São quatro os treinadores portugueses a liderarem equipas de surf internacionais no Mundial segunda-feira, 17 maio 2021 14:52

São quatro os treinadores portugueses a liderarem equipas de surf internacionais no Mundial

José Sousa Braga será um treinadores que lutará com a sua equipa por uma vaga olímpica

 

São quatros os selecionadores portugueses que treinarão equipas internacionais e marcarão presença nos World Surfing Games ISA, que decorrem já a partir do dia 29 deste mês. David Raimundo treinará a Seleção Portuguesa, José Manuel Sousa Braga a da Grã-Bretanha, Pedro Barbudo a Seleção Russa e Paulo do Bairro a Dinamarquesa.

A Surftotal entrevistou cada um destes treinadores para saber um pouco mais sobre as suas perspectivas para este mundial e para as qualificações para a estreia do surf nos Jogos Olímpicos. José Sousa Braga, treinador da equipa da Grã-Bretanha é o primeiro selecionador a contar-nos tudo nesta entrevista exclusiva. 

 

José Braga na praia do Marcelino

Por Carlos Barros 

 

Surftotal: Qual a importância que, na sua opinião, os jogos Olímpicos virão a ter no surf como desporto? Poderemos ver o surf noutro patamar na nossa sociedade? Se sim, porquê?

José Braga: Nunca fui um grande apologista do surf nos Jogos Olímpicos. Não há dúvida que o surf ganha com isso a nível de promoção, visibilidade, notoriedade e afirmação como um desporto rei, mas os jogos olímpicos agem sempre com as mesmas condições para todos os atletas e isso, à partida, só acontece com ondas artificiais e eu não sou fã de piscinas de ondas para competição. Acho que é monótono e repetitivo e o fator escolha das ondas, sorte, posicionamento, prioridade para mim sempre fez parte do surf e sem isso faz-me alguma confusão. Mas acho que, sem dúvida, os Jogos Olímpicos vão colocar o surf noutro patamar.

 

 

 

"O surf era visto como um desporto de desocupados

e agora passa a ser visto como um desporto olímpico.

Ganha visibilidade e uma respeitabilidade diferente"

 

 

 

 

Surftotal: Portugal tem neste momento quatro seleccionadores nacionais em quatro equipas diferentes: Rússia, Grã-Bretanha, Dinamarquesa e Portugal. Na tua opinião, o nosso País é um forno de produção de treinadores de surf de elevada qualidade? Como vê e comenta este facto?

José Braga: Realmente o nosso país produz muitos treinadores e não há dúvida que temos muitos com bastante qualidade. Como o nosso país atrai muitos estrangeiros, também acabamos por dar a conhecer as nossas ondas e eles acabam por conhecer o trabalho dos treinadores portugueses. Temos uma boa geração de treinadores. O trabalho que é desenvolvido em Portugal também por outros treinadores é muito bom, como o Pyrrait com o Marlon Lipke, Arron Strong e o Gony Zubizarreta e o José Seabra com o Timothee Bisso. Vai ser a primeira experiência onde nos vamos encontrar todos e vai ser a primeira vez que não vou estar a representar Portugal. Tudo vai ser uma novidade.

 

Surftotal: As ondas onde irão decorrer os jogos Olímpicos serão compatíveis com a imagem que o surf quer deixar passar para as grandes massas de audiências?

José Braga: Pelo que estive a ver, penso que as ondas são de qualidade mundial. Se o mínimo de condições estiver reunidas, vamos ter um campeonato de alto nível. Devem lá estar todos os atletas para disputar as últimas vagas olímpicas, portanto acho que vai ser um campeonato muito interessante. O local tem altas condições e se estiverem altas ondas vai estar toda a gente "colada" à televisão.

 

 

 

"O pico é espetacular!

A direita é uma loucura e a esquerda também é muito boa"

 

 

 

Surftotal: Como vê que pode mudar a realidade do surf a seguir aos jogos Olímpicos? Que aspetos poderão melhorar?

José Braga: Não sei… acho que a primeira realidade que pode mudar é a nível de apoios estatais e do comité olímpico. Tínhamos atletas de alta competição e agora temos também atletas do programa olímpico. O programa tem quatro anos e é uma coisa mais elaborada e, portanto, a nível de formação e de treino e possibilidade de ajudar futuros atletas no CT ou com boas prestações no QS, as verbas podem ajudar bastante.

 

 

 

"Estou curioso para ver como vai correr e o que vai acontecer!"

 

 

 

Surftotal: Como vê a prestação da seleção que orientas em El Salvador e quantos atletas acredita que se poderão qualificar para os Jogos Olímpicos?

José Braga: Acho que não tenho nenhuma pressão, nem nenhuma condicionante ou objetivo de qualificar alguém, porque este foi um processo que começou o ano passado e foi abortado por causa da pandemia e este ano foi tudo decidido muito rapidamente. Aconteceu o campeonato britânico e contactaram-me logo de seguida e foi muito em cima da hora. Conheço muito pouco a equipa e tenho tido muito trabalho em Portugal. Tenho estado com muito pouco tempo, mas vou pedir alguns vídeos para analisar e ficar a conhecer um bocadinho melhor os atletas. O que tenho mais conhecimento é o Luke Dillon porque já fez várias seleções e já teve várias vezes em Portugal. Já tive reuniões com a equipa de trabalho e o objetivo é trabalhar para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. É um trabalho a três anos com esse objetivo. As qualificações talvez serão difíceis, mas vamos ver. 

 

 

 

 

Surftotal: Jogos Olímpicos de Surf versus World Championship Tour, qual destes dois um atleta terá mais chances de vingar e se tornar profissional de surf?

José Braga: Os Jogos Olímpicos são de quatro em quatro anos e uma boa prestação pode abrir muitas portas. Tanto os Jogos Olímpicos como o CT exigem qualificação, não há entradas diretas. Neste momento talvez seja mais difícil ser qualificado para os Jogos Olímpicos, porque as quotas de qualificação por região são limitadas (e no CT não), se bem que nos Jogos Olímpicos o sistema é de double elimination e uma pessoa não tão cotada pode surpreender e vencer também. Com todos os atletas em prova, acho que é um pouco difícil. Hoje em dia, por mais que um atleta surpreenda, temos reunidos os melhores do mundo e isso dificulta bastante as coisa. Se vai ou não ser uma competição do CT, isso não sei. O CT tem a sua competição e aos Jogos Olímpicos vão os melhores atletas, mas se forem os do CT acaba por ser parecido. Nos ISA, as equipas passaram a levar os atletas de topo e este era um campeonato para aqueles atletas de segundo e terceiro escalão que tinham uma oportunidade para se tornarem profissionais. Agora isso perde-se um bocadinho, porque, por vezes, estes atletas só estão presentes na indisponibilidade dos do CT.

 

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