Porto da Póvoa de Varzim vai sofrer dragagem em breve. Porto da Póvoa de Varzim vai sofrer dragagem em breve. Foto: DR quarta-feira, 10 janeiro 2018 17:31

1.4 milhões para dragagens no norte levam a paralelismo com Superbank

Medida é boa, mas visa basicamente a navegabilidade e não tanto a reposição sedimentar nas praias… 

 

As barras e portos de Vila do Conde e Póvoa de Varzim vão receber no corrente ano de 2018 um investimento em dragagens no montante de 1,4 milhões de euros inscritos no plano de investimentos da área governativa do Mar, concretizando os compromissos assumidos pela Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.

 

A obra de dragagem da Barra do Rio Ave a executar através da Direção Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) pelo valor de 460 mil euros foi agora consignada, devendo os trabalhos iniciar-se ainda no corrente mês de janeiro com uma duração prevista de 80 dias, dependente das condições do mar.

 

- Esquerda da Azurara a quebrar para o rio. Foto: Surftotal

 

A empreitada tem por objeto a dragagem de 75000 m3 de sedimento, sendo 73000 m3 na Barra, canal e zona de acesso ao estaleiro de Azurara e 2000 m3 no acesso ao salva-vidas repondo condições de navegabilidade e segurança na área portuária de Vila do Conde.

 

No porto da Póvoa de Varzim foi já efetuado no mês de dezembro o levantamento hidrográfico de toda a área interior do porto e zona de aproximação, estando agora a ser elaborado o projeto de intervenção.

 

A abertura do procedimento concursal a desencadear pela DGRM está previsto para o mês de fevereiro, com uma estimativa de custo total de 922.500 mil euros. Prevê-se que na Póvoa de Varzim a intervenção da dragagem se inicie em meados do mês de abril deste ano.

 

- Devido ao assoreamento do porto, a praia da Azurara tem contado com boas ondas. Foto: Nuno Nogueira

 

>> LIVE CAM AZURARA

 

Miguel Figueira, da SOS Cabedelo, que já tem uma certa experiência nestes assuntos, fez o favor de nos deixar o seu depoimento. “Não conheço o projeto de uma ponta à outra, mas, em principio, essas dragagens visam sobretudo a navegabilidade da Barra e não tanto a reposiçao a nível sedimentar. Para a economia e para o Governo, os portos são muito importantes, mas são eles os responsáveis pelo bloqueio de areia em praticamente toda a costa. É lógico que não se vão deitar abaixo, mas a engenharia devia ajudar a resolver o problema ou como contornar a situação. Isto leva-nos ao “bypass", a alternativa para a reposição de areias que é filosofia global”, começou por dizer o responsável da ONG.  

 

“Devido à importância dos portos, as dragagens são recorrentes nos rios. Isso é bom, é um trabalho bem feito, mas é insuficiente para o problema existente em algumas das nossas praias. O problema é que estas transferências de areias não são levadas a sério e existe sempre um défice sedimentar. Para compensar esta falta opta-se por colocar pedra uma vez que a estratégia inicial parece não funcionar. Ora, a longo prazo a colocação de pedras é insustentável, pois o impacto das estruturas fixas é mais agressivo para o ambiente. A areia, por sua vez, é mais resiliente, sendo mesmo a única e mais indicada via. No caso da Figueira da Foz, por exemplo, é bem feito cada vez que limpam a Barra e depositam as areias a sul, mas acaba por ser insuficiente. A percentagem é ínfima face à necessidade da transferência de mais areia”, explicou. 

 

Sobre o problema da reposição sedimentar junto à costa, Miguel Figueira esclareceu ainda que “Falta areia de deriva. As ripagens de areia na zona da rebentação que Agência Portuguesa do Ambiente empreende agravam, ainda mais, o problema - tiramos areia ao mar e enfraquecemos o sistema. Todos os anos se fazem dragagens no Porto da Figueira, não obstante nas praias a sul as ripagens continuam… e a duna está a desaparecer. A forma como estão a trabalhar não é a mais acertada. O Governo devia ter isto em atenção. Na Figueira, as transferências anuais rondam 1 milhão de m3, equivalente a um investimento de 4 milhões de euros. Isto é uma coisa que tem que se acreditar e investir muito para funcionar, mas é a única opção sustentável de proteção costeira. Uma praia submersa de boa saúde ajuda a proteger a costa uma vez que a energia se vai dissipando no mar. Ter muita areia no mar é bom para o surf”. 

 

 

O PARALELISMO COM O SUPERBANK

O Superbank da Gold Coast (Coolangatta, Austrália), composto pelas ondas de Snapper Rocks, Greenmount, Little Marley e Kirra, foi criado em 2001 graças à implementação de um “bypass” no rio Tweed. Na altura, a câmara local contratou uma empresa para dragar e bombear as areias depositadas da foz do rio de forma a garantir a navegação em todos os momentos. Ninguém antecipou o que estava para nascer - de um momento para o outro tubos de 20 segundos passaram a ser o prato do dia e em pouco tempo houve quem fizesse uma onda de Snapper até Kirra!

 

Antes era Burleigh Heads, mais acima na costa, que conquistava todas as atenções dos melhores surfistas da região, mas com o novo Superbank não tardou que este passasse a ser o centro do surf na Gold Coast - gerando 20 milhões de dólares todos os anos para a economia local. 

 

De acordo com Miguel Figueira, da SOS Cabedelo, o paralelismo com algumas situações em Portugal faz sentido, mais especificamente até com a Figueira da Foz e o rio Mondego. “O Superbank é pertinente nesta análise porque tem um sistema de “bypass” e os rios apresentam praticamente a mesma largura. Nós já estivemos por lá, para ver como funcionava, e de um dia para o outro, com o mesmo swell, passou a haver ondas, simplesmente porque se bombeou areia. É uma máquina de fazer ondas! Eles bombeiam de noite, porque sai mais barato em termos energéticos, e de um dia para o outro resolve-se o problema”. 

 

AF

 

--

>> Segue-nos no Facebook & Instagram <<

 

Itens relacionados

Perfil em destaque

Scroll To Top