta-feira, 16 abril 2020 14:38

Vivemos um momento único em que deveria existir um "Conselho de Estado" do Surfing

Entrevista sobre a crise no ensino do Surf em Portugal com o ex seleccionador nacional de Surf Manuel Rui...

 

 

A Surftotal tem aproveitado esta fase em que há mais tempo para reflectirmos, sobre nós mesmos e importantes assuntos que nos rodeiam, para colocar em debate temas do interesse comum na realidade do Surf Nacional e Internacional. Esta entrevista com a Manuel Rui vem no decorrer de um debate activo sobre o presente e o futuro do sector do ensino do Surf em Portugal que representa, quer queiramos quer não, a base da pirâmide do Surf !

 

*Manuel Rui foi Selecionador Nacional de Surf conjuntamente com Miguel Ruivo, em 1994 e 1995. Na altura os resultados das selecções nacionais foram um 9º lugar no ISA na Barra da Tijuca em 1994, Vice Campeões Europeus no EuroSurf 95 em Sintra, Vice Campeões Europeus em Newquay no Eurojunior em 1995.

 

 

 

 

"O que se assiste, actualmente é que quem não oferece aulas

de surf de qualidade

acaba por fechar portas."

 

 

 

Manuel Rui em cima ao centro com alguns alunos do Desporto Escolar

 

 

Como ex-selecionador de surf e agente de formação,atualmente coordenador de cursos de treinadores no CAR de Viana,podes fazer um ponto de situação? Qual a tua visão e perspectiva sobre a situação do sector?

O ensino do Surf em Portugal tem sofrido uma evolução muito positiva. Estou regularmente na praia(antes da pandemia) e vejo como o ensino tem evoluído e como a qualidade apresentada pelas diferentes escolas tem aumentado. Contudo, como em todas as atividades, existem pessoas/treinadores que ainda lecionam de forma pouco criativa e com pouco rigor técnico. Esses são, no entanto, a exceção.
Os treinadores/donos das escolas há muito que se aperceberam que devem apostar na qualidade dos seus treinadores.

 

O ensino do surf está na base da pirâmide da cultura do surf - Click por Tó Mané

 

 

 

"O ensino do Surf em Portugal tem sofrido uma evolução muito positiva."

 

 


Sabemos também que tens colocado o surf no desporto escolar. O que te move continuar a ensinar o surf?

O surf foi desde sempre uma das minhas paixões e colocar os alunos, sobretudo os mais carenciados, a praticar o surfing foi desde logo um propósito. Como professor de Educação Física, ligado ao Desporto Escolar, comecei por organizar em 91/92 um campeonato inter-escolas, em Vila Nova de Gaia, conjuntamente com o Abílio Pinto.  Hoje, o surfing é uma das modalidades integrada no Desporto Escolar Nacional, movimentando 16 centros de formação desportiva de norte a sul do país e centenas de grupos-equipa que todas as semanas praticam, de forma regular e segura. Este ano letivo, face às tempestades que se fizeram sentir na zona norte, fizemos um Encontro de Surf e Body board na Praia da Azurara em Vila do Conde. O apuramento para o Nacional do Deporto foi adiado devido à pandemia, bem como o Campeonato Nacional que iria realizar-se, integrado nos Nacionais de Desporto Escolar, em Viana do Castelo. Também os eventos do Surf adaptado, que habitualmente organizamos, no âmbito do Centro de Formação Desportiva em Matosinhos, se encontram cancelados.

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A transmissão correcta de ensinamentos e valores durante o ensino do surf poderão fazer toda a diferença no futuro comportamento do surfista - Click por Tó Mané
 
 
 
 
 
 
"O Surf no Desporto Escolar Nacional,
 
movimenta hoje em dia
 
16 centros de formação desportiva de norte a sul do país"
 
 
 
 
 
 
 

Sentes que há uma tendência para as camadas mais jovens interessarem-se pela prática do surf? Podes falar um pouco sobre isso.

Sim, o surfing tem atraído muita gente e temos assistido a um boom em Portugal. A internet, a TV, o Turismo, cada um à sua maneira, têm contribuído para divulgar, difundir e atrair cada vez mais praticantes. A melhor organização dos clubes e das escolas de surf tem impulsionado o aumento da atividade competitiva, nomeadamente campeonatos regionais e nacionais. Assistimos a um fenómeno de potenciação em que o aumento do número de praticantes faz com que alguns se destaquem e se tornem atletas de excelência ( Frederico Morais, Vasco Ribeiro, Miguel Blanco, os nossos atletas de ondas grandes, e outros) que, por sua vez, motivam a vinda de novos praticantes.

 

Tens lido as entrevistas na Surftotal sobre a crise no ensino do surf?  Nota-se que há um certo diferendo entre a FPS e as Escolas de Surf em portugal, nomeadamente aquelas que são representadas pelas AEP. Qual a tua opinião? Poderá a AEP ser uma solução para representar as Escolas de Surf em Portugal e defender junto da FPS assim como outras entidades, os deveres, direitos e regulamentação do ensino do Surf em Portugal? Um pouco à imagem do que a ANS faz com o surf profissional em Portugal?

Vivemos um momento único em que deveria existir um Conselho de Estado do Surfing onde todos os intervenientes estivessem representados ( FPS, AEP, ANS, Associações Regionais de Escolas de Surf, Atletas de Alto Rendimento, Treinadores, Clubes, Centros de Alto Rendimento, Autarquias, Direção Geral da Autoridade Marítima, Turismo
 de Portugal, etc) para se definir uma estratégia conjunta que ajudasse à governação do surfing onde todos se sintam representados. Temos que gerar consensos sérios face a esta economia de "guerra". A propósito sugiro que o IVA no surf passe para 6%.

 

Há por vezes queixas sobre a qualidade do ensino do Surf por algumas escolas e operadores (mais na altura do verão)? Como sentes essa realidade à tua volta?

O que se assiste, atualmente é que quem não oferece aulas de qualidade acaba por fechar portas. Existe muita oferta e as escolas e os clubes têm que ter técnicos credenciados, com qualidade para que haja aprendizagem, segurança e sejam transmitidos valores de respeito pelos outros, valores ecológicos e cultura do surf.

Manuel Rui em Esmoriz - Click por Wildsurf

 

 

 

 

"Deveria ser definida uma estratégia conjunta

que ajudasse à governação do surfing

onde todos se sintam representados"

 

 

 

 

Deveria haver nas praias a afixação em forma de “bilboards”, das regras e princípios do surf? por forma a promover uma maior harmonia e educação dentro de água?

Sim, concordo, cada vez mais é necessário falar de etiqueta no surfing. As escolas e os clubes devem ter essa missão, passando a mensagem e dando o exemplo.

 

Na tua opinião há escolas a mais em Portugal? Há regulamentação suficiente? a mais ? menos? o que precisa de ser feito, na tua opinião, para que haja um ensino do surf de qualidade e organizado no nosso País?

Pessoalmente, penso que a questão não reside no número de escolas. Temos uma costa vasta que pode albergar um número razoável de escolas, mas todas devem garantir critérios de qualidade e todas devem operar na base da legalidade, pelo que a fiscalização tem, neste campo, um papel importante. Recentemente, assistimos à operação de fiscalização, a "Operação Tubo", levada a cabo por diferentes entidades, ASAE e Capitania, indicador que as autoridades estão de olhos postos na nossa atividade. Podemos ainda dizer que seria importante realizar estudos de capacitação das praias para avaliar o número de escolas que podem usar os planos de água num mesmo espaço para uma partilha de qualidade sem conflitos.

 

Click por Tó Mané

 

 

 

"Pessoalmente, penso que a questão não reside no número de escolas.

.....

a fiscalização tem, neste campo, um papel importante..."

 

 

Como tens vivido a Quarentena ?

Com Aceitação.... Tenho a sorte de poder trabalhar a partir de casa, quer na minha atividade de professor e formador. Como treinador tenho estado em contacto com os meus alunos, enviando treinos e fazendo exercícios on line, de condição física e aspetos técnicos. Nunca surfei desde o dia 11 de março, porque é uma questão de exemplo e de agradecimento a quem, nesta altura, nos hospitais arrisca a vida no salvamento dos outros.

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