Michael Peterson e o “cutback” que abriu novos rumos para o surf Michael Peterson e o “cutback” que abriu novos rumos para o surf quarta-feira, 03 novembro 2021 17:52

Morning of the Earth, um belo filme de surf

Diz-se frequentemente que há três filmes de surf que definiram a essência da cultura e estilo de vida surfista

 

*Por Pedro Quadros

 

“Tudo o que sabia é que queria capturar

 

o espírito do surf e a beleza deste.

 

Era apenas fazer um belo filme” – Albie Falzon..."

 

 

 

 

Um belo filme de surf

 

Diz-se frequentemente que há três filmes de surf que definiram a essência da cultura e estilo de vida surfista nos moldes que ainda hoje seguimos : Endless Summer, de 1966; Morning of the Earth, de 1972, e Free Ride, de 1977.

O primeiro apresentou o surf ao grande público, na sua dimensão de prazer e descontracção, pelo humor e  pelo exótico das viagens de dois surfistas, Myke Hynson e Robert August, por África, Europa e Hawaii. O terceiro retrata a consolidação do profissionalismo  graças aos sucessos competitivos da geração “Bustin’ Down the Door” (Shaun Tomson, Mark Richards, Wayne “Rabbit” Bartholomew, entre outros) no Hawaii.

 

Essencial para a construção da mitologia à volta do estilo de vida associado ao “soul surfing”

Já o segundo, Morning of the Earth, que se pode considerar que dos três será o mais complexo, é essencial para a construção da mitologia à volta do estilo de vida associado ao “soul surfing”, a abordagem ao surf mais ligada à natureza, ao fascínio pelas ondas, ao encantamento do acto de andar nelas.

Filme australiano, dirigido e fotografado por Albert “Albie” Falzon e produzido por David Elfick, ambos co-fundadores da revista Tracks, que ainda hoje é publicada, e que na altura era a grande promotora do surf como elemento de  contra-cultura. Uma contra-cultura não adversária, mas alternativa à cultura dominante na sociedade, em que os surfistas retiravam-se para o campo, cultivavam a própria comida, “shapeavam” à mão as suas pranchas. O grande modelo é Nat Young, campeão mundial de surf em 1966, que se afasta da competição para ir viver para uma quinta.

Um aspecto da contra-cultura da altura que o filme também retrata é o consumo de drogas, bem evidente no último segmento do filme, sobre o Hawaii.

Outro aspecto fundamental do filme são as viagens, que na altura, entre 1970 e 72, eram verdadeiras aventuras. A procura por novos espaços abertos, por praias vazias, levam os surfistas até à Indonésia. As primeiras imagens de surf em Uluwatu são as de Stephen Cooney, então com 14 anos, e Rusty Miller, a caminhar pelo recife até à ponta do pico.

 

 

A primeira sessão em Uluwatu

 

"Filme que captura o espírito e a sensação  do que é ser surfista, e provavelmente tem sido o seu apelo duradouro"

Sendo um filme de surf, a componente de aprimoramento técnico está bem presente, de tal modo que durante muito tempo o desempenho do Michael Peterson (o melhor surfista daquela altura) em Kirra, na Austrália, foi considerado como a referência máxima na maestria no surf, ilustrada particularmente no seu “cutback”, que ao longo do tempo se transformou numa das mais imagens mais icónicas do surf, sendo quase sempre utilizada como capa do filme.

Ao longo do filme vai-se sendo impactado com “flash’s” subliminares intermitentes, que simulam a adrenalina do surfista que, segundo Albie Falzon, contribuem para que o filme “capture a essência do surf daquele período, mas mais importante, capture o espírito e a sensação  do que é ser surfista, e provavelmente tem sido o seu apelo duradouro”.

 

 

“Flash” de adrenalina

 

"Tudo o que sabia é que queria capturar o espírito do surf e a beleza deste. Era apenas fazer um belo filme"

Um outro aspecto importante do mito acerca do surf que este filme promove é o de na realidade retratar um período muito curto na história do surf. Como Falzon refere, “aquela inocência simples de apenas surfar, de percorrer a costa com alguns amigos despareceu com a massificação e a aceitação do surf como desporto hoje em dia”. No entanto, permanece uma certa nostalgia de que esta terá sido a “época dourada do surf”.

Para ele, “a razão porque surfavamos na altura é a mesma porque surfamos hoje. O que fiz foi mostrar a pessoas que estavam desligadas do oceano e não tinham a mesma oportunidade do que eu para olhar para esta bela parte do planeta. Tudo o que sabia é que queria capturar o espírito do surf e a beleza deste. Era apenas fazer um belo filme”.

Independentemente de conjecturas mais intelectuais, o que este filme pretende passar portanto  é a sensação de enorme prazer que sentimos quando surfamos, como no refrão de uma canção do filme (a banda sonora merece uma especial atenção, tendo o disco sendo um sucesso de vendas, e ainda hoje uma referência do rock australiano) :

 “Baby, it sure feels good”

 

Nota : No próximo domingo, 7 de Novembro, será exibida no SAL Surf at Lisbon Film Fest a versão comemorativa dos cinquenta anos, remasterizada em 4K.

 

 

 

 

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