QUILHAS EM PLÁSTICO... SIM, COM CERTEZA!

Entrevista com o criador da Marlin Fins, José Caiado.

 

 

A Marlin Fins é uma marca 100% Portuguesa, que produz o mais variado tipo de quilhas e foi criada por José Caiado. A sua experiência com polímeros - mais de 30 anos a trabalhar com este material -, resultou no desenvolvimento de um material, a que chamou M-comp, e com o qual fabrica quilhas de alta qualidade e desempenho.A Surftotal esteve à conversa com este empreendedor português para saber mais sobre este excelente projeto.


Surftotal (ST): Com tantos anos de experiência a trabalhar com polímeros, e a desenvolver todo o tipo de objetos, porque apostar em fabricar quilhas?


Marlin Fins(MF): Primeiro e antes de tudo, para mim o melhor lugar da Terra é o Mar. Depois, há uns três anos e tal atrás, na loja da nossa parceira de projeto, a Peniche Surf Shop, olhei de maneira diferente para aquela forma que me era familiar “a quilha”. Olhei para os custos exagerados, para as técnicas, os materiais ali presentes, a pegada ecológica e para um mercado em franca expansão, mas onde Portugal e mesmo toda a Europa têm uma presença pouco mais que residual. Respondendo positivamente a estes e outros requisitos, aliado ao facto de termos à nossa disposição e gratuitamente o melhor laboratório de testes que se pode ter, as ondas de Peniche… muito naturalmente surgiu a questão… e porque não?

Depois, foi dar espinha dorsal ao projeto que se pode resumir em três ideias base:
1ª - eleger os polímeros (vulgo plásticos) como matéria prima de eleição da produção;
2ª - só trabalhar com materiais passiveis de reciclagem e reutilização.
3ª - ser um projeto português, quer dizer desenvolver e produzir (incluindo o autocolante) tudo em Portugal.



ST: A Marlin Fins é “fundamentalista”, isto é, só utiliza polímeros (que correntemente chamamos plástico) na fabricação das quilhas. Porquê a aposta neste material, quando existem tantos outros disponíveis?


(MF): O tema ainda hoje é polémico, a própria palavra tem uma conotação negativa. Nós temos uma opinião diferente, que resulta da simples constatação muito vivida, que sendo o “plástico” pura alquimia molecular, não tem barreiras, não conhece os seus próprios limites e desconhece em absoluto a palavra "impossível".  Depois, é barata, leve, abundante, moldável a baixas temperaturas, totalmente reciclável e cada vez mais biodegradável, enquanto todas as outras matérias vulgarmente usadas na fabricação de quilhas (madeira, fibras, etc.), estão confinadas aos seus próprios limites mecânicos e outros. Uma das características mais importantes numa quilha é a sua resiliência à torção, o nosso modelo Almagreira está aí para desafiar o pré-estabelecido e para confirmar que ano após ano estamos melhor, porque a evolução dos chamados “polímeros técnicos” não pára.



ST: Sabemos que o plástico é reciclável na sua totalidade, ou seja, uma quilha Marlin Fins, quando se estraga pode ir para o “contentor amarelo” para ser reciclada. Estamos a falar de um produto mais amigo do ambiente?


(MF): Sim, essa é de facto uma das nossas apostas de projeto, porque achamos que estando a opção reciclar disponível, não faz muito sentido produzir seja o que for de maneira diferente. As quilhas de madeira seriam de todas as mais amigas do ambiente. No entanto, estragamos tudo quando as envolvemos em resinas ainda muito tóxicas. Mas, sem estas,  elas tornar-se-iam muito frágeis e partiriam à primeira “rasgada”.
O mesmo se passa com as fibras de vidro, carbono, etc., uma vez estragadas a sua reciclagem é muito difícil e dispendiosa.



ST: O material M-comp utiliza plástico reciclado na sua composição. Não altera a qualidade e desempenho da quilha?

(MF): Não, as perdas de propriedades mecânicas e outras relativamente ao material original são muito pouco significativas, na ordem dos 5%, 6, %, com tendência a diminuir. E isto no caso de reciclarmos a 100%. Já o “Look” sofre danos maiores, pois pode ficar mais baço e menos apelativo. E, por isso, na Marlin desenvolvemos uma técnica, que à falta de melhor informação é única no mundo, de modo a minimizar este efeito e melhorar o aspecto, pelo que estamos a estudar o processo de patenteamento, mau grado os custos proibitivos.  Na nossa série “COLORS”, precisamente devido à introdução do reciclado de modo estudado, cada Kit é único e irrepetível, com um ótimo aspeto e bem original. Costumamos até dizer por graça, que quanto mais lixo levam, mais bonitas ficam.



ST: O futuro é muito promissor em relação à moldagem de polímeros, consequência do desenvolvimento das impressoras 3D. Quais os planos da Marlin para os próximos tempos?

Sim! A impressão 3D já está a revolucionar a produção de objetos em pequena escala, por ex, a Boing  está a produzir em 3D as peças de substituição dos seus aviões. No entanto, a produção em larga escala e a mais baixos custos estará ainda por muitos anos na técnica de “injection molding”. Tenho dito e escrito que num futuro bem próximo o surfista, a sala de shape, a surf shop, etc., produzirão as suas próprias quilhas utilizando a impressão 3D. E, tal como hoje acontece quando recorremos a “bancos de imagens”, amanhã recorreremos a bancos 3D com milhões de objetos prontos a reproduzir. Na Marlin vamos adotar esta tecnologia sobretudo no desenvolvimento do shape. Prevejo que neste campo apareçam proximamente algumas “inovações bem loucas”, mas que terão de passar no teste da água salgada… São bem-vindas todas as inovações, mas não podemos esquecer que a “patente” das quilhas pertence aos peixes… e que elas são produto de milhões de anos de evolução.


A Marlin Fins está na loja da SurfTotal. 

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