Reduzir a pegada humana é o grande objetivo. Reduzir a pegada humana é o grande objetivo. Foto: DR sexta-feira, 04 novembro 2016 16:57

ENTRA HOJE EM VIGOR O ACORDO DO CLIMA APROVADO EM PARIS

Acordo aprovado há menos de um ano, por 195 países, entrou esta sexta-feira em vigor… 

 

De mansinho, o acordo do clima do COP21, aprovado há menos de um ano em Paris por 195 países, entrou em vigor esta sexta-feira, 4 de novembro de 2016. É o primeiro acordo verdadeiramente global para tentar deter as alterações climáticas e a sua aplicação vai começar a ser debatida em Marraquexe, na COP22, dentro de três dias, entre dias 7 e 18 de novembro.

 

Para entrar em vigor, o acordo tinha de ser ratificado por 55 países representando pelo menos 55 por cento das emissões de gases de efeito de estufa. Acabou por ser tudo mais rápido do que os prognósticos mais otimistas, o que parece um bom sinal: as metas foram alcançadas em outubro e 92 dos 192 países que o assinaram também já o ratificaram.

 

"Esta entrada em vigor rápida é um sinal político claro sobre o facto de que todos os países do mundo estão comprometidos numa ação global decisiva contra as alterações do clima" regozijaram-se, em comunicado, Patrícia Espinosa, responsável da ONU pelo clima, e Salahedine Mezouar, ministro marroquino dos Negócios Estrangeiros e presidente da COP22. 

 

Esta noite, a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo e os cais do Sena, em Paris, serão iluminados de verde, em celebração. O mesmo irá suceder a monumentos em vários lugares do mundo, incluindo Marraquexe, Nova Deli, São Paulo e Adelaide.

 

"Um dia histórico para o planeta", saudou o Presidente da República francesa.

 

Em Portugal, a associação ambientalista Zero tem ações em 12 locais para assinalar a entrada em vigor do acordo.

 

Esforço financeiro

"A curto prazo, e certamente nos próximos 15 anos - devemos ver reduções sem precedentes de emissões e esforços ímpares para construir sociedades que possam resistir às alterações climáticas", preveniram sexta-feira Patrícia Espinosa e Salahedine Mezouar. 

 

"Quando o mundo se encontrar em Marraquexe, teremos de recuperar o sentido de urgência que tínhamos há um ano", apelou em comunicado Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial, pois "a cada dia que passa, o desafio mundial aumenta".

 

O problema dos financiamentos para a aplicação do acordo estará assim no centro dos debates do COP22, balizado pela promessa de 100 mil milhões de dólares até 2020 aos países em desenvolvimento e pela necessidade, bem mais premente, de tornar a finança mundial mais 'verde'.

 

Todos concordam que, só uma reorientação dos fluxos financeiros mundiais para atividades de "baixo carbono" (com baixas ou zero emissões de CO2) poderá garantir um desenvolvimento 'limpo' dos países. Um esforço que exigiria, em números da ONU, entre 5 e 7 mil milhões de dólares anualmente.

 

Embora não sejam de esperar novos compromissos, será realmente agora em Marraquexe que se irá avaliar a disponibilidade dos signatários do acordo de Paris para o cumprir.

 

A responsabilidade de cada um

Certo é que as alterações comportamentais de cada pessoa são igualmente essenciais, até para exigir novas soluções políticas e industriais. 

 

Um estudo publicado quinta-feira na revista Science procura sensibilizar precisamente o público para a responsabilidade individual no aquecimento global. Afirma, logo no título, que uma família normal de quatro pessoas nos EUA destrói em cada 30 anos um manto de gelo polar de quase 200 metros quadrados - o equivalente a um campo de futebol americano. 

 

Na comparação entre nações, em média, cada individuo nos EUA é responsável pela destruição anual de 10 vezes mais gelo do que um cidadão da Índia. 

 

"As alterações climáticas são muitas vezes vistas como uma noção abstrata e o nosso estudo permite mudar esta perceção", diz Julienne Stroeve do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo no Colorado, EUA e professora de Glaciologia na Universidade de Londres.

 

Para dar uma ideia do impacto do CO2, calcula-se que, por cada tonelada métrica de dióxido de carbono enviada para a atmosfera, o aumento de temperatura daí resultante faça derreter três metros quadrados de gelo ártico no verão. 

 

Dito de outra maneira: uma tonelada de CO2 (dióxido de carbono) representa o voo de um passageiro entre Nova Iorque e um qualquer destino europeu, ou 4.000 quilómetros de viagens de carro, afirma Dirk Notz, um climatólogo do Instituto Max Planck da Metereologia de Hamburgo, Alemanha, um dos co-autores do estudo.

 

Sem gelo no verão

O estudo tenta ainda corrigir os modelos climáticos atuais que apontam para um degelo em menor escala.

 

Este ano, a extensão dos gelos no oceano Ártico atingiu mínimos anuais de 4,14 milhões de metros quadrados, a segunda superfície menos densa desde o início das observações de satélite em 1979 e muito próxima do recorde de 2007. 

 

O recuo célere do manto ártico é aliás um dos indicadores mais diretos do aquecimento do planeta, apontam os analistas.

 

Em 40 anos, os mantos polares reduziram-se para metade durante o verão e poderão vir a desaparecer totalmente nesta estação até 2045. 

 

Isto terá consequências dramáticas, não só para os ursos polares, por exemplo (que necessitam de placas de gelo para se alimentarem e que sem elas morrerão de fome ou de exaustão por nadar sem possibilidade de repouso), mas também para as comunidades ribeirinhas - devido ao aumento do nível dos mares.

 

As alterações da temperatura das águas e da atmosfera também deverão implicar tempestades mais violentas e em maior número, referem vários estudos.

 

Os autores sobre a aplicação prática dos nossos hábitos sociais no clima determinam ainda que limitar a 2 graus celsius a subida de temperatura media do planeta, em relação à era pré-industrial, não é suficiente para permitir aos gelos árticos permanecer no verão.

 

Um tal aquecimento corresponderia a mais de mil milhões de toneladas de emissões de CO2 até 2100, afirmam. O aumento teria de ser, no máximo, 1,5 por cento, como previsto no acordo da COP21 em Paris.

 

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Fonte: RTP

 

 

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