SARGACEIROS JANGADEIROS DE TRADIÇÃO PORTUGUESA: OS 'AVÓS' DO SUP?

Centro de Estudos do Mar conta-nos a história desta tradição


A apanha de de sargaço por jangadeiros, arte muito antiga de pesca, é uma espécie de antepassado longínquo do que hoje conhecemos como SUP, Stand Up Paddle. O Centro de Estudos do Mar (CEMAR), explica esta tradição, e de que forma podemos estabelecer esse paralelismo com a modalidade que hoje todos conhecem. 

 

Nas imagens abaixo assim como na foto galeria acima, podemos observar, de acordo com a Dra. Ana Filipa Osório, autora especialista da História da Arte Contemporânea portuguesa, "a mui tradicional e curiosa (e já extinta?) apanha de sargaço por jangadeiros, nas praias de Viana do Castelo e Póvoa de Varzim. As fotografias todas a preto e branco foram recolhidas em campanhas etnográficas nos anos 50 e 60, pelo grande etnólogo português, Ernesto Veiga de Oliveira que as utilizou para ilustrar o seu trabalho «Actividades agro-marítimas em Portugal» (Lisboa, Instituto de Alta Cultura, 1975)."

 

O sargaço era o nome dado aos grandes rolos de algas de várias espécies que davam à costa em certas épocas do ano e que eram apanhadas pelos lavradores abastados ou por jornaleiros - os Sargaceiros - que as vendiam para serem usadas na fertilização das terras (depois de secas). A apanha de sargaço é documentada desde os séculos XV-XVI na costa norte de Portugal e também no Algarve, como atividade regulamentada, «pré-industrial», complementar da agricultura, em zonas litorais, como é demonstrado no estudo do Veiga de Oliveira.

 

As jangadas dos sargaceiros eram muito primitivas: feitas de troncos de madeira seca e atada ou de madeira e cortiça - um material a reinventar para as pranchas de surf e Stand Up Paddle – SUP. Bem mais largas e quadradas do que as atuais pranchas de lazer, podiam transportar até quatro sargaceiros que se deslocavam com auxílio de varas (estas serviam também para colher e içar o sargaço). 

Eram levadas até à linha de água em braços, ou em carros de rodas muito toscos, ou para os mais ricos, em carros de bois. Outra curiosidade é o caráter misto da atividade; vemos homens e mulheres, juntos ou separados, colaborando na apanha do dito sargaço.

 

A Dra. Ana Filipa Osório termina com esta mensagem: "divirtam-se com esta viagem às origens do SUP. Já falei ao Manuel Román, o sargaceiro-mor da nova geração pós-industrial, do interesse em preparar qualquer coisa para acrescentar ao texto da Wikipédia que só fala de americanos e havaianos... temos agora matéria para inscrever os sargaceiros portugueses na história do SUP."



Fonte da CEMAR acrescenta uma perspetiva interessante sobre esta matéria: "Que a "Arte", a pesca de cerco e alar para terra em litorais baixos e arenosos, com "Barcos-da-Arte", em forma de meia-lua (a "Arte" da Beira Litoral, actualmente designada legalmente como "Arte-Xávega"), é uma forma de SURF… - e que, por isso, os Pescadores Portugueses da "Arte" são, tecnicamente surfistas, isso já nós sabíamos, e já tem sido amplamente dito, repetido, demonstrado, divulgado e estudado (na verdade, temos sido nós próprios, pela parte do CEMAR-Centro de Estudos do Mar, que o temos andado a tentar dizer, repetir, demonstrar, divulgar e estudar, desde há dezassete anos) - agora, esta novidade, que agora aqui aprendemos nesta mensagem que recebemos [a mensagem acima transcrita, da Dra. Ana Filipa Osório], é que nos traz algo de novo, quando nos mostra que algo de muito parecido e de muito paralelo (entre o local e o mundial… entre o antigo e o moderno…) acontecia com a antiga actividade marítima, popular e pré-industrial, portuguesa, da apanha do sargaço, em jangadas, de pé, (caminhando, sobre as águas, como o espírito, à sua própria maneira, a actividade dos Jangadeiros Sargaceiros portugueses, que é, tecnicamente, uma forma pioneira e precursora do (agora) moderno SUP - Stand Up Paddle … O desporto de lazer que, actualmente, pelo mundo fora, nas praias e águas mais "in", faz as delícias das novas gerações urbanas, modernas, turísticas, etc…. (desde Monte Carlo até ao Dubai e à Gold Coast australiana…)."


As imagens foram recolhidas em campanhas etnográficas nos anos 50 e 60, pelo etnólogo português, Ernesto Veiga de Oliveira que as utilizou para ilustrar o seu trabalho «Actividades agro-marítimas em Portugal» (Lisboa, Instituto de Alta Cultura, 1975).

 

 

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