UM RELATO SOBRE AS FILIPINAS, POR MIGUEL VETERANO

Miguel Veterano encontrava-se nas Filipinas na altura do grande tufão. Conta tudo à Surftotal.

 

Algarvio de raíz, surfista de alma e coração, ex-competidor. Miguel Veterano é hoje em dia profissional da fotografia e encontrava-se nas Filipinas na altura do tufão que provocou uma onda de devastação. A SurfTotal esteve à conversa com Miguel que nos contou tudo.

 

 

Conta-nos como chegaste aí? Como começou esta jornada?
É verdade, ultimamente tenho repartido o meu tempo entre Portugal e as Filipinas. Tudo aconteceu depois de um grande amigo meu ter começado a trabalhar nas Filipinas. Então, vim visitá-lo para fazer surf e descobrir mais das Filipinas para além do óbvio, quando se fala de surf nas Filipinas, cloud9.

 
O que andas a fazer por essas bandas?
De momento e desde que comecei a passar mais tempo nas Filipinas tenho vindo a fotografar histórias sociais, histórias reais de vida, algumas mais felizes que outras. A última que fiz foi de filipinos que vivem dentro de cemitérios.
Depois tento vender pelas agências de notícias onde estou inscrito e uma delas portuguesa, a 4see photographers.

Onde estavas quando começou o tufão?
Nesse dia, felizmente estava relativamente longe do olho do tufão, onde estou, apenas se fez sentir com ventos fortes e chuva, mas nada de mais. Nem houve estragos ou qualquer outro tipo de problema.

 

Sentiste muito o fenómeno? Qual o aspecto? Tiveste que te proteger?
Antes da chegada, como é sempre imprevisível a sua passagem, fiz alguns preparativos, como comprar comida extra, lanternas, água e tive de permanecer em casa como precaução. Mas já experienciei outro tufão não tão forte, mas deu para sentir e ter uma ideia de como foi nas zonas mais atingidas!!! Visibilidade zero, detritos a voar por todo o lado, parece uma parede de chuva, vento e detritos.



Como ficou a região?
Sim, estou na zona do tufão e ocorrem-me poucas palavras para descrever toda a destruição, vim para cá para registrar em fotografia e vídeo para uma agência de notícias australiana. Para além das fotos, juntamente com alguns amigos filipinos, reuni mantimentos para distribuir pelas populações. A única coisa que me ocorre é que parece que foi largada uma bomba atómica em que não ficou pedra sobre pedra.


E agora? Sabemos que estas numa zona onde o tufão teve um impacto incrível! Conta-nos o cenário!
Simplesmente impressionante, estive em pequenas ilhas com 15, 20 casas onde não houve vítimas o que me deixou espantado porque as ilhas ficaram completamente arrasadas sem sequer uma árvore intacta. Uma imagem desoladora e triste.


Há muita ajuda humanitária?
Nas notícias que passam para o exterior só se fala numa cidade chamada Tagloban, onde o cenário é deveras mau e preocupante porque infelizmente a política veio primeiro do que a importância de ajudar as pessoas. Felizmente em outras regiões o poder local conseguiu organizar-se para poder levar alimentos e água às populações. Eu estive numa dessas regiões em que pelo menos alimentos e água estão a ser providenciados por privados, doações anónimas e empresas. E pelo menos essa parte está ser providenciada, agora as pessoas estão a precisar de doações para poderem refazer as suas casas, reconstruir barcos para poderem voltar à pesca que, na grande maioria, é a sua única fonte de rendimento, geradores, vestuário. Para terem uma ideia, a reposição de eletricidade pode levar 6 meses ou até mais. Infelizmente existe muita ajuda humanitária que não consegue chegar a todos e a grande maioria está a chegar apenas em Tagloban, mas existem muito mais sítios a precisar de ajuda.


E ondas no meio dessa realidade?
As ondas, apesar da devastação, continuam a rolar perfeitas e sozinhas, estou convencido que grande parte das ondas nas Filipinas são pouco exploradas ou até mesmo ainda por descobrir, talvez também pelos difíceis acessos.

 

Tens surfado?
Sim, tenho surfado. Aliás antes e depois do tufão estiveram ondas incríveis. O potencial de ondas é enorme, quando se fala de surf nas Filipinas, na maioria das vezes só se fala de cloud9, mas como essa onda há muitas mais, a rolar sozinhas à espera de alguém para surfar.

 

Queres deixar alguma mensagem?
Quero pedir aos portugueses e mais concretamente ao pessoal da surfada se puderem ajudar o povo filipino. Apesar das notícias que passam para exterior não serem as mais positivas,  não posso deixar de dizer que nunca conheci um povo tão amável, simpático, acolhedor, feliz, apesar de viverem com um governo corrupto e que nada faz pelo seu povo. Eles próprios, com o pouco que lhes resta, em muitos casos nada mais que a sua dignidade, tentam reconstruir as suas casas e a sua vida.

  • Créditos fotos: Miguel Veterano

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