PINGA: "BOAS PESSOAS E BONS HOMENS VIRAM BONS ATLETAS"

A SurfTotal falou com o treinador de Jadson André, Miguel Pupo e Italo Ferreira.

 

Chama-se Luiz Henrique Saboia de Campos. Mas toda a gente o conhece como “Pinga”. Nasceu em São Paulo e o surf para ele surgiu em 1974 quando morava na ilha de Santo Amaro, Guarujá. Além do surf praticou outros desportos a nível competitivo, como vela, luta e rugby. Estudou Direito mas trocou o tribunal pela praia, formando a sua primeira equipa nos anos 80. Atualmente treina Jadson André, Miguel Pupo, Italo Ferreira, Matheus Navarro e mais algumas jovens promessas do surf brasileiro. A SurfTotal esteve à conversa com o treinador.

 

Há quanto tempo já trabalha com o Jadson?

Já fazem uns 12 para 13 anos.

 

O Jadson alcançou há poucos dias a segunda vitória consecutiva no Cascais Billabong Pro. O que mudou nele desde o ano passado?

O ano passsdo era diferente. Vínhamos de um ano ruim, em 2012, em que as coisas não deram certo, ele se machucou duas vezes. Então no ano passado tivemos de fazer um trabalho em que nos preocupávamos muito com pontos, e decidir logo a qualificação dele. Foi um trabalho muito mais focado nas etapas do Prime. Já viemos para cá sabendo que se ele fizesse um nono lugar se qualificava para o WT. E assim que chegou nas oitavas, pensámos “Agora é para ganhar o campeonato. Bateria a bateria. Com muita atenção no mar”. Quando vi que as chances eram grandes foi num dia de layday em que só ele estava treinando lá em Carcavelos. Era um factor positivo, ele estava tendo afinidade com o mar, com o lugar. Na final do ano passado sabia onde se posicionar, sabíamos onde rolava o tubo. Os outros adversários foram percebendo isso ao longo da bateria. Este ano, o que noto é que está mais maduro. O WT te puxa muito. O nível de treino, de concentração. Vimos buscando amadurecer ele como atleta. Esse ano chegamos com mais pontos, com uma situação mais leve. Temos de trabalhar muito ainda para ele chegar no ápice dele como atleta. Esse campeonato e o da França... sinto que estamos treinando no caminho certo.

 

Esta vitória em Cascais faz com que esteja mais confiante em Peniche?

Esse é um ponto super importante. Mas a confiança pode ser perigosa. Não podemos confundir confiança com arrogância e acreditar que as coisas vão ser mais fáceis. Eu busco muito trabalhar a auto-estima. Ele está com a auto estima boa e forte que vai ajudar na busca de um bom resultado.

 

Como é que o Jadson é enquanto atleta?

É um cara que sabe da importância de fazer as coisas fora da água. O atleta tem de ter a noção que é importante fazer treinamento físico, que é importante entender de prancha, que tem de abdicar de algumas coisas. Tem de pensar “Hoje vai ter festinha mas amanhã vou competir de manhã.” É importante ele saber que vai deixar de ir numa festa mas tem algo a conquistar. E ele sabe disso. O atleta de desporto individual normalmente tem uma forte personalidade. E se você souber fazer com que ele veja o que é importante, quais as prioridades, é tranquilo. Ele treina a parte física super bem, não foge de treinos. O mais importante é buscar a auto estima e procurar a maturidade. Ele sabe que está passando um bom momento, mas que não é o melhor.

 

Em que é que a fé o influencia na água?

Ele é um cara normal, não tem uma relação fanática com Deus. A fé, todas as pessoas têm de ter. É uma coisa da cultura do latino. Agente vem de um país cristão. Apesar de que tem muito evangélico no Brasil. Agente costuma rezar e se benzer, de manha ou à noite, cada um tem seu ritual mas ele não tem fanatismo. Porque você sabe que não pode deixar tudo na mão de deus.

 

Você também trabalha com o Italo que fez um bom resultado em Cascais e ainda venceu a Expression Session.

Sim, ele foi super bem, ficou meio frustrado porque acreditava que podia ir melhor. Mas ele é super novo. Está no tour pelo primeiro ano. Esse foi o segundo prime dele. Ele está entre o 10º e 12º lugar e tem dois resultados super baixos para trocar. É um garoto forte e muito habilidoso. Tem muita manobra no repertório. É um garoto que vai para cima. Não se intimida com nomes.

 

Nem com o corte na mão.

Nem isso. É um cara de muita atitude. Para aqui foi muito bem, ainda ganhou a Expression Session. Aqui o mais importante foi que ninguém conhecia ele, e agora já conhecem. No Brasil ele é super conhecido. Ele é muito novo ainda. Tem muito que aprender, muita experiência para tomar. Vai perder muito por erros bestas como aqui. Mas temos que trabalhar sempre. O mais importante é fazer que eles virem boas pessoas e bons homens. Que boas pessoas e bons homens virem bons atletas.

 

Patrícia Tadeia

 

 

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