"Não está a ser respeitado o bom senso" Tribo do Sol terça-feira, 16 junho 2015 11:36

"Não está a ser respeitado o bom senso"

Rui Félix,  ex dirigente do Surf Aveirense, aborda a polémica interdição ao surf nas praias de Aveiro. Implicações imediatas passam por repercussões negativas no turismo local, e até, em última análise, a ausência de surfistas pode levar a mais afogamentos.




A Surftotal colocou algumas questões a Rui Félix,  Diretor Técnico da Federação Europeia de Surf, sobre a polémica medida que foi implementada numa vasta área costeira, que limita de forma quase total a prática de surf em diferentes praias. A indignação cresce para surfistas e comerciantes locais, por tudo o que o surf representa para a região.



A EXTENSÃO DE COSTA AFETADA POR ESTA MEDIDA

 

"O que o comandante nos informou é que isto tem a ver com o POOC e a extensão é entre Ovar e a Marinha Grande (cerca de 140km), onde existem várias capitanias. Não tenho informação de mais capitanias estarem a aplicar esta lei. O capitão diz que foi a Agência do Ambiente que o “obrigou” a aplicar esta lei nas zonas concessionadas. Estamos a falar da Praia da Barra, da Costa Nova, Vagueira e até a zona de Mira. Mas a Praia da Barra é toda zona concessionada, tirando uma pequena área ao pé dos Três Picos. Na prática pode-se surfar numa zona de cerca de 200 metros… entre o paredão da Barra e a Costa Nova, onde nem sempre há surf."

 

BANHISTAS FAZEM QUEIXA DOS SURFISTAS À CAPITANIA?


Rui Félix procurou junto do Capitão Luciano Joaquim dos Santos Oliveira, encontrar um entendimento. "Uma das coisas que questionei o comandante na tentativa de procurar uma solução, foi dizer-lhe que estava indignado, e que há dezenas de anos que existe surf em Aveiro e este problema nunca se colocou; que se estava a basear numa lei de 2000 que eu não entendo porque só agora está a ser aplicada, mas vamos tentar arranjar uma solução. O comandante disse-me que também houve muitos banhistas a fazer queixas dos surfistas, o que acho estranho. Na prática, e falando da Barra e da Costa Nova, está tudo proibido de surfar, tirando aquela pequena zona ao pé dos Três Picos.

 

SURFISTAS SALVAM MUITAS VIDAS ANUALMENTE.

O risco de uma medida deste género é também o de desequilibrar o ecossistema criado nas Praias daquela região. Todos os anos os praticantes de Surf são confrontados com situações de banhistas em pleno afogamento e devido à presença dos primeiros no local, estes acabam por evitar dezenas, senão centenas de tragédias, anualmente. Existem, aliás, vários testemunhos nas redes sociais, até de frequentadores da praia que não praticam surf, que afirma sentirem-se mais seguros com a presença das pranchas dentro de água. Esta interação já foi, aliás, bem patente em colaborações não muito distantes, como relembra a página da Tribo do Sol no facebook: "Talvez muitos não saibam, ou outros não se lembrem, mas já houve um tempo em que todos trabalhavam em cooperação para garantir que a nossa praia tivesse todas as condições de segurança para banhistas e surfistas. Iniciativa pioneira no país, em 2003, organizada pela Associação Surf Aveiro, com o apoio da Câmara Municipal de Ílhavo , Tribo do Sol, esplanada Off-Shore, etc, e em colaboração com os Nadadores Salvadores locais e a Capitania do Porto de Aveiro. Os veraneantes dispunham de informação diária, à entrada da praia, sobre condições do mar, zonas aconselhadas para banho, correntes, marés, conselhos de segurança e contatos úteis. A iniciativa estendeu-se também a São Jacinto, onde uma placa como esta esteve na entrada da praia durante 5 anos."



O IMPACTO NA COMUNIDADE DE SURF LOCAL


Estamos a falar de quantas escolas a operar na área?

"Umas quatro ou cinco escolas… o comandante, na sua ‘boa vontade’, até permite que se realizem alguns campeonatos e que as escolas operem dentro de algumas zonas concessionadas. Mas para que é que as escolas vão operar e fazer campeonatos? Estamos a promover a modalidade, mas depois as pessoas não podem praticar? Uma escola vai ensinar um miúdo a surfar, e depois o miúdo sai da escola e não pode ir surfar? Ainda hoje estavam uns turistas ali na Barra, e foram confrontados com a situação de não poder entrar para a água e questionaram para onde podiam ir? para Peniche ou para a Ericeira… Promove-se o turismo através do surf e depois criam-se estas situações. A Associação está a tentar marcar uma reunião com a Agência do Ambiente, só que entretanto isto entrou em vigor. Ontem de manhã a Polícia Marítima esteve na praia a impedir que as pessoas entrassem na água, gerou-se até um mau ambiente.


Qual a estimativa dos surfistas residentes na área?

"Pelo menos uns 500, À vontade. Fora as pessoas que estão ligadas ao Erasmus das zonas universitárias. Custa-me entender que ele (o capitão) diga que é a Agência do Ambiente que está a obrigá-lo a cumprir a lei. E baseia-se no POOC, tanto quanto eu sei o plano vai até à maior maré cheia. Portanto não entra dentro de água… Há aqui muitas coisas mal explicadas. É claro que isto está a criar um clima de indignação e as coisas podem tomar proporções muito grandes, e mesmo o pessoal do comércio local começa a ficar revoltado porque isto é uma zona de muitos turistas, muito pelo surf. Parece-me que não está a ser respeitado o bom senso."

 

TURISMO PERDE

As Praias de toda a zona de Aveiro têm vindo a ser cada vez mais procuradas para o turismo de surf, quer seja por parte de surfistas estrangeiros, quer seja de portugueses, principalmente nesta altura do ano. Ora com esta medida haverá um impacto certamente negativo na economia local de Oceano - que tal como sabemos funciona principalmente nesta altura do ano.

 

 

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